27. Enganos e descobertas

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"Você é medonha. E o pior é que acredita que não é."

Holly Black

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As corujas de Hogwarts chegam a ser abusadas de tão mansas. É sério, não importa o que você esteja comendo, elas vêm para cima.

— Toma. – digo, jogando um pedaço de biscoito de baunilha para a coruja-das-neves aos meus pés.

É quinta-feira, a primeira de abril, o que significa que tenho alguns minutos entre Teoria da Magia e Poções. Nos últimos dias, tenho matado esse tempo sentada na grama perto do lago, à sombra de uma árvore bastante florida, estrategicamente escondida.

Aqui não preciso me preocupar em ser interrompida por ninguém além das corujas comilonas. Mas não é como se restasse muita gente disposta a vir atrás de mim agora, não depois que consegui afastar todo mundo.

Até Jae parece meio distante. Eu quase não o tenho visto e quando vejo, ele está tão apressado que nem conseguimos conversar direito. Achei que fosse tentar se reaproximar depois do que aconteceu entre as meninas e eu, mas ele não tentou. E eu não o julgo. Eu sei que a culpa é minha.

Depois do baile, eu comecei a passar tanto tempo com James que nem percebi que estava negligenciando a nossa amizade. Fiquei tão perturbada com a briga que tive com Liv e com todas as merdas que se seguiram que nem notei que o estava abandonando. Ele tenta disfarçar, mas sei que está chateado comigo. Eu o deixei de lado. Não tenho o direito de sentir sua falta agora que não me restou quase ninguém. Muito menos de esperar algum apoio.

Mas ainda há James, que não importa o quanto eu tente evitar, sempre me encontra.

Isso já foi longe demais, o namoro, as mentiras, repito para mim todos os dias. Mas é só estar diante dele que perco a coragem.

Por que é tão difícil?

Eu não devia ter ficado tão aliviada por termos finalmente terminado o trabalho de Herbologia, mas fiquei. James estava mais interessado em pôr as mãos em mim do que na sua descurainia e eu não aguentava mais passar tanto tempo com ele, fingindo que estava tudo bem, que eu não estou fazendo nada de errado. Eu sei que estou.

Para de pensar nisso, ordeno ao meu cérebro.

Olho para a pilha de livros à minha volta. Merda. Metade do intervalo já passou e eu ainda não terminei minha redação de Poções, nem o exercício especialmente complicado que a Sra. Vector passou na última aula.

Isso é tão estranho para mim. Quer dizer, estou tão acostumada a ter tudo sob controle que nunca havia sequer imaginado a possibilidade de atrasar alguma atividade antes. Me ver tão perto disso é bizarro. Mas o fato é que conciliar tantas coisas me desgastou. E eu me recusei a admitir isso.

Eu não queria aceitar que não sei como manter tudo coeso na minha própria mente. As provas, os trabalhos semanais, as tarefas de casa de todas as matérias, a monitoria... tanto para ler, estudar, treinar, revisar... redações, exercícios, magias... Sem contar a busca maluca de Liv, Harriet, Tessa e Naomi por aquelas Criptas idiotas, o namoro errôneo com James, os meus pais lá em casa, as provocações do Macmillan... É demais para mim.

Pelo menos a detenção já acabou e eu não tenho mais que lidar com Macmillan, a não ser nas aulas, claro.

Depois de tantos anos, eu achava que o conhecia, mas após passar duas semanas inteiras vendo-o todas as noites, eu não tenho mais tanta certeza. Digo, a maneira honesta como sorriu naquele primeiro dia, a forma como ficou abalado ao falar do irmão, o jeito como me ignorou depois disso... era como se eu nunca o tivesse visto. Não consigo parar de me questionar. Como alguém pode mudar tão rápido? O que de tão ruim Edward poderia ter feito a ponto de lhe causar uma reação tão agressiva? É possível que odeie até o próprio irmão? Por que ele decidiu parar de tentar me aborrecer? Não sei o que pensar. Quanto mais tento encaixar tudo, menos sentido parece fazer. Por um lado, é quase como se ele estivesse mesmo magoado, como se algo fosse capaz de afetá-lo de verdade. Mas por outro, não pode ser, ele não permitiria isso. Não o Macmillan que eu conheço. Mas talvez eu não o conheça tanto assim. Talvez haja algo errado com ele. Talvez...

O abismo que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora