22. Eu tenho um chilique e ainda passo mal

159 10 87
                                    

"Minhas palavras são ferramentas infalíveis de destruição, e não estou equipado com a capacidade de desarmá-las."

Maggie Stiefvater

・:✧∙✦∙✧:・

Após um mês e uma semana, as pessoas ainda cochicham pelos corredores, a história do Sectumsempra se espalhou mais rápido do que eu previra. Ter abordado Isla não ajudou em nada, sei que Liv me disse para não fazer isso, mas eu precisava tentar. Prometi favores acadêmicos e alguns galeões se esquecesse tudo, mas ela simplesmente disse que não seria tão divertido quanto acompanhar os boatos que surgiriam. Sádica.

Carrow não me agradeceu por não ter o deixado sangrar até a morte – e eu nem esperava que o fizesse também – mas pelo menos largou do meu pé. Tem fingido que não existo, e isso é o melhor que eu poderia esperar.

Liv não fala mais comigo. E dessa vez é diferente. Quer dizer, já brigamos inúmeras vezes, mas simplesmente continuávamos fazendo tudo juntas até, do nada, voltarmos a conversar normalmente. Mas agora ela tem me evitado de todas as formas. Quando acordo, ela já saiu do dormitório – Liv odeia acordar cedo –, durante as aulas, senta com Harriet ou qualquer outra pessoa, e, nas refeições, se senta na outra extremidade da mesa. Mas não parece abalada com todos os comentários maldosos que circulam pelo castelo, parece até contente, para dizer a verdade. Sei que não significa que não está magoada, provavelmente só está fingindo, porque sabe que todos querem que ela reaja. Mas ela não vai dar essa satisfação a ninguém, não mesmo.

É sábado e o salão comunal está praticamente vazio, aparentemente, todos decidiram assistir aos treinos de quadribol. O sol da tarde entra pelas janelas circulares, fazendo um efeito de luz e sombra no piso. Emma folheia um livro no sofá amarelo atrás de mim.

Alterno o olhar entre a lareira apagada à minha frente, as pilhas de livros no chão ao meu redor e o pergaminho no meu colo, revolta invade minhas veias. Estou quase terminando o trabalho de Aritmância, sozinha. O imprestável do Macmillan não moveu um dedo para ajudar e eu não posso fazer nada a respeito disso.

Ouço Emma se mexer no sofá.

— Alis? – chama ela.

— Hum.

— Me empresta seu livro de Feitiços?

— O que houve com o seu? – pergunto, pegando o livro e passando para ela sem olhar para trás.

— Está no dormitório, só estou com preguiça de buscar.

— Mas é logo ali.

— Argh, Alis, que mania de questionar tudo...

— Desculpa, meu humor não está dos melhores.

— É, eu percebi. – ela diz, pegando um pergaminho e uma pena sobre uma das pilhas de livros – Por que vocês simplesmente não pedem desculpa?

Me viro para olhar para ela.

— Simplesmente? Não é simples, Emma.

— É sim.

— Você estava lá. Você ouviu tudo. – rebato – As coisas que ela disse, as coisas que eu disse...

— Vocês duas estavam de cabeça quente, falaram merda e daí? Acontece.

— Não, Emma, não acontece. Nós fomos cruéis, horrivelmente cruéis. – digo, desviando os olhos para a pena na minha mão – Eu... eu peguei muito pesado, eu sei, eu não devia ter falado nada daquilo, quando eu vi já tinha...

O abismo que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora