12. Conversas sinceras

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"Quando o sangue pingava em
meus pés descalços ou escorria
sobre o livro que estava lendo,
ele era gentil."

E. Lockhart 

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É sexta-feira, dois dias após os estranhos eventos da Torre de Astronomia, e estou indo para a aula de Trato das Criaturas Mágicas. Tessa e Claire me acompanham pelo terreno gramado até a sala do Sr. Grimm, que não é bem uma sala, está mais para uma clareira, na verdade. Estamos atrasadas, então andamos rápido, a ponto de quase correr. Tessa adora Trato das Criaturas, já eu considero uma matéria um tanto difícil, não tenho muito jeito com animais. Nem com pessoas, acho.

É bom poder passar algum tempo fora do castelo, apesar de o tempo ainda não estar quente. Seria tão melhor se estivesse, mas o ar gélido do inverno ainda nos fustiga.

Nos juntamos ao restante da classe bastante animada. Estamos estudando as criaturas mais perigosas, o que deixa todo mundo meio extasiado, menos eu. Estou apavorada.

— Hoje a aula será um pouco diferente. – anuncia o Prof. Grimm – Não avançaremos nos nossos estudos sobre criaturas de categoria XXX e XXXX.

Há uma onda de conversas e vários "ah, não" decepcionados.

— Não reclamem, faremos uma revisão das criaturas já estudadas, começando pelos tronquilhos, que vimos no ano passado.

Sua voz grossa e a cicatriz na sua bochecha esquerda o fazem parecer um tanto intimidador, mas na verdade, é um homem até bem simpático.

— Não quero lidar com aqueles galhos psicóticos de novo... – reclama Daisy.

— É uma pena, Srta. Bennett, porque eles são criaturinhas fascinantes... – o Sr. Grimm diz, num tom contemplativo.

Daisy pode não ter gostado, mas eu adorei, tronquilhos são quase tão fofos quanto pufosos ou pelúcios.

— Eles estão nas árvores, vocês devem pegá-los e fazer com que confiem em vocês. – orienta o Sr. Grimm, que tem um tronquilho especialmente pequeno e tímido no ombro direito.

— Eles são tão fofos... – ouço alguém dizer ao meu lado.

Viro a cabeça e vejo que a observação veio de James.

Isso me faz sorrir, não é qualquer garoto que admite achar tronquilhos fofos, mas ele não parece ligar.

Ele sorri de volta antes de se afastar e ir em direção às árvores.

Não sei como reagir a isso, então procuro Claire e Tessa, mas elas já desapareceram em meio às árvores, à procura dos bichinhos, tão empolgadas com a aula que nem me esperaram.

Pego meu caderno de criaturas – o Sr. Grimm nos incentivou a desenhar e anotar tudo sobre todas as criaturas que conhecemos num caderninho – e olho para o desenho de uma pequena criatura verde com aparência de planta, embaixo da imagem há breves informações, como: classificação XX, domesticável, pacífico e tímido, se alimenta de insetos.

De repente, alguém arranca o caderno das minhas mãos.

Carrow.

Ele folheia o caderno rapidamente.

— O que aconteceu com os caras pelados, Bard? – questiona com sua voz odiosa.

Sua risada me faz querer vomitar.

— Se chama estudo anatômico, mas você não tem capacidade mental pra entender isso. – rebato, tentando parecer indiferente.

Sei que o acertei porque sua expressão desdenhosa muda imediatamente para fúria.

O abismo que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora