Capítulo 18

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  Pelo dia inteiro, o assunto insistente na escola foi os novos alunos.
  O grupo chamava atenção por onde passava, suas aparências diferenciadas atraindo olhares. "Como tinham os olhos tão claros?!" "E os olhos de Yana, heterocromaticos, raríssimos!" "E os cabelos, céus, parecem brilhar!".

   Daniel ouviu tudo durante as aulas e pôde sentir os olhares sobre sua costa quando o grupo se juntou a ele no refeitório, nenhum deles comia de verdade, apenas se sentaram, jogando pedaços de comida um na boca no outro, conversando e rindo baixo, totalmente relaxandos no espaço barulhento que era o espaço retangular cheio de mesas e cadeiras onde os alunos comiam.

—Onde está seu amiguinho?–Karu pergunta a Daniel com o olhar atento ao redor, seu nariz se contraindo quando ele funga, tentando captar o cheiro do garoto de cheiro estranhamente sobrenatural.

—Ele ja deve chegar...–Responde dando uma mordida em seu terceiro mini-sanduíche,  ele tinha meia dúzia daquelas delicias que ele so achava no refeitório da sua escola, nem mesmo sua mãe conseguia imitar a receita. Dito e feito, o garoto entra no refeitório, agitado e nervoso, passando as mãos por sobre os cabelos crespos completamente trançados em drags, ao avistar o grupo, da meia volta, pronto para voltar por onde surgiu, mas Karu se levanta, espalma as mãos sobre a mesa e com um largo sorriso que faz seus irmãos arregalarem os olhos, ele fala alto o suficiente para o refeitório ouvir.

— CAIO! Não fuja, vem cá, vamos comer!–Chama e o garoto trava, uma mão esticada para a porta, ele abaixa o braço devagar, tenso, suspira e se vira, andando a passos duros até o grupo, lança as pernas no banco e se senta, cruzando os braços.

—O que?–Pergunta mordendo os lábios, os olhos de Karu seguindo o movimento, seu sorriso sem vacilar no rosto.

—O que você é?–Yana pergunta, sorrindo de lado e mordendo um cupcake, Caio fica palido e olha para Daniel —Ignore-o, Caio, fale comigo, o que você é?

—E- eu não sei do que está falando...–Tenta se levantar, mas a mão pálida da garota cobra a sua, segurando-o no lugar.

—Não me reconhece, Caio? Não reconhece meus olhos?–Sussura baixo, ele deixa a cabeça tombar e começa a analisar o rosto da garota, os olhos heterocromaticos e a forma que brilhavam com selvageria indomável, sua expressão se contorcendo, os próprios olhos se arregalando e a boca aberta em choque, ele encara Daniel, que acena com a cabeça, confirmando.

—Você...você é Flocus!–Exclama. — A loba de Daniel, você é uma lobisomem!

—Todos nós!–Concorda e indica com a cabeça sua família, todos acenam —E você, o que é? Sentimos a estranheza do inibidor de cheiro.

—Bruxo...–Sussura o garoto, ainda pálido, os olhos na direção de Daniel —Sou um bruxo.

—Sabia!–Exclamam Dia e Kai juntos e olham para Marluon em sincronia.

–Pode indo pagando, cabelo de fogo!–Kai ri estendendo a mão, o ruivo bufa, mas entrega dez dólares ao garoto que entrega metade ao gêmeo.

—Não acredito que apostaram para saber de que espécie ele é...–Resmunga Karu, mas logo para e observa os irmãos —Não, eu acredito sim, é a cara de vocês fazerem isso!

—Apenas negócios, querido irmão, apenas negócios!–Pisca Dia guardando o dinheiro, seu sorriso pegando de lado a lado como o do irmão.

—Daniel...–Começa Caio, olhando para o de cabelos castanhos que tinha o cenho franzido.

—Está tudo bem, eu só...da noite pro dia minha vida deu um solavanco, descubro que o sobrenatural existe, que minha loba na verdade é uma lobisomen e meu melhor amigo é um bruxo!–Esguaniça. Balança a cabeça em descrença, um riso fraco saindo pelos lábios —É muita informação.

—Eu entendo...–Passa as mãos pelas tranças, nervoso —Se não quiser mais falar comigo...

—Está doido?! Você é meu amigo, sendo bruxo ou não. Eu so preciso assimilar tudo!–O interrompe o olhando sério.

—Tudo bem...–Concorda Caio.

—Por que você usou inibidor esse tempo todo? O efeito está sendo ao contrário de tanto uso, sabia? Você virou um alvo ambulante, seu cheiro da pra ser sentido de longe! –Karu diz e sua irmã concorda.

—É melhor parar de usar, ou vai ter consequências não muito agradáveis para você!– Fala a garota enquanto usa o garfo para indicar o corpo dele. —Nada agradáveis.

—Eu não queria que algum sobrenatural me reconhecesse, a maioria são tão...

—Soberbos?–Completa o ruivo, um sorriso de canto.

—Sim! –Concorda Caio suspirando —Minha família sempre morou no meio dos humanos e por isso sempre fomos taxados de burros. Eles sempre se acham melhores, mais isso, mais aquilo! Por isso dos inibidores, mas pelo jeito, deu errado.

—Muito errado!–Dia ri baixo.

—Bem...–Começa Karu, o olhar pensativo — Não é que eu me ache melhor que os humanos, mas nós somos mais fortes, nós somos mais inteligentes, e nós chegamos a idades bem mais avançadas que eles.

—Isso é verdade!–Murmura Kai.

—Ta, tudo bem, pode até ser. Mas isso não significa que por isso eles devam ser rebaixados e caçados!

—A caça a humanos é proibida...–Yana frisa, franzindo o cenho. Caio bufa e responde afiado.

—Como se isso impedisse a maioria de atrocida-los.

—Estão falando de assasinar pessoas?–Daniel pergunta, pálido, recebendo a atenção do grupo.

—Sim. Para muitos isso não é nada, é a mesma coisa que vocês fazem com os animais, matam e comem, simples.–Marluon explica, revirando os olhos.

—Mas são humanos!–Esguaniça.

—Todos os seres tem consciência, os animais tem tanta mais quanto os humanos, seus valores até mais elevados. Os humanos foram, por muito tempo, nossa maior caça, não os animais comuns, mas com o tempo isso foi mudando, vocês finalmente começaram a tomar juízo e pararam de ser um tanto ignorantes ao mundo verdadeiro. Quando vocês começaram a se questionar sobre nós, a evoluirem, os lideres baixaram um decreto, proibindo a caça a vocês.—Karu diz simplesmente

—Mas muitos ainda o fazem. –Completa Caio, os lábios apetados em uma linha fina.

—Sim...–Concorda Karu –Muitos ainda o fazem.—Ambos se encaram, longos segundos se passam, até que Yana se levanta, fazendo ambos enrusbecerem e desviar o olhar.

—Bom, conversamos no fim da aula, ok?– Nessa hora a campainha toca,  fazendo cadeiras serem arrastados, os alunos saem em grupos ou sozinhos. Yana lança um olhar de esguelha para Daniel antes de sair do local, seus irmãos e primo atrás dela, como guarda costas, o burburinho e exclamações admiradas seguindo o grupo.

Daniel se levantando, pensa por um momento, se perguntando se o grupo que se afastava olhava uma vez para tantos os humanos ali reunidos e não sentiam vontade, a natureza, de os abraçar e rir com eles, mas sim de se transformarem ali mesmo, arreganharem os dentes afiados e mancharem aqueles corredores com sangue, sangue deles, dele. Um estremecimento o percorre e balançando a cabeça, ele se distância.

 ᴏ ᴜɪᴠᴀʀOnde histórias criam vida. Descubra agora