26. Tudo fica meio escorregadio na detenção

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"Nada pode ser amado ou odiado antes de ser compreendido."

Leonardo Da Vinci

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— Está parecendo uma cenoura estragada. – Macmillan repara, assim que piso nas masmorras.

— Cala a boca, Macmillan. – rebato, revirando os olhos – Não sei se você sabe, mas cenouras são laranja.

Ele não parece ligar para o que eu digo.

— Isso aqui é mostarda. – falo, apontando para o macacão que estou vestindo.

— E daí? Continua sendo esquisito.

Ele está certo, mas é claro que eu não lhe digo.

Isso é algo que Rosie usaria, não eu. Mamãe me deu no Natal, dizendo que eu devia usar coisas mais coloridas. Eu não disse nada. Não disse que gostava das minhas roupas "sem graça". Não disse que preferia não chamar atenção. Não disse que eu não era Rosie. Não disse.

— Você poderia parar de me encher por pelo menos um segundo, né? Não sei se percebeu, mas já estamos bem enrascados.

— Mas é tão divertido te provocar...

— É exatamente por isso que a gente está metido nessa. Então dá um tempo, ok?

Ele dá de ombros, não parecendo muito convencido.

Suspiro e sigo andando até a sala do Sr. Filch. Ele acompanha meu passo, sem nenhum esforço. Encaro a velha porta de madeira, apreensiva. Então bato, devagar.

O velho homem abre a porta e nos encara, carrancudo. Então, sem nenhum aviso, fecha a porta bruscamente na nossa cara. Olho para Macmillan sem entender, mas ele não parece incomodado.

Logo a porta se abre novamente. Filch segura dois baldes pequenos com materiais de limpeza dentro.

— Andem logo. – ele diz asperamente, nos entregando os baldes – Tenho mais o que fazer.

— Mesmo? – Macmillan faz uma cara de espanto, bem caricata, eu diria – Achei que o senhor só infernizava os alunos.

— Ora seu...

Filch começa a ameaçar Macmillan, que tem a audácia de rir, o que só deixa o velho zelador ainda mais irritado. Não presto muita atenção na cena, estou mais interessada em ver a sala escura atrás dele.

De repente, ele fecha a porta, agressivamente. Quase dou um pulo de susto.

— Só tem uma coisa pior do que alunos abusados... – Filch diz, olhando raivoso para Macmillan, e então para mim – Alunos bisbilhoteiros.

— Eu não estava bisb...

— Vamos logo, seus insolentes. – corta ele – Antes que eu decida punir os dois aqui mesmo.

Andamos rápido pelos corredores escuros quase desertos, todo o trajeto é pautado pelos comentários ressentidos do Sr. Filch. Ouvimos inúmeras vezes sobre como McGonagall deveria deixá-lo punir os alunos e sobre o que é uma punição de verdade – aparentemente envolve algemas, palmatórias e vários tipos de tortura – até que, enfim, paramos diante de uma porta de madeira entalhada no terceiro andar.

Filch estende a mão para nós, como se esperasse algo.

— Que foi? Quer um aperto de mão? – zomba Macmillan.

Sinto que estou sorrindo, embora eu tente manter o rosto paralisado.

Acho que Filch finalmente vai explodir e bater nele, mas ele diz apenas:

O abismo que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora