38. Perdendo o controle

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"Era covardia, ela sabia, mas a covardia era muito mais fácil que a esperança."

V. E. Schwab 

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— Droga, Banguela, cadê você? – grito enquanto olho embaixo da cama.

— Se a gente perder a prova de Herbologia por sua causa... – ameaça Emma, parada na porta com um ar de impaciência.

— Gatos gostam de sair, passear... – Claire intervém – É normal, Alis.

— Ele deve estar namorando por aí. – apoia Harriet – Só isso.

— Mas ele nunca sumiu assim...

— Eu juro que te ajudo a procurar ele depois, ok? – promete Liv, me puxando pelo braço e me entregando minha mochila – Agora vamos!

Saio do quarto praticamente arrastada por Liv, o salão comunal já está quase vazio, mas ainda há alguns alunos virando páginas de livros rapidamente, numa última tentativa de absorver alguma coisa. Nos corredores não é diferente, todos parecem preocupados e nervosos.

Emma carrega um livro aberto na mão, lendo e andando ao mesmo tempo. Harriet e Claire tentam fazer piadas para aliviar o clima, mas não funciona muito.

O Salão Principal está imerso naquela atmosfera de ansiedade típica do período de provas. Alguns, como eu, mexem no cabelo e batem os pés de um jeito inquietante, outros esfregam as mãos, ajustam as capas ou roem as unhas. Mas nem toda a comoção da partida final da temporada de quadribol e a preocupação com as provas foram suficientes para que as pessoas esquecessem o que aconteceu depois do jogo. Uma semana depois e eu ainda sinto seus olhos sobre mim. Ainda ouço cochichos e risadinhas.

Nem Davies, nem Rowle, ousaram se aproximar de mim de novo. Mas, no fim, não fez muita diferença. Eles conseguiram o que queriam. Colocaram um alvo nas minhas costas. E todo mundo – exceto James, meus amigos e, surpreendentemente, as Serpentes – parece mais do que feliz em atirar.

Claro que não é como se eu não estivesse acostumada a ter que lidar com esse tipo de merda, fiz isso a vida inteira, ouvi tantas histórias a meu respeito que nem sei qual é a mais famosa, ou a mais repulsiva; mas eu não achei que fosse chegar a esse ponto.

Não ao ponto de pegar garotos que eu nem conheço me escaneando de cima a baixo enquanto atravesso os corredores entre uma aula e outra. Não ao ponto de ser apalpada por um idiota enquanto desço uma escadaria. Ou de ver meu nome rolando em uma lista com o título ridículo de "Pegáveis X Não pegáveis".

Mas acontece uma coisa estranha quando todo mundo começa a dizer algo sobre você. Isso cria uma imagem. Uma reputação. Dá às pessoas sinal verde para te tratar como se você não fosse nada além dessa reputação. E você deixa de ser você. Você deixa de ser... uma pessoa.

Passei os últimos dias na biblioteca, com Jae, estudando e... tentando ignorar tudo isso. Ele não fez nada quando descobriu o que tinha acontecido. Não xingou Rowle. Nem Davies. Não disse que ia matar nenhum deles. Ele só quis saber como eu estava. E não insistiu quando eu não quis conversar. Ele sabia que eu não tinha palavras. Então ele só fez o que sempre faz: abriu os braços e deixou que eu me derramasse.

Mas eu sei que por dentro ele estava fervendo. Porque o que aconteceu foi horrível, porque o que veio depois foi ainda pior, mas também porque acha que parte disso foi culpa sua, por ter me deixado sozinha, por não ter insistido um pouco mais para que eu fosse naquela festa. Ele não me disse nada disso, é claro. Mas eu sei. Assim como sei que deve estar sendo um inferno manter toda essa calma infinita. Especialmente com as coisas que ele deve estar sendo obrigado a escutar por minha causa. Não é novidade nenhuma que todos pensam que já tivemos alguma coisa, mas agora... todos os boatos, as piadas... é nojento.

O abismo que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora