Capítulo 26

191 42 9
                                    

  Demorou um pouco para Daniel se acostumar a ficar mais de 4 metros acima de chão e, quando se acostumou, o grupo parou.

Ja era noite e eles acampavam, os únicos em forma humana era Daniel e Caio que estavam empacotados da cabeças aos pés, mas mesmo assim ainda sentiam um leve frio se infiltrado sobre as roupas grossas.

Dois coelhos assavam acima de uma fogueira pequena, o fogo acesso por Caio, os animais caçados por Karu e também tratados por ele bem longe do acampamento para deixar qualquer predador que se faça de engraçadinho longe deles.
   Os gêmeos já estavam deitados, um de cada lado de Felix, para caso o trasformado tentasse a sorte de explorar as terras perigosas onde estão. Suas cabeças e caldas se encostavam, formando uma pequena cerca ao redor do menor, que estava encolhido no meio deles, o sono ja havia encontrado os três.  Karu, Kauê, Marluon e Yana estavam um pouco distantes, conversando em tom baixo demais para alguém com a audição comum escutar. Ja Daniel está escorado em Caio, os dois perto da fogueira e comendo partes dos coelhos que ja estavam assadas, nenhum dos lobos haviam comido, Yana explicando que comeriam no dia seguinte quando chegassem na alcatéia porque eles haviam caçado antes de começarem a viagem, na verdade, ela havia acrescentado, eles conseguiriam ficar pelo menos mais duas semanas sem comida antes de terem a necessidade de comer, o olhar faminto que um Felix em forma de lobo dava para os coelhos antes de cair no sono fazia Daniel questionar se aquilo era verdade mesmo. Ou talvez só fosse seus novos instintos querendo que ele comesse qualquer coisa que estivesse sangrando, bem, não teria como um humano saber de qualquer forma...

— Ja chega pra mim. – Caio fala e para de comer, deixando metade do coelho intacta, Daniel também para de comer, ja estavam mais que satisfeitos.

— Acabaram? – O quarteto volta de sua conversa, Karu trotando a frente e observando os dois com atenção.

— Sim, estamos cheios, agora eu só quero dormir. – Caio responde e estica os braços acima da cabeça, entrelaçando os dedos e bocejando longamente, Karu ri baixinho e anda até um manto deixado sobre a neve, o pegando com a boca e o lançando sobre seu corpo no mesmo momento que seu tamanho diminui drasticamente, agora em forma humanoide, ele amarra o laço a frente do manto e dá o nó antes de se virar de frente para os dois.

— Cara, isso não doi? – Caio aponta seus pés descalços sobre a neve e sua nudez em si por baixo do manto, o mais velho ri, negando e pegando uma das bolsas, a abrindo e tirando de la um pote.

— Não, na verdade quase não sinto frio, nossos corpos suportam altas e baixissimas temperaturas. – Da de ombros e volta para perto da fogueira, pegando o resto dos coelhos e colocando no pote, se levanta e guarda a comida lacrada na bolsa.

E mesmo quando nós tentamos sentir algum calor a mais...– Uma pata pisa sobre a fogueira, a cobrindo totalmente, ambos os garotos abrem a boca, surpresos quando o fogo xia e apaga embaixo da pata peluda de Marluon que nem se meche. — So sentimos um calorzinho.

— Ah, cara, minha fogueira! – Caio choraminga e faz bico. — Eu ia usa ela pra dormir quentinho.

Não podemos arriscar uma fogueira a noite. – Yana fala quando seu primo se afasta, rindo da cara dos dois. — So acendemos ela para que vocês pudesse comer, não precisarão dela para se esquentar.

— Como nos esquentamos então? – Caio bufa, cruzando os braços, suas tranças curtas balançando com o movimento. Uma risada baixa é solta por Karu que estava novamente em forma de lobo, ele se aproxima e puxa o garoto com cuidado pelo capuz de seu casaco térmico, fazendo ele ficar em pé. — Ei, eu não sou uma boneca pra você me levar pra la e pra cá.

— Vem, eu te mostro. – Diz ignorando os protestos do menor e guia o garoto para uma das lonas postas no chão, deixadas la para que nenhum dos dois garotos tivessem que deitar direto na neve. Caio se senta na lona, revirando os olhos e cruzando os braços novamente, o lobo ignora sua birra, o rodeia duas vezes, deixando Caio confuso, e então se deita, se enrolando em torno do garoto que solta uma exclamação surpresa.

— Cara... – Diz, o garoto nem aparecia no meio de Karu, seu tamanho sendo minúsculo comparado a um lobo de quase 3 metros. — Aqui é quentinho.

Va dormir, bruxinho. – É a única coisa que o lobo diz, ambos se calando logo em seguida.

Está com sono? – Yana pergunta se pondo a frente do humano, que tenta negar, mas um bocejo escapa de seus lábios, que faz com que a loba ria baixo, acenando em direção a lona livre, o garoto suspira, mas se levanta, batendo a neve de sua roupa e andando em direção a lona, Yana o seguindo calada.

  Daniel se senta na lona, bocejando mais uma vez, inconscientemente se encostando no corpo quente atrás de si, ele nem tinha visto quando a loba tinha deitado ali. Yana se enrola ao seu redor, como Karu havia feito com Caio, seu fucinho virado para dentro do casulo, sua respiração quente batendo contra o rosto gelado de Daniel, o esquentando.

O garoto se permite relaxar, estava quente e confortável ali e não demora para que ele caia no sono.









Daniel acorda quando sente Yana tensa sobre si, não ao redor, mas acima dele, o protegendo com seu corpo.

— Flocus...? – Chama baixo.

— Shiu, fique quieto, vai ficar tudo bem. –  Sua resposta não passa de um sussuro.

Olha para um lado, não vendo mais que a floresta escura, então olha para o outro, encontrando o resto do grupo sendo iluminados apenas pela lua, todos estavam acordados, os lobos tensos, os pelos arrepiados e os dentes expostos, Caio também estava acordado, agarrado a perna dianteira de Karu que estava inclinado sobre ele, como Yana estava sobre si, o protegendo com seu próprio corpo. 
   Então ele ouve, um rosnado que faz com que seus pelos se arrepiem e seu corpo tencione. E o que surge no meio das árvores faz com que Daniel se levante, assustado demais para fazer qualquer coisa além de arregalar os olhos.

Se os lobos que o cercavam eram grandes, aquilo, - sim, aquilo, ja que ele nem sequer sabia que merda era aquela coisa, so que era assustador, muito – aquilo era gigante. Yana e Kauê que eram os maiores do grupo tinham pelo menos uns 4.50 metros de altura no máximo, mas aquilo parecia ter pelo menos uns 9 metros!

A coisa tem espinhos para todos os lados, como um porco espinho, Daniel sabe disso porque todos eles estão eriçados em ameaça, os malditos quatro olhos se fixam nas duas menores figuras do grupo, Caio e ele. Ele avança dois passos, suas patas saindo do escuro, garras longas e afiadas clicando umas nas outras em cada passada, todas ligadas a patas que esmagariam um crânio humano como se fosse uma pipoca no chão.

Daniel, quero que vá com Caio, Karu e Marluon irão protege-los, entendeu? – Yana murmura e anda devagar para o lado, Daniel, mesmo que assustado, a acompanha.

— Sim. – Responde simplesmete e quando a fêmea da o sinal, Daniel corre como nunca para debaixo de Karu, Caio agarrando seu braço, o outro ainda agarrado a perna peluda.

É então que o pandemônio acontece.

A coisa, atraída pelo movimento de sua pequena caça, avança com tudo, Kauê e Yana então avançam em conjunto, correndo na direção do monstro, que também não para seu avanço. Felix, nervoso e nem um pouco acostumado com os seres do seu novo mundo, guincha, assustado, e consegue escapar do aperto dos gêmeos que o protegiam, fugindo para a floresta atrás de si. Ambos não exitam em correr atrás dele, sabiam sua missão e não deixariam o fujao morrer na floresta quando a alfa o queria vivo. Karu e Marluon se põem a frente do bruxo e do humano, prontos para atacarem se preciso.

Mas não é preciso, Yana e seu pai se lançam contra o monstro, com força o suficiente que faz com que, mesmo com seu imenso tamanho, ele tropece e caia para trás, os três rolando floresta adentro numa confusões de garras, mordidas, ganidos e rosnados.


Os quatros restantes olham ao redor, dois assustados e dois atentos.

— PUTA QUE PARIU, VOCÊS VIRAM O TAMANHO DAQUILO?! – Caio grita então, fazendo com que os três o encarem confusos. — Acho que vou desmai...

Então o garoto cai, sendo aparado pelo amigo que quase cai junto por culpa do peso do outro. Daniel olha ao redor e enquanto deixa o amigo no chão com cuidado, ele só consegue pensar numa coisa.

Como é que sua vida virou essa confusão toda?

 ᴏ ᴜɪᴠᴀʀOnde histórias criam vida. Descubra agora