41. Essa foi por pouco

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"Para pequenas criaturas como nós,
a vastidão só é suportável
através do amor."

Carl Sagan

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— O que estamos fazendo? – pergunto enquanto avançamos pelo corredor em ruínas. 

Luke apenas sorri e continua me puxando pela mão.

Viramos mais três corredores antes que ele solte minha mão e se aproxime de uma parede de pedra.

Olho ao redor, franzindo a testa.

Não há nada além de um tocheiro apagado e algumas rachaduras cobertas por vinhas na parede.

Ele me trouxe até aqui para me mostrar uma... parede?

Estou prestes a questionar, mas vejo que está afastando algumas vinhas da parede.

Ele bate duas vezes na pedra, então puxa o tocheiro para baixo. De início, nada acontece. Mas então uma pequena abertura aparece na parede, e começa a se expandir numa passagem estreita, em forma de arco, revelando uma espécie de pequeno jardim do outro lado.

Luke empurra uma folhagem para o lado e entra no jardim. Eu o sigo.

Assim que passo pelo arco, um cheiro suave me atinge. Terra. Noite. Coisas crescendo. Verde. Flores se abrindo. Vida.

A parede se fecha atrás de nós.

Luke continua andando, como se soubesse exatamente aonde quer me levar.

Eu esperava algo menor, mas conforme avançamos, noto que é na verdade um enorme recinto de pedra, revestido por árvores e arbustos floridos. As últimas flores de primavera. Logo virá o calor do verão, esmagando todas as folhas e murchando todas as flores. Mas por enquanto, tudo é um tumulto de cores: verde, vermelho, azul, rosa, amarelo, roxo, laranja... flores derramando para baixo e para o lado, pólen adocicando o ar, luar banhando tudo. Há alguns bancos espalhados sob as árvores e uma pequena fonte num canto, mas parece estar seca. Plantas crescem através da pedra antiga e é como se eu estivesse dentro de uma pintura de Monet.

— Uau.

— É bonito, né?

— É fantástico. – respondo, ainda olhando em volta – Como encontrou esse lugar?

Ele encolhe os ombros e se senta, ao lado de um arbusto pontilhado por botões de flores fechados.

— Foi por acaso. – ele não se aprofunda, como se não valesse a pena – Gosto de vir aqui às vezes... pra pensar.

Tenho inúmeras perguntas sobre "por acaso", mas as guardo para mim mesma. Não quero estragar o momento e... o fato de estar me contando isso já é mais do que eu poderia pedir. 

— Então é tipo... o seu lugar secreto.

Ele dá um meio sorriso.

— Algo assim.

Ele tira um saco do bolso da jaqueta, de onde pega um guardanapo embrulhado em um pacote e me oferece.

— Experimente um.

— O que é?

— Minha especialidade.

Pego o guardanapo com um sorriso e me sento diante dele, ajeitando a saia enquanto cruzo as pernas sobre o chão frio. 

É um sanduíche de pasta de amendoim comum, mas salpicado por cacau e granola em vez de geleia.

— Nada mal. – digo, em meio a mordidas.

O abismo que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora