Capítulo 2

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Ela não havia dormido a noite toda, não havia conseguido pregar os olhos um só momento e não conseguiria fazê-lo até se acostumar com aquela nova idéia de casa.

    O pai e a mãe já haviam acordado e estavam conversando em algum lugar da casa enquanto faziam o café da manhã, ela não ligava. Pezinhos pisam no chão acima de sua cabeça, agora ela ligava, sua cauda já estava balançando demonstrando seu sentimento ao ouvir o garoto andar pela casa, os pezinhos estavam se aproximando em um tum tum enquanto descia as escadas, ela já estava em pé na gaiola onde a haviam deixado e olhava para a porta em expectativa.

    -Bom dia,filho! Aonde você vai com tanta pressa?-A mulher pergunta demonstrando curiosidade.

    -Ver ela!-Responde o garoto antes de abrir a porta do lugar onde a loba estava o esperando.

    -Não pegue nela, Daniel, ela ainda é um animal selvagem!-O homem alerta antes do garoto fechar a porta atrás de si, os dois só ficam ali se olhando por um momento antes do garoto dar um sorriso tímido e andar na direção da gaiola.

    -Oi,garota…-Diz se agachando na frente da gaiola. Oi,garoto… - Você já parece bem melhor,isso é bom! Ignorando o que o pai disse, se inclina para frente e seus dedos ultrapassam as barras da gaiola, por um momento a loba hesita até que se inclina e deixa o garoto lhe acariciar a cabeça delicadamente. -Fiquei preocupado com você… 

Já estou bem,não precisa mais ficar preocupado, querido… 
  -Espero que você possa ficar, seríamos melhores amigos, poderíamos passar o dia todo juntos, eu te contaria tudo, como melhores amigos fazem! Sua mão desce e fica o que seu pai consideraria perigosamente perto das presas da loba que só inclinava a cabeça na direção do aconchego que recebia, seus olhos grudados nos dos garoto, prestando atenção a cada palavra. -Se você ficar,eu vou cuidar de você todo dia, dou banho, levo pra passear,até pra caçar se você não quiser comer a comida de cachorro, prometo cuidar de você pra sempre ! 

E eu de você, pequeno, prometo com a minha vida,nada vai nos separar!

    -Filho! Te disse para não chegar perto! -O calor de sua palma some e uma raiva invade a loba que rosna alto olhando para o homem que tirou o menino de perto de si. -Ela é um animal selvagem!-Brada para o garoto o segurando pelos ombros,um latido alto o faz olhar para a loba na gaiola que andava de um lado para o outro nervosa.

    -Ela não ia me fazer mal!-O menino escapa das mãos do pai e cruza os braços.

    -Não é o que parece!-Indica a loba nervosa que rosnava com o queixo e o garoto faz uma careta raivosa.

    -Você a assustou!

    -Meninos,parem com isso!-Kaiana entra na sala e encara pai e filho com uma expressão séria -Daniel, não devia ter desobedecido seu pai,e Sebastian, não assuste a pobre loba desse jeito,ela nem se recuperou direito!- Com um olhar admirado, a loba percebe quem manda na casa quando o menino pede desculpas e o marido suspira andando até ela e lhe beijando a face.

    -Tudo bem, só estou estressado por causa do trabalho, Daniel, vamos a clínica hoje, vá se arrumar, depois que você comer nós vamos! -Daniel lança um último olhar para a loba em despedida e saí da sala  - E você… - O olhar do homem se encontra com olhos heterocromáticos, um azul e outro verde claro que o faz perder o ar por um minuto, ele não havia prestado atenção nos olhos da loba até agora, eram lindos -Tenho que examinar seus pontos, vai ser uma boa menina, não é?- Sebastian poderia jurar que uma expressão sarcástica cruzou o rosto da loba antes da mesma se deitar calmamente,encarando o casal.

Depende era o que a loba parecia dizer.

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    Haviam saído a alguns minutos e ela estava deitada no chão da gaiola retirando os acessos que estavam presos em sua perna dianteira direita, Sebastian a havia examinado depois de anestesia-la, mas dessa vez a mesma ficou acordada e pode ver com grande clamor a expressão surpresa do veterinario ao constatar o grande avanço da loba em sua recuperação, a cicatrização da ferida já estava pela metade, a loba teria rido da expressão do doutor, isso se a forma a qual se encontrava lhe desse essa possibilidade, mas não dava.

     Terminando seu trabalho ela se levanta e olha para a grade da gaiola, frágil demais, suas presas e garras fazem o trabalho de quebrar a grade rapidamente e seu corpo esguio sai da gaiola evitando as pontas de ferro que poderiam lhe ferir, ela já havia estourado a cota de machucados que queria "ganhar". Ela podia ouvir passos e uma doce voz cantando e foi nessa direção que ela seguio, saiu do escritório onde estava e passou por uma sala de estar onde uma escada levava para o segundo andar, seguindo reto ela passou pela sala de jantar e encontrou uma cozinha estilo americana onde a mulher estava de costas para ela, lavava as louças e cantava baixinho.

    A loba se esqueirou para baixo de uma mesa que tinha na cozinha e observou a mulher, ela tinha de ficar naquela casa, perto do garoto, e para isso acontecer, tinha que conquistar, uma coisa que ela aprendeu em seu treinamento foi conquistar, dividir e conquistar eram coisas fáceis quando se tratavam de batalhas, mas ali era outro caso, ela teria que conquistar ao todo,não de maneira sangrenta,mas com carinho,teria de parecer inofensiva,aqueles pais eram protetores com seu filhote e não iriam querer um animal selvagem descontrolado em sua casa e se ela tivesse que parecer dócil para ficar lá,ela iria parecer o animal mais dócil que o mundo já viu.

    Kaiana lavava as louças uma a uma com calma e cantava músicas que sua mãe cantava para si quando a mesma era criança,estava terminando de lavar uma faca grande que usava para cortar carnes congeladas e alguns ossos quando a refeição que estava fazendo dependia disso, deixando a faca na parte alta da pia virou-se para continuar a lavar as louças,mas seu quadril bateu na faca que escorregou para fora da pia,arregalando os olhos Kaiana não tem tempo de pensar, porém ao fechar os olhos com medo e esperar que a faca cortasse seu pé ela é puxada para trás, a mesma tropeça e cai de bunda no chão,arfando abre os olhos e observa a faca que estava cravada no chão onde a alguns segundos estava seu pé. Lembrando que foi puxada olha pro lado atrás de quem a puxou e encontrou a loba a sua direita,com um grito ela se levanta assustada ,mas tampa a boca com a mão ao se lembrar de não assustar animais selvagens, como se levasse um choque ela percebe o que aconteceu.

     -Você me puxou…-Diz e lentamente toca na parte de sua camisa onde ficou úmida com a saliva da loba que se deita no chão como se dissesse Se não tivesse puxado, você teria uma faca encravada no pé agora,aliás, de nada. Kaiana observa a postura relaxada da loba que a observava curiosa, mas não atenta e arisca como animais selvagens, principalmente jovens como a loba era,Sebastian tinha dito para a esposa que a loba não podia ter mais de 6 meses. Era apenas um filhote.

    -Calma menina…-Diz em um tom baixo e tentando demostrar calmaria.

Você que deve se acalmar, está tremendo!

Andando devagar ela da pequenos passos observando a reação da loba que continua deitada, as orelhas levantadas e o rabo balançando levemente.

    -Você não vai me atacar, vai?-Sua resposta é a loba rolar e ficar de barriga para cima, a mulher trava no lugar e franse o cenho, agora quem demonstrava curiosidade era ela. Se agachando levemente a mulher de longos cabelos escuros se aproxima da filhote, estica a mão levemente atenta a qualquer sinal de agressividade e afaga a cabeça da loba que abre a boca deixando a língua pender de lado.

    -Você é uma boa menina, não é mesmo? -Abaixa seu carinho para a barriga da filhote que se remexia gostando do carinho, então a mulher se deixa sentar junto com a pequena bola de pelo- agora sujo- e aproveitar de sua companhia.

-Você está suja, nem consigo ver a cor verdadeira de seus pelos com tanta sujeira. Que tal um banho, pequena? Você precisa de um banho.  Se levanta sendo acompanhada da loba que a rodeia algumas vezes animada, ambas vão até o banheiro do primeiro andar da casa, a mulher, mesmo temerosa, mantém uma mão por cima da cabeça da loba lhe acariciando o pelo o tempo inteiro demostrando certa confiança na pequena loba, era exatamente aquilo que ela queria.

    

 ᴏ ᴜɪᴠᴀʀOnde histórias criam vida. Descubra agora