Capítulo 13: Pensamentos confusos (sobre amor)

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Daryl Dixon P.O.V 

Eu não aguento mais a porra da minha cabeça, simples assim.

Se a voz de Jerry não tivesse nos interrompido, eu provavelmente teria me levantado as pressas. Vê-la tão perto de mim, seus olhos castanhos parecendo imãs atraindo os meus, me fez perder a noção do que seria certo e me deixou paralisado. Mas, ah, eu teria saido.

Eu não sou tão estúpido. Eu sei o que poderia acontecer. Ela estava muito perto, sua respiração ficou irregular e eu sentia a sua aproximação cada vez maior. Ela iria me beijar.

Beijar!

Puta que pariu. Se Merle pudesse ler meus pensamentos, ele ia rir tanto que iria fazer xixi nas próprias calças. Iria me chamar de maricas, e eu ainda iria levar um soco. Merecido, Dixon.

Eu não consigo nem lembrar de como foi o último beijo que dei. Foi antes dessa merda toda, claro, e foi algo apenas físico, algo da qual me arrependia todas as vezes. Algo assim tão... próximo nunca foi fácil para mim. Pior agora, em um mundo morto onde as pessoas vivas não tinham humanidade, não havia espaço para isso. O mundo de agora, eu não gostava dele, mas eu fui feito para essa merda. E nessa merda, em mim, não tinha espaço para essas coisas.

''Você não pertence lá fora'' disse Aaron quando chegamos em Alexandria, quando eu não conseguia lidar com a quase normalidade dentro dos muros. E como eu podia ficar confortável em algo tão normal, se nem quando o mundo era o de antes eu tive isso ?

Eu sei que depois de tantos acontecimentos, eu quebrei uma barreira. "Você precisa se deixar sentir." Carol disse para mim após a morte de Beth, tantos anos atrás. E eu cedi aos poucos. Foi difícil mas eu me permiti.

Me permiti sentir todas as perdas, todas as dores, e eu quis desistir. Mas com eles vieram outros sentimentos em relação aquelas pessoas que sobreviveram a tanto comigo: eu os amava, simples assim. Amor, algo que nunca tive antes, encontrei de alguma forma no fim do mundo. Um amor de irmandade, de família. Nunca precisei dizer isso para ninguém, e sabia muito menos demonstrar com palavras, mas eu sei o que eu sentia, fazia meu papel para protegê-los e isso bastava.Mas parecia que sempre eu perdia alguém. 

''Não foi culpa sua.'' dizia Rick. Mas era. Sofia, Hershel, Sasha, Beth, Denise, Abraham, Glenn. Faziam tantos anos mas eu sei que eu poderia ter feito mais. Eu poderia ter feito mais.

E ali, com Katarina, as coisas iam além do que eu sabia lidar. E como eu poderia saber? Como eu poderia deixar Katarina chegar tão perto a ponto de romper mais essa barreira em mim? E se ela rompesse, e de repente, eu simplesmente a perdesse, como sempre perco os outros ? 

Ela já tinha quebrado muros que eu construí fortemente todos os dias da minha vida e quase nem percebi. Encarar os olhos de alguém? Com ela, eu conseguia. Mãos dadas ? Também. Abraço? Já era algo que eu quase pedia. Eu brincava com ela da forma que brincava com Carol, e eu fui sincero quando disse que ela já tinha se tornado família, mas ainda ia além, era algo maior. O que era exatamente?

''Maricas'' quase pude escutar Merle falando.

Por noites dormi ao seu lado de forma inocente, apenas querendo que ela ficasse bem. Eu sentia uma necessidade de querer vê-la sorrindo. Sua presença era cada vez mais importante, e eu já me via quase que viciado na sua proximidade, na sua voz, no seu sotaque, nos seus olhos. Era estranho.

E porque?

Eu cuido das pessoas que são minha família mas tinha algo diferente ali. Como ela ocupou um espaço na minha cabeça tão rápido? E pior, o que ela ia me causar ocupando um espaço ainda maior ? Isso não era eu.

Minha luz no fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora