Capítulo 6: Agnes

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Continuo separando minhas roupas de verão e as colocando nas duas enormes malas, apesar de estar beirando os oito graus em Buenos Aires, as temperaturas estão altas na Europa

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Continuo separando minhas roupas de verão e as colocando nas duas enormes malas, apesar de estar beirando os oito graus em Buenos Aires, as temperaturas estão altas na Europa. Não terei tempo nas primeiras semanas, então é bom ir preparada. No inverno, quando o frio chegar por lá, eu arrumo roupa adequada para a estação. Meu guarda-roupa mudou bastante nos últimos anos, fui de shorts jeans e t-shirts à vestidos e calças de tecido sofisticado, que são mais adequados para o meu ambiente de trabalho, até mesmo os saltos que eu odiava se tornaram uma peça fundamental para mim.

Pego cinco pares novos de meia calça preta e cor da pele, essas porcarias desfiam o tempo todo, por isso tenho sempre que repor o meu estoque. Desde a cirurgia as minhas cicatrizes na perna esquerda aumentaram, agora além das duas longas linhas retas, tenho vários pontinhos disformes onde os pinos ficaram para sustentar o osso, e ainda algumas outras linhas dentadas que me incomodam. Por isso nos momentos em que não estou com uma roupa que as cubra, recorro à meia-calça.

Quando termino de organizar minhas malas rearranjo o novo espaço no armário para o Nicholas, suas roupas estão sempre sendo trocadas, ele cresce em uma velocidade incrível, imagino que lá pelos onze anos me passe na altura. Pedi para que a minha mãe o levasse para passear pela manhã enquanto eu arrumo as malas, não quero que ele veja e fique com a sensação de que eu estou indo embora em definitivo. Irei levá-lo para ficar comigo assim que cumprir meu objetivo com os Salles e os Albuquerque, mas não sei quando isso irá acontecer, até então, pretendo ficar sozinha em Madrid, e mantê-lo longe daquela família monstruosa.

Não foi uma decisão fácil, ainda mais que tenho tentado a todo custo me aproximar dele, sei que quando eu estiver longe a Sophia irá fortalecer seu vínculo de mãe postiça, mas no final das contas é melhor assim, preciso me curar por completo antes de morarmos juntos, só nós dois.

Encaro as paredes a minha volta e sinto a dor da despedida me atingir, essa é minha casa, o meu quarto, onde tenho vivido as maiores transformações da minha vida, a gravidez, recuperação da cirurgia... as várias horas estudando para me tornar quem eu sou hoje. Tive inúmeras vezes a oportunidade de me mudar nos últimos dois anos, possuo uma excelente renda para isso, mas gosto do ambiente familiar, mesmo com a Sophia me enchendo a paciência as vezes, tenho a família que antes só existia nos meus sonhos, e é por isso que fiquei aqui todo esse tempo. Agora chegou a hora de alçar novos voos, concretizar minha carreira e encerrar o passado.

Acredito que ninguém nasce e morre da mesma forma, sempre mudamos ao longo do caminho, para o mal, ou o bem. Eu já me transformei outras duas vezes, quando acordei do acidente, e ao ir embora do Brasil, no entanto, nunca consegui eliminar por completo as feridas que me lembram essas versões anteriores, é isso que eu quero agora, dar ponto em cada corte ainda latente que me impede de atingir a melhor versão de mim.

Coloco as malas no cantinho, próximo a porta do banheiro e envio alguns e-mails, garantindo que tudo está em ordem. Ficarei em um hotel nos primeiros dias, enquanto procuro um apartamento, acho que vai ser estranho ter apenas minha própria companhia. Terei que sair algumas vezes para arrumar uma amizade, não sou o tipo de pessoa que gosta de ficar sozinha sem ter alguém para conversar amenidades.

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