36. Uma notícia e tanto

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"Amar é destruir e ser amado é
ser destruído."

Cassandra Clare 

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Mal posso acreditar que já se passou mais de um mês desde que terminei com James. É estranho não falar com ele todos os dias, eu agora só o vejo nas aulas que temos em comum e no Salão Principal. Notei que não senta mais com Davies e Rowle durante as refeições, mas eu já esperava que isso fosse acontecer.

Quanto mais o tempo passa, mais sinto sua falta. Sei que é estranho, eu devia estar com raiva, mas... eu não consigo. Eu nem posso, quer dizer, o que ele fez foi horrível, eu nunca vou esquecer... mas eu entendo que ele queria me proteger, de um jeito torto, mas... ele não é uma má pessoa. Eu não consigo acreditar que é.

Tudo isso é tão confuso e... bizarro. Eu olho para trás e não sei o quanto disso foi real e o quanto eu inventei, não sei quais partes dele realmente existem e quais eu idealizei. Passei meses achando que ele era muito mais do que eu merecia, porque eu me sentia culpada. Então quem garante que estou em condições de entender isso? Eu fiz o mesmo com ele, escondi a verdade achando que o estava protegendo. Como posso julgá-lo? Eu sei, o que ele fez foi muito pior, mas eu não sou tão diferente dele, sou? O que eu faria no lugar dele?

Eu sei que teria feito a mesma coisa. Eu não teria coragem de contar. Ele não devia sequer ter se envolvido nisso, eu sei, mas também sei o que é meter os pés pelas mãos, sei o que é não conseguir fazer o que precisa ser feito, e acima de tudo, sei o que é ter medo de perder alguém. Eu só não sei se estou realmente tentando entendê-lo ou... só me agarrando a uma ideia que me conforta.

Foram semanas tão difíceis. Metade da escola acha que eu fiquei com o Macmillan naquela noite e que James terminou comigo por causa disso. A outra metade sabe a verdade, ou parte dela. E eu não sei o que é pior, ser taxada de vadia por gente que sequer me conhece, ou ter que aguentar as piadas sobre o quanto fui otária.

Apesar de tudo, não tenho chorado. Chorei tudo o que podia na primeira semana. Além do mais, Liv e Emma me proibiram. Tentei explicar a Liv que eu também não tinha sido legal com ele, mas ela não deu a mínima. Eu nunca a vi tão irritada, Harriet teve que esconder sua varinha para que ela não azarasse James. Teria sido engraçado, se eu não estivesse tão abalada.

Não sei exatamente o que estou sentindo agora, já passei por todas as fases: vergonha, revolta, tristeza, nostalgia... mas agora... eu não sei.

Agora que acabou, eu não sei se realmente sentia tudo aquilo por James ou se queria tanto sentir que... acabei acreditando nisso. Digo, é claro que eu gostava dele, eu... ainda gosto. Mas não sei se estava mesmo apaixonada ou se me convenci de que estava. Como a gente tem certeza dessas coisas?

Harriet me disse para parar de analisar meus sentimentos e me permitir senti-los, mas é mais fácil falar do que fazer. O fato é que as coisas nunca vão voltar a ser o que eram e eu preciso aceitar isso.

Nós começamos errado, não tinha como terminar de outro jeito, é o que eu tenho repetido para mim mesma nos últimos dias.

Também tenho tentado me distrair focando nos estudos, o que tem sido mais fácil do que parece, já que com a aproximação dos exames finais estamos todos entalados até a garganta de lição de casa. E o contrabando de penas autocorretivas, vomitilhas, febricolate e nugá sangra-nariz tem aumentado, o que tem me dado muito trabalho também. Já confisquei três kits mata-aula só essa semana e nem quero ver a reação de Oscar quando souber que alguns monitores estão envolvidos nisso.

O abismo que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora