2. Uma estranha profecia

147 10 4
                                    

Inútil fugir,
inútil resistir,
inútil tudo.

Guimarães Rosa

・:✧∙✦∙✧:

São sete e meia da manhã e o barulho de pratos e talheres chocando-se preenche o Salão Principal. Senti tanta falta desse caos de conversas e risadas animadas.

Ao meu lado estão Harriet e Liv, devorando seus pães com creme de amendoim. À minha frente sentam-se Claire Brand, uma garota alta com mechas cor-de-rosa no cabelo; e Emma Adams, uma baixinha de óculos pretos e cabelos ruivos bem curtos. São nossas colegas de dormitório.

Passo os olhos pela mesa da Grifinória à procura de Tessa e Naomi, mas não as vejo de imediato.

Corujas sobrevoam as mesas lançando embrulhos e cartas para todos os lados. Não gosto muito desse método. Quer dizer, não é muito higiênico, né?

Uma carta cai sobre o meu prato e fica toda lambuzada de pudim. Skye, minha coruja, está velha e sua mira já não é mais a mesma. Tento limpar a carta com um guardanapo, não funciona muito. Sei que é da mamãe. Meu pai nunca escreve. Ao menos não nos últimos três anos.

"Querida Alis,

Espero que tenha tido uma boa viagem, e não se preocupe, está tudo bem aqui em casa. As coisas têm melhorado. Não estamos brigando.
Já estou com saudades, mal posso esperar pela chegada das férias novamente.
Lembre-se de me escrever sempre, e não se meta em confusão. Não saia do castelo sem supervisão e nem pense em chegar perto da Floresta Proibida. É muito perigoso. Não posso perder você.

Com amor, Lisa."

Está mentindo. Não pararam de brigar. Só disse isso para que eu não me preocupasse. Sei disso porque não é a primeira vez que ela mente. Queria poder fazer alguma coisa além de "não me meter em confusão".

Dou uma olhada no horário de aulas. Desânimo invade meu corpo. Dois tempos de Poções com a Sonserina.

Nota mental: nunca mais dizer que as coisas não podem piorar.

Desço um lance de escadas na companhia de Liv, Harriet e Emma. Andamos rápido até a sala de Poções.

Merda.

Percebo que esqueci o livro de Poções. Volto correndo ao dormitório. Graças a Merlin! O dormitório é logo ali, no outro corredor. Se eu fosse grifinória estaria ferrada. Imagine ter que subir até o último andar e então descer de novo até as masmorras. Chegaria atrasada na certa.

Pego o maldito livro e corro até a sala.

Todos já estão sentados e a Sra. Fancourt está falando.

— Bem, vejo que muitos reprovaram e outros desistiram da minha matéria... Eu não fui muito severa e deixei alunos com notas Aceitáveis continuarem com o curso de Poções, mas que fique claro que não serei tão generosa nos N.I.E.M.s. – avisa ela, os fios ruivos tingidos de seus cabelos caem em ondas sobre seus ombros magros, não combinando nem um pouco com suas vestes roxas.

Sento devagar ao lado de Emma.

Ela não me viu... ela não me viu... ela não...

— Srta. Bard? – ouço sua voz venenosa chamar.

Droga.

— Francamente, Srta. Bard, atrasada na primeira aula? Menos dez pontos para a Lufa-Lufa.

— Mas Sra. Fancourt...

O abismo que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora