3. Uns caras nus e uma quase morte

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 "Nada, afinal, é um princípio. Na minha vida tudo é agônico, terminal."

Mia Couto

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Duas semanas mais tarde, o assunto do momento é o início dos testes de quadribol, não se fala em outra coisa em toda Hogwarts.

Todos estão animados, menos Harriet, Liv e eu. Não é como se detestássemos quadribol, é só que preferimos a biblioteca. Que, aliás, é onde estamos.

Acabei de fazer um desenho semirrealista de Harriet. Nunca havia feito isso antes. Quer dizer, desenhar alguém que eu conheço de fato. Alguém além de Liv, na verdade. Geralmente só faço estudos de estilos de desenho. Mas estou animada com o semirrealismo. Não me considero uma artista. Não realmente. Sou mais uma copiadora, na verdade. Vejo algo e o reproduzo no papel, mas raramente tenho ideias originais.

Mostro o resultado à Harriet. Não está tão bom, mas já é um começo.

— Uau, onde aprendeu? – ela pergunta, muito mais impressionada do que eu imaginei que ficaria.

— Era muito pequena quando comecei, desenhava frascos de perfume. – explico enquanto guardo os lápis no estojo – Meus pais são comerciantes. Vendem cosméticos mágicos.

— São donos da Quintessência. – completa Liv, empolgada – Eles têm produtos incríveis, como Shampoo cacheador permanente e Batom autopassável!

— Caramba, que legal! O trabalho dos meus pais também é bacana, sabe, meu pai é herbologista e minha mãe, confeiteira. Ela é trouxa, mas adora o mundo bruxo. – Harriet comenta animada, e então vira-se para Liv – O que os seus fazem?

— Minha mãe é professora de música e meu pai é engenheiro. – ela responde, parecendo meio desconfortável – São trouxas.

— Se vão ficar aqui só batendo papo, é melhor se retirarem! – ralha Madame Pince, segurando seu espanador ameaçadoramente.

Vejo Liv fazer uma careta assim que ela vira as costas.

Seguro o riso.

Olho para o relógio de aparência centenária na parede à minha frente.

Dez minutos para o fim do intervalo.

Pego meu exemplar de Hieróglifos e Logogramas Mágicos e sigo para a aula de Runas Antigas.

Estou correndo pelas escadas. Seis minutos, ainda tenho seis minutos.

De quem foi a brilhante ideia de colocar CENTO E QUARENTA E DUAS escadas MÓVEIS no castelo?

Dois lances de escadas abaixo, alguém esbarra em mim e eu me estatelo no chão. Pisco atordoada e me levanto. Olho para o chão de pedra, está coberto por uma confusão de livros, pergaminhos e penas. Macmillan está abaixado pegando suas coisas. O maldito Macmillan. Meu Merlin! Esse garoto está em todo lugar! Não é possível...

Atrás dele vejo Jonathan Carrow, sua sombra. Tem um topete loiro horroroso e uma cara de "vou te lançar um Avada".

Começo a pegar minhas coisas também. Então meu sangue gela. Vejo Carrow se abaixar e pegar meu bloco de desenho. Corro e tento recuperá-lo. Ele levanta o braço. Droga. Eu não consigo alcançar.

— Por que todo esse desespero, Bard? – indaga Macmillan, com um leve arquear de sobrancelhas.

Pego minha varinha.

Accio bloco.

Mal toco o bloco quando ouço a voz diabólica de Carrow.

Immobulus!

O abismo que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora