Acordo em choque. Mais um pesadelo, mais uma lembrança me atormenta. Sinto Daryl ao meu lado, suas costas viradas para mim, encostando de leve em meu braço. Sinto sua respiração lenta no silêncio da fria manhã.
Já faziam quase dez dias desde as mortes. Durante esse tempo, o medo e desespero pareciam ter diminuído dentro de mim, e depois de tanto sofrimento nesse mundo, eu era capaz de lidar com mais um trauma. Mas eu sabia que era momentâneo, e que todos os sentimentos avassaladores podiam voltar. O luto pelas perdas, e o medo do acontecido, passavam a se transformar em revolta, raiva e força dentro de mim. Força para acabar com Alfa e seu grupo. Fazê-los se arrepender do que fizeram.
Apesar disso, as noites eram difíceis. Assim, faziam dez noites que Daryl Dixon ficava ao meu lado até eu adormecer.
Sua presença parecia ser a única coisa capaz de me permitir fechar os olhos. Ele não precisava falar muito. Chegava à noite, perguntava como eu estava e deitava ao meu lado. Quase sempre eu deitava perto de seu peito, escutando o batimento do seu coração. Era o máximo de proximidade que tínhamos. O silêncio não era estranho, era conforto. Era paz.
A amizade com Daryl estava cada vez mais forte, e eu sentia como se ele fosse a pessoa mais importante para mim no momento. Com ele, eu me sentia melhor, mais leve, e me sentia capaz de enfrentar os acontecimentos sem querer desistir de tudo. Com ele, eu conseguia ver esperança de que iriamos ficar bem e dar conta de tudo.
Durante esses dez dias, a neve começou a cair. Os dias eram atarefados, pois havia muita coisa para fazer no Reino. As construções estavam extremamente velhas, e o sistema de aquecimento falhava. Certo dia, um incêndio aconteceu num dos maiores salões, e foi necessário uma tarde inteira para ser controlado. Ezekiel estava desolado após a perda de seu filho, e agora via sua criação, seu reino, cair.
Connie, Kelly e algumas outras pessoas já tinham voltado à Hilltop. Não fui com eles pois não tinha nada lá para mim. Judith, RJ, Rosita, Siddiq, Eugene e o padre Gabriel, que conheci depois, também voltaram para Alexandria com outras pessoas poucos dias depois dos assassinatos.
Sinto falta de Judith que vinha falar comigo nos dois dias seguintes a morte nas estacas, apenas para saber como eu estava e me distrair. O assunto era sempre o mesmo: o bebê. Qual seria o nome do bebê, se eu tinha ideias para nome do bebê, se eu deixaria ele, ou ela, ir para Alexandria. Não tendo resposta para nenhuma das suas indagações, apenas inventava respostas aleatórias, mas ficava feliz por seu interesse e por sua vontade de me ajudar. Infelizmente, com eles, também foi o cachorro de Daryl, que se chamava Cachorro (fala sério, Dixon), e que era outra distração para mim.
Carol não falava muito, mas eu a ajudava a cuidar das plantações que ainda resistiam ao frio, junto com Michonne. Nunca soube o que falar para a mulher de cabelos brancos, porém tentava mostrar por meio da minha presença ao seu lado que estaria ali se ela precisasse. Ela parecia gostar de mim, e eu dela. Em relação a Michonne, me aproximei mais da mulher de dreads e garanti até uma aula com ela para ela me ensinar como usar uma espada assim que tivéssemos tempo.
Lydia estava em um estado preocupante. Não queria comer, não queria falar, não fazia nada. Eu e Daryl revezávamos para olhar a menina, oferecer comida e companhia, mas acho que as vezes não há nada a ser feito. Eu imagino o que ela sentia: era culpa. Foi sua mãe que causou tudo aquilo, que matou o filho de Carol e Ezekiel, Henry, por quem Lydia claramente nutria sentimentos. Foi Alfa que matou Enid, Tara, e tantos outros. Sentia pena da garota, pois sei como é se culpar pela morte de alguém que morreu por te ajudar. A única coisa que eu poderia fazer era tentar cuidar dela e mostrar que vivendo era a forma de honrar o bom coração de Henry.
Eu também cuidava dos filhos de Jerry, o braço direito do Rei. Cuidar das crianças era mais uma distração durante o dia e era isso que eu fazia quando Daryl chega na sala em que eu estava.
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Minha luz no fim do mundo
FanfictionHá 10 anos, os mortos não morrem de verdade. Há 10 anos, Daryl Dixon enfrenta os próprios sentimentos de dor, perda e luto sem nunca se permitir sentir amor por alguém que não fosse sua família. Além disso, é um homem que não sabe demonstrar seus se...