Capítulo 2: Hilltop e uma revelação

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Quando Daryl voltou da caçada, eu estava com os pés dentro do rio. Conclui que deveriam ser por volta do meio dia, baseando - me na posição do sol, mas as nuvens estavam deixando o dia escuro. Na verdade não sei porque nunca fui muito boa em saber qual era o horário do dia apenas observando a posição do sol. 

Estava frio mas não tanto, e a água gelada estava ajudando a clarear minhas ideias. O melhor a ser feito era permitir que o homem, Daryl, me levasse a esse acampamento que ele diz ser seguro. Mas seria realmente seguro ? Ele estaria dizendo a verdade ? Não se pode confiar em ninguém nesse mundo e isso faz com que eu fique totalmente confusa. 

Eu nunca fui uma pessoa desconfiada dos outros. Eu era atenta, reservada, esperta mas nunca achei que as pessoas eram mais trevas que luz. Contudo, isso era antes. Hoje, o mundo é outro e as pessoas também. 

Pensei em Claire. Minha breve amiga e uma das únicas pessoas vivas que sinto falta, mostrando que nem todo mundo virou um psicopata. Assassinos todos viramos, claro, mas isso é outra história. Então, confio nele ? 

O homem chegou perto de mim com 3 esquilos amarrados na cintura com uma corda. Levantei os olhos enquanto ele baixou o olhar para mim.

- Eu fiquei. - digo

- Percebi. - ele diz e senta ao meu lado, apoiado numa árvore na beira do rio. - Preciso saber uma coisa antes.

- Diga. - falo, olhando para os olhos azuis dele.

- Seu acampamento realmente não existe mais ? - ele diz, começando a tirar os esquilos da corda e pegando uma faquinha do bolso.

Hesito antes de responder:

- Sendo sincera existe sim, mas é longe. Estava viajando faz uns 10 dias antes de você me achar na floresta. Fica bem mais ao Norte do país do que aqui, seja lá onde for aqui exatamente. Eu falei que não existe mais porque não há mais nada lá para mim. Eu fugi. - confesso parte da história.

Enquanto começa a tirar a pele do animal com a faca, fazendo uma grande bagunça na qual todo mundo já esta acostumado a esse ponto, Daryl diz:

- Entendo. Estamos relativamente perto de Washington, caso você queira saber. Ás vezes temos que fugir mas muitos não tem a sorte de sair de um local...ruim com vida, então sorte a sua. - ele diz com mais seriedade e atenção que o normal até então, mas sem transparecer muito mais emoções. 

- Então, você realmente vai me levar para um acampamento ? Onde fica ? Qual o nome ? Como você sabe que vão me aceitar ? - disparei varias perguntas, como uma criança.

Daryl olha pra mim como se eu estivesse falando demais, o que eu provavelmente estava, antes de responder:

- Você vai saber onde é antes de chegarmos lá mas não é longe. O nome é Hilltop, e eles vão te aceitar porque eu sei que vão. E se eu disse que vou te levar, é porque vou. - e de repente ele já tinha limpado 2 dos 3 esquilos. Realmente, o cara de poucas palavras tinha habilidade. - Vai querer comer ?

Assentir e levantei ao mesmo tempo que ele. E assim, seguiu-se o pouco que restava do dia. Ele não falava quase nada além do básico entre palavrões e ''pega aquela lata ali'', ''vai chover mais tarde'', ''vem, cão'' e ''vou pegar água''. Não é muito falante, esse Daryl, mas tudo bem. Eu tinha muito o que pensar. 

Se eu fosse aceita em Helltop, Hilltop, ou seja lá o nome do local, como seria minha vida ? Seria melhor ? Seria tão boa foi no meu primeiro acampamento depois disso tudo ? Lá eu tinha sido razoavelmente feliz na medida do possível nesse mundo morto. Eu era bem mais nova, claro, e não tinha sofrido tudo que sofri até hoje. Agora, com 27 anos, já aconteceu coisa demais, já vi coisa demais e já fiz coisa demais para esperar que a vida seja simplesmente...feliz. 

Minha luz no fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora