23. Namora comigo?

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"Saber que não tinha coragem de fazer o que era necessário, me fez sentir horrível."

Charles Bukowski

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Acordo com uma luz incômoda no rosto. Desvio o olhar do teto abobadado para as enormes janelas na parede oposta. Péssima ideia. A claridade do sol é tão forte que me faz piscar. Merlin, quanto tempo eu dormi?

Pelo menos a dor infernal abandonou minha cabeça, mas o cansaço no meu corpo parece ter a substituído.

— Como se sente? – pergunta Liv, aparecendo do lado da minha cama.

Está com uma espécie de jaleco por cima do uniforme que a identifica como ajudante de Pomfrey. Ela me encara com olhos preocupados, e eu só me sinto pior.

Essas são as primeiras palavras que dirige a mim depois daquele maldito baile. Não é o que eu esperava, mas, de certa forma, é mais do que eu imaginava.

Por um instante, quase digo "magoada, envergonhada, arrependida e... surtando", mas sei que não é o que está perguntando.

— Parece que meus ossos foram triturados. – respondo por fim.

Um sorriso começa a se formar em seus lábios, mas ela logo fecha a cara de novo.

— O que você fez foi tão... como pôde ser tão irresponsável? – ela me repreende – Por que não parou de tomar aquelas poções? Eu avisei que se tomasse demais acabaria tendo um colapso.

— Eu não estava conseguindo conciliar todas as atividades, era tanta coisa... todas as aulas, a monitoria, as aulas de reforço para os mais novos, os clubes... – respondo, encarando minhas próprias mãos – Eu estava exausta... eu... eu precisava de energia.

Além disso, com todas as coisas que aconteceram nesses últimos meses eu não tenho tido mais o mesmo foco e ânimo para manter o ritmo, quase digo.

— Então resolveu se entupir de poções revigorantes? – ela indaga, em um tom mais desaprovador que sarcástico.

— Achei que conhecia meus limites... só estava sentindo algumas dores, então não achei que pudesse piorar tanto. – explico, me sentindo uma completa otária – Achei que podia aguentar, achei que tudo estava...

— Sob controle? – ela me corta – Essas poções dão energia, mas ainda assim você precisa descansar. Você sabe disso, caramba!

— Eu estava com a cabeça tão cheia que...

— Eu só sugeri isso porque achei que estava te ajudando, porque você disse que seria só durante as provas. – ela continua dizendo – Nunca pensei que pudesse ser tão estúpida...

— Eu sei, eu fui idiota. – digo, enfim a olhando – Mas eu tinha que dar conta de tudo ou eu...

— Meu Deus, Alis, para! Para com essa obsessão doentia. Você não tem que dar conta de nada, nem fazer tudo perfeito o tempo inteiro, caramba! – ela declara, frustrada – Você se pressiona demais sem motivo, vai acabar se matando desse jeito.

— Eu não sei como parar, não sei como ser de outro jeito... eu... não sei desacelerar.

— Porra, Alis! Você não vê? Esse seu perfeccionismo idiota ainda vai...

Ela não termina, pois Madame Pomfrey aparece ao seu lado, a interrompendo.

— Srta. Carter, poderia ir até as estufas colher um pouco de wiggentree? – pede ela – Preciso de uma poção Wiggenweld urgente para o Sr. Foster.

O abismo que há entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora