10. Por que eu sou sempre a última a saber?

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"Mas sempre há alguma coisa a ser quebrada."

Victoria  Aveyard

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Na terça-feira seguinte, exatamente uma semana e um dia após o episódio do diário que não era um diário, estou no meio de uma aula de Transfiguração. Agimos como se nada daquilo tivesse acontecido, mas fica aquela sensação estranha de que todo mundo sabe o que se passa mas ninguém diz.

Emma, Claire e Tessa não estão aqui, nenhuma delas quis continuar com essa matéria. Liv está sentada com Naomi na carteira da frente. Mas parece que está a quilômetros de distância. Do meu lado está Jae, meu único amigo que não é uma menina. Ele está me encarando desde o começo da aula. Isso é estranho...

A Sra. Powell escreve velozmente no quadro, é uma mulher baixa de meia idade, muito séria e comedida. McGonagall deixou o cargo ao assumir a diretoria, dizem que foi a melhor professora de Transfiguração que Hogwarts já teve, é uma pena nunca termos tido uma aula sua.

— A Conjuração é um dos ramos mais difíceis da Transfiguração. – declara Powell – Alguém pode me dizer o que a Lei de Gamp diz a respeito desse tipo de magia?

Jae e eu levantamos a mão ao mesmo tempo.

Ele é um dos melhores alunos de Hogwarts. E é corvino, o que não é nada surpreendente.

O que me surpreende é ele abaixar a mão.

— Pode responder. – diz ele.

— Não, essa é sua. – afirmo, abaixando a mão.

— Ok, então.

Ele ergue a mão novamente.

— Sr. Asher? – incentiva a Sra. Powell com sua voz anasalada.

— Gamp estabelece limites pra Conjuração, ou seja, algumas coisas não podem ser conjuradas, como a comida, o ouro e o dinheiro. – ele responde, perfeitamente.

— Isso mesmo. E lembrem-se que a comida pode ser duplicada, mas o ouro e o dinheiro não. – a Sra. Powell rememora.

— Isso seria incrível. – digo.

— Todo mundo seria rico. – concorda Jae.

A Sra. Powell anda pela sala dando explicações detalhadas sobre as leis de Gamp. Eu deveria estar prestando atenção no que ela diz, não olhando para a nuca de Liv e pensando naqueles segundos estranhos, na semana esquisita que se seguiu e em como todas nós percebemos isso e continuamos fingindo e fingindo e fingindo... até quando?

— ... nessa aula quero que treinem o feitiço Avis. – consigo ouvir a Sra. Powell dizer – De forma não verbal, claro.

Jae ainda me encara. Tem olhos puxados e cabelo escuro. A mãe dele é coreana, mas o pai é inglês. Somos amigos desde o nosso primeiro ano em Hogwarts, sempre fiquei confortável ao seu lado, mas agora estou meio sem jeito.

— Que foi? – pergunto por fim.

Ele nem parece ouvir. Talvez esteja viajando nos próprios pensamentos mais do que eu tenho estado ultimamente.

— Tem alguma coisa grudada no meu rosto?

— O que? – ele volta a si – Não!

— Então por q...?

— Estou quase acabando...

Noto que está rabiscando algo. Então tudo começa a fazer sentido.

O abismo que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora