Extra

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"Aquele que mente a si mesmo e escuta sua própria mentira vai ao ponto de não mais distinguir a verdade, nem em si, nem em torno de si."

Fiódor Dostoiévski

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Estou voltando para o vestiário da Sonserina quando vejo Bard correr em direção ao exibido do Potter. Era só o que me faltava...

— BOA, JAMES, ARRASOU! – ela grita, se jogando nos braços dele num abraço horrivelmente animado.

Vejo-o se inclinar e dizer algo no ouvido dela. Ela ri e o empurra, de brincadeira. Nem parece aquela garota mal-humorada e arredia de sempre. Como diabos esse imbecil consegue desarmá-la tão facilmente?

Ele a puxa de volta e ela não recua. Ela nem sequer hesita. Seu cabelo balança em ondas castanhas pesadas, está amarrado, mas ainda assim desce pelas costas até a cintura. Há muitas pessoas comemorando em volta deles, mas consigo ver o beijo que ela dá na bochecha dele. Como isso pode estar acontecendo? Tinha que ser logo o Potter?

Eu mereço... a "Garota de ouro da Lufa-Lufa" e o maldito "Filho do Menino que sobreviveu" namorando. Não sei se isso é mais ridículo ou nauseante.

Será que está fazendo isso só para me irritar? Não, não é possível. Para isso ela teria que acreditar que significa algo para mim, teria que achar que eu me importo... Não, ela é lerda demais para isso, quer dizer... como ainda não se tocou? Porra, que diabos eu estou pensando? Ela não importa. Nunca importou. É apenas uma distração, uma dose de adrenalina que torna toda essa merda mais suportável. Nunca significará nada além disso. Não vou ser mais um na sua legião de adoradores.

Os outros jogadores da Grifinória começam a entrar no vestiário e os torcedores se dispersam um pouco. Decido continuar meu caminho para o vestiário, mas então vejo Potter descer suas mãos odiosas pela cintura de Bard e a beijar como se o mundo fosse acabar. Os braços dela estão em volta do pescoço dele, que a puxa para mais perto, quase a engolindo.

Desvio o olhar e aperto os dedos em volta do cabo da minha Firebolt, não preciso de muito esforço para imaginar o pescoço do Potter estalando entre eles.

— É isso aí, Potter! – incentiva Davies, ao passar por eles em direção ao vestiário grifinório.

Estou de punhos cerrados e revirando os olhos quando Dianna aparece ao meu lado.

— Algum problema, Luke?

— Não. – respondo, em tom irritado – Me deixa em paz.

— Um cavalo é mais educado que você, sabia?

— A gente acabou de perder, como esperava que eu estivesse? Cantando por aí? – rebato, jogando a vassoura no chão num impulso.

O barulho faz Bard e Potter se desgrudarem e olharem para nós. As bochechas dela estão vermelhas. No interior das minhas veias, meu sangue vira lava. Ela está assim por causa do Potter, o idiota do Potter. Contenha-se, Macmillan, repito para mim mesmo, contenha-se.

— Entendo que está irritado, perder é um saco, ainda mais para aqueles idiotas metidos a besta, mas não precisa sair dando patada em todo mundo, caralho! – dispara Dianna, mandando a paciência para o inferno – Da próxima vez que falar comigo dess...

Sem pensar, eu a puxo num beijo. Ela não me afasta, pelo contrário, move os lábios contra os meus fervorosamente, deslizando as mãos quentes e suadas na minha nuca, tão quente e suada quanto. Dianna é muito determinada, é por isso que é nossa capitã, mas também é por isso que nunca desistiu de mim. Ela nunca escondeu suas intenções, e para mim era vantajoso mantê-la interessada, então eu deixava que se insinuasse e me provocasse o quanto quisesse. Não nego, sempre gostei de flertar, e sabia que quanto mais eu resistisse mais ela se empenharia em me conquistar. Sei que não sou mais do que um desafio muito divertido para ela, então deixo seus cachos ruivos se enrolarem nos meus dedos, em um claro sinal de derrota.

— Desistiu de resistir a mim, foi? – ela indaga vitoriosa, quando a solto.

Sinto a malícia dos seus olhos verdes esquadrinhar meu rosto.

Não respondo. Estou olhando para Bard, que nos observa confusa. Incomodada?

Potter tenta beijá-la, mas ela se esquiva dele. Algo aquece meu peito. Compreensão.

Ela não gosta dele.

Ou pelo menos ele não a afeta tanto quanto eu.

Mas então eles entram de mãos dadas no vestiário da Grifinória. Ela não é jogadora, nem grifinória, não devia estar entrando ali, muito menos agora que os outros grifinórios acabaram de sair. Droga, o que eu tenho a ver com isso? Não é da minha conta. Os dois se merecem... eu não devia ligar. Eu não ligo.

— Sério, Luke? – exige Dianna, a voz imersa em sarcasmo.

Não me dou o trabalho de responder, afinal, mentir seria inútil e a verdade nunca foi uma opção.

— Da próxima vez em que for me usar, me avisa, ok? – pede ela, prendendo o cabelo com um elástico de modo bastante desinteressado – Só pra eu ser mais convincente no papel.

— Isso não... te incomoda?

Ela ri.

— Você é gato demais pra eu me importar com esse tipo de detalhe. – declara ela, como se fosse a coisa mais banal do mundo.

Então segue para o vestiário, me deixando levemente surpreso, mas não a ponto de me impressionar, porque, bem, isso é muito a cara dela.

Pego minha vassoura no chão e sigo para o vestiário também.

É um caminho curto.

Lá dentro, Dianna sorri rapidamente para mim enquanto tenta soltar o cabelo trançado de Isla, que está sentada em um dos bancos, furiosa. Eu também estaria se tivesse sido suspenso do próximo jogo. Louis já retirou todo o equipamento e remexe em seu armário, provavelmente procurando uma camisa. Não vejo Jonny, nem Theo. E o Malfoy já deu o fora também.

Guardo minha vassoura no armário e começo a tirar minhas luvas e protetores. Tento pensar no jogo, em Dianna ou em qualquer outra coisa, mas a droga dos meus pensamentos volta sempre para o mesmo ponto: Bard. Bard e Potter. Bard e Potter sozinhos. Bard e Potter sozinhos num vestiário. Bard.

Foda-se, eu não dou a mínima, repito na minha cabeça, pela milionésima vez.

E de novo.

E de novo.

E de novo.

Porque nunca é o suficiente.

O abismo que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora