28. Riddikulus

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"Fazia tanto sol, mas foram dias escuros."

Charlie Barkley

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Folheio o livro de D.C.A.T sem conseguir absorver uma única palavra, não paro de pensar no que Harriet me disse ontem.

Ela precisa de você.

você pode consertar isso.

Todo esse tempo, eu me convenci de que Liv estava bem, que Harriet a estava fazendo sentir-se bem. Não foi muito difícil, afinal, as duas sempre pareciam estar se divertindo quando eu as via. Isso me dava nos nervos, é claro, mas, no fundo, eu sabia que era só fachada, só que eu queria tanto acreditar que fechei os olhos para a verdade: Liv sempre foi o meu ponto de apoio e eu o dela, e agora que não temos mais no que nos agarrar, estamos caindo.

Por mais que não conversássemos muito sobre o assunto, nós percebíamos, entendíamos... estávamos sempre lá, apoiando.

Odeio me sentir tão distante dela. Sinto tanta falta dos nossos silêncios... É estranho, mas sempre funcionou para a gente. O silêncio.

Ela não me contou sobre como era duro lidar com todas as piadinhas e bullying ou sobre como as garotas a atraíam, mas eu sabia. Eu não lhe contei sobre como é sufocante viver com tantas expectativas sobre mim ou sobre como odeio as brigas constantes dos meus pais, mas ela percebia. Quando Rosie morreu e o meu mundo desabou, ela me segurou. Quando ela se convenceu de que não passaria nos N.O.M.s porque não era inteligente o bastante, eu lhe mostrei que estava errada... Foi quando percebi que toda a sua aparente animação e alegria era só uma forma de esconder o quanto ela se sentia insuficiente, ela fingia não ligar para todo o bullying, para os seus pais sempre privilegiando Jude, para toda a atenção que eu recebia... ela fingia, fingia e fingia, o tempo todo. E eu me convencia de que estava tudo bem. Assim como ela, eu mentia, mentia e mentia para mim, o tempo todo.

Não consigo parar de me perguntar se não fiz mais mal a ela do que bem... Faz ideia do que é viver na sombra de outra pessoa? Eu sabia que ela estava com raiva e magoada, e eu ainda a chamei de invejosa. Eu a ataquei quando devia ter apoiado. Discuti quando devia ter conversado. Ignorei quando devia ter perguntado. Quando disse a Harriet que Liv talvez esteja melhor sem mim, eu não sei se ela entendeu, mas era sobre isso. Talvez retomar nossa amizade não seja o melhor para Liv, talvez querê-la de volta seja apenas egoísmo meu, talvez...

"Talvez" como eu odeio essa palavra.

O fato é que Liv não é uma pessoa fácil de se conhecer, ela parece aberta e sociável, mas sempre esconde o que mais importa. Somos parecidas nesse sentido, acho que foi isso que nos aproximou tanto, mas o que nos distanciou também. O silêncio, que sempre foi nosso refúgio, também foi nossa ruína. Achávamos que estávamos nos curando, mas só estávamos maquiando as feridas. A maneira como, por tanto tempo, eu a ignorei e ela me ignorou, inflamou tudo. Sem querer, criamos nosso próprio paradoxo, quanto mais nos aproximávamos, mais distantes ficávamos, quanto mais tentávamos nos entender, mais nos confundíamos. Eu precisei de anos para enfim entender como ela se sentia, só para depois descobrir que não havia entendido nem a metade...

Balanço a cabeça para afastar esses pensamentos e começo o parágrafo novamente.

Alguém se joga no sofá, cruzando as longas pernas sobre o meu colo.

— Ei! – digo, olhando indignada para Brandon, que me dá um sorriso descontraído.

— Que cara boba é essa? – pergunto em seguida – Parece que viu um pomorim dourado.

O abismo que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora