11. Delírios astronômicos

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Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

Mario Quintana

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É meia noite e eu não estou no dormitório. Não estou sonhando de novo com uma profecia maluca dita por uma professora ainda mais louca. Em vez disso, estou subindo a escada absurdamente íngreme que leva ao topo da Torre de Astronomia.

Passos apressados retumbam na escada espiralada, há poucos alunos – muitos não passaram nos N.O.M.s ou simplesmente não tiveram interesse em continuar com a matéria, o que é uma loucura, porque fala sério, Astronomia é uma das disciplinas mais legais da escola –, a maioria corvinos.

Uma vez lá em cima, todos ouvimos as explanações da Profa. Sinistra acerca da Constelação de Órion. Anoto tudo o que consigo na luz baixa do luar. Jae faz o mesmo ao meu lado, assim como os outros onze ou doze alunos na torre.

Liv não se incomodou quando eu disse que Jae queria estudar comigo, simplesmente disse que faria dupla com Harriet de agora em diante. Ela tem estado com Cole na maior parte do tempo, os vi juntos no pátio hoje de manhã, mas não era como se gostasse mesmo dele, era mais como se estivesse... tentando se distrair. Tenho quase certeza disso, Liv é do tipo escapista, está sempre fazendo algo – muitas vezes arriscado – só para esquecer, por um momento, o que a incomoda. Sei que eu devia ter perguntado, a feito explicar como tudo isso aconteceu, mas se ela não se incomodou em me dizer nada, se acha que não há nada a dizer... então não faz nenhum sentido eu exigir alguma coisa dela, quer dizer, ela devia ter me contado por conta própria, esse é o ponto. Além do mais, talvez eu tenha exagerado também, com tudo o que vem acontecendo eu tenho estado tão confusa...

O tempo está frio e seco devido ao inverno interminável, mas isso é ótimo, na verdade, porque há uma quantidade menor de nuvens no céu e podemos ver as estrelas mais claramente.

— Agora peguem seus parceiros e dirijam-se aos telescópios. – orienta a Profa. Sinistra.

Fazemos exatamente isso, vamos até os telescópios perigosamente posicionados meio próximos demais das ameias. Será que mais ninguém se incomoda com o fato de estarmos suicidamente perto da borda da Torre mais alta do castelo?

Jae está agachado sobre uma pilha de livros ao pé do telescópio, procurando seu mapa estelar. Olho para o céu perfeito e infinito sobre as nossas cabeças, é uma das coisas mais lindas que já vi, tento guardar a imagem na mente para pintá-la mais tarde.

— Acha que as pessoas realmente se lembram das outras ao olhar pra elas? – indago, meio pensativa.

— Você acha? – devolve ele, sem me olhar, ainda em sua busca insana pelo mapa perdido.

— Não. Acho que são lindas demais pra lembrar pessoas mortas. – digo, não sei porque, normalmente só digo essas coisas para mim mesma – Também não acho que as pessoas sejam tão sensíveis.

— Você é. – ele diz sério, ainda sem olhar para mim – Elas te lembram Rosie?

— Não. Rosas amarelas me lembram Rosie, decorações de Natal me lembram Rosie, os olhos da mamãe me lembram Rosie, pudim de cereja me lembra Rosie... mas não as estrelas.

— Que bom. – diz, enfim me olhando – Assim você pode olhar pra elas sem dor.

— Não gosto desse Jae melancólico. – brinco, porque não quero falar disso agora – Pode, por favor, fazer algum comentário idiota agora?

O abismo que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora