Capítulo 9

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  O início dos jogos de hoquei era uma das coisas mais esperada por todos da pacata cidade localizada ao norte do Canadá. Era o primeiro jogo da temporada e Daniel já estava no gelo com seus companheiros de jogos, muitos deles eram seus amigos íntimos que o mesmo conhece a anos, seu time era o melhor da cidade, raramente perdiam um jogo e sempre se destacavam.  Um dia seus pais perguntaram a ele se era isso o que o garoto queria, ele amava jogar, adorava a adrenalina de delizar sobre o gelo, mas faltava algo, ele não sabia o que...

   Vira sua cabeça para olhar a arquibancada, sua família já estava lá, Sebastian havia cancelado todos seus compromissos, sua mãe pediu um dia de folga do colégio onde dava aulas para o primário e Bianca não precisou de desculpas, sua escola havia declarado férias nos dias que tivesse jogos, porque os jogos aconteciam nos estádios da escola primária de Sant Ana, era onde a caçula da família estudava. Ele examinou com os olhos as pessoas ao redor de sua família, não, nenhum sinal de um rabo branco balançando ou do latido já tão conhecido por ele, Flocus não estava presente. Seu pai, ao notar o olhar do filho levanta as mãos até a altura dos ombros e faz uma expressão que o jovem sabe bem interpretar "Nos não achamos ela".

Sua companheira de todos os dias estava cada vez mais, mais distante,  era cada vez mais difícil encontra-la, a loba saía de madrugada e voltava quando todos dormiam. Daniel quase não encontrava a fera e mal conseguia dar um carinho na mesma antes que ela fugisse de seu toque e corresse porta afora.

   Até que ela surgiu, uma garota, tinha uma altura considerada mediana, talvez 1.70, o vestido branco que usava era levemente maior que seu corpo, os cabelos acabavam em sua cintura. A pele era levemente pálida, as bochechas rosadas lhe davam um ar angelical, Daniel quase perdeu o fôlego ao analisar seus olhos, eram bicolores, um azul e o outro verde, mesmo estando longe ele se arrepiou ao olha-la, era linda! Ela lhe lembrava alguém, porém ele não sabia quem exatamente...

    ... A água gelada parecia lhe atravessar o corpo como facas, ele rodopiava com a corrente, era inútil lutar contra uma força da natureza, seus pulmões clamavam por ar e, mesmo sabendo que não encontraria seu tão querido oxigênio, puxou em um ato de desespero pelo nariz, a água entrou pelo nariz e desceu pela sua laringe, ele engasgou.

Seus olhos estavam ficando pesados, ele não tinha forças, não estava sendo levado pela correnteza e afundava lentamente, olhava para cima, sua última visão seria aquela? Era lindo ver o reflexo do sol contra a água quando se está de baixo dela. Uma luz... Um balançar e então alguém estava nadando em sua direção rapidamente, seus olhos fechavam... cabelos loiros, pele branca e os olhos... ele não sabia dizer, verdes ou azuis? Não tinha certeza. Uma mão agarrou o colarinho de sua camisa e ele se deixou abater pelo cansaço   ...

  O sinal do início do jogo lhe desperta e em um rompante ele se lança contra o time adversário, ele era o atacante do seu time, "o melhor de todos os tempos" como todos falavam. Ela ficou na última fileira observando com olhos atentos o jogo, não dizia nada, nem participava dos "Oleee, timeeee" cada vez que os wolfes faziam um ponto, muito menos fazia um movimento quando o time adversário lançava o disco contra a trave do time de Daniel. Quando o jogo acabou e Daniel teve mais tempo para olhar na direção da desconhecida, conseguiu apenas ver uma cabeleireira loira sumindo entre a multidão.Eles venceram.

  -Cara, aquele último gol, nossaaa, foi perfeito! - Ri jogando os braços por sobre os ombros largos de Daniel que revira os olhos com um sorriso de canto nos lábios - Olhem todos, Daniel Boss, senhoras e senhores, o melhor atacante de toda a história!- Fala como se fosse um locutor e começa a ovacionar e a balançar as mãos como se fizesse um passo de jazz.
   Caio, o capitão  do time wolfes sempre exagerava  quando falava de Daniel, um de seus orgulhos do time, ambos viraram amigos anos atrás, dois dias depois que Flocus salvou Daniel do rio congelado quando o garoto recebeu alta dos pais para sair na rua, Caio o encontrou quando ambos andavam na praça, criança e fera, lado a lado, isso até serem parados pelo garoto  " Ei, você é o menino do gelo quebrado, não é mesmo?" Foi a primeira coisa que o garoto de pele escura e sorriso gigante e extremamente branco perguntou, Daniel soube pelo jeito que Flocus agiu que não precisava temer e sorriu antes de responder rindo "Sou sim, me chamo Daniel, essa é  Flocus!"

-Da pra parar? -Daniel revira novamente os olhos antes de dar um beijo na bochecha de despedida em sua namorada que está indo embora junto das amigas que lhe deixarão em casa de carro - Sou só um jogador, e ainda mais, não conseguiria se não fosse sua defesa!

-Fazemos uma ótima dupla!- Afirma Caio antes de olhar de esguelha para o garçom que passava, o mesmo estava a dias de olho no jovem, era um Brasileiro de sorriso largo e pele bronzeada que chegou na cidade a pouco tempo, Caio era bissexual e nunca escondeu de ninguém sua sexualidade desde criança, e ninguém fazia brincadeiras de mal gosto com o garoto de cabelos negros ou sofreria as consequências nas mãos do time que defendia seu capitão com tudo que tinham, ou do próprio Caio que não era nem um pouco frágil.

- Com certeza, amigo!-Daniel concorda antes de olhar para seu relógio, estava na hora do mesmo voltar para casa, então o moreno levanta põe duas notas na mesa e fala - Preciso ir, meus pais falaram que eu devia chegar para o jantar. Fale com o garçom.- Sussura a última parte dando duas batidinhas no ombro do amigo antes de sair, a risada de Caio o acompanha até do lado de fora do estabelecimento.

   Com as mãos nos bolsos, Daniel anda em direção a sua casa, estava começando a escurecer e as pessoas já quase não eram encontradas nas ruas. Até que ele sentiu que era observado, o mesmo nunca havia sentido essa sensação, suas mãos mesmo sendo para estarem aquecidas dentro das camadas de roupas, começam a suar e a tremer, ele engole em reco repetidas vezes, não tem coragem de olhar para trás então para saber se está sendo realmente seguido ou não entra em um beco virando a esquerda, ele se arrepende na hora.

  Um rosnado o faz parar, sua respiração se descompassa e o mesmo, devagar, se vira enquanto luta para manter as pernas firmes, seus olhos se arregalam, em sua frente, de pelos extremamente escuros há um lobo intimidador e de aparência selvagem que está pronto para atacar.

 ᴏ ᴜɪᴠᴀʀOnde histórias criam vida. Descubra agora