17.

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Vem, vamos procurar um lugar legal. – Bianca disse e avançou na direção em que elas haviam caminhado no outro dia.

–Para quê? – perguntou Rafaella a seguindo.

–Para o nosso romântico coração. – explicou Bianca.

–Ah. E qual seria a localização correta de um coração na areia da praia?

–Bom, tem que ser um lugar plano. – Bianca pulou um emaranhado de folhas de coqueiro – e a areia não pode ser seca ou molhada demais.

–Já fez muitos? – perguntou Rafaella, involuntariamente.

–Nenhum, na verdade. – respondeu Bianca, enquanto a mineira a alcançava e andava ao seu lado. – Minha ex não gostava muito de praia.

–Hum – fez Rafaella. – Acho que encontrei um bom lugar.

–Nem andamos muito. – observou Bianca para si mesma, observando a mineira correr até o lugar, seus cabelos ficavam brilhantes ao Sol.

Bianca a seguiu.

–Parece bom – avaliou, procurando por algo no chão. – Ache alguma coisa para escrever.

–Eu sou sua escrava, agora?

–É uma oferta?

–Não, idiota.

Bianca achou um graveto um tanto comprido e o estendeu a Rafaella.

–O que foi? – perguntou a mineira, ainda olhando para a ripinha de madeira.

–Desenhe.

–Eu não vou desenhar o coração. Faça você.

–Você não se acha? Deve desenhar melhor que eu.

–Me elogiar não vai me convencer.

–Não foi um elogio. Não diretamente, pelo menos.

Rafaella suspirou, pegando o graveto e olhando a areia pensativamente.

–Ok – murmurou, desenhando rapidamente um coração redondinho. – Só isso?

–Está torto.

–Não, não está.

–Está, sim. Olhe. Esse lado está maior horizontalmente que esse.

–Está chamando meu coração de gordo?

–Eu quis dizer cheinho.

–Put... – murmurou Rafaella, apagando com o pé o tal lado cheinho e o refazendo. – E agora?

–Está perguntando minha opinião?

–Você vai dá-la de qualquer jeito.

–Er... Parece bom – respondeu Bianca.

–Então faça melhor.

–Como é?

–Você me fez desenhar isso para me dizer que parece bom? Qualquer um consegue desenhar um coração que parece bom! – e estendeu o graveto para Bianca.

–Você ficou ofendida, só porque eu disse que o coração que você desenhou na areia parecia bom – disse Bianca, pausadamente, tentando acreditar nas próprias palavras.

A frase pareceu chamar Rafaella para a realidade.

–Talvez.

A carioca suspirou.

–É o coração mais lindo do mundo. Pronto?

–Não. Você consegue fazer melhor que isso.

–É um coração digno do diário da... sei lá... Paris Hilton.

Rafaella pensou por alguns segundos.

–Certo. Obrigada.

Bianca rolou os olhos.

–Escreva seu nome aí – pediu.

–Por quê?

–Porque é um coração romântico escrito na areia. E corações assim têm nomes dentro.

–Você mesmo disse que nunca fez um.

–Você é uma puritana mesmo...

A mineira ruborizou, ela suspirou, mas escreveu em letras finas e delicadas seu nome dentro do coração.

–Devo escrever o meu agora? – perguntou Bianca.

–Não é você a especialista em corações de areia?

–Deixa de ser dramática.

Em letras de imprensa, Bianca escreveu rapidamente seu nome acima do de Rafaella.

–Acho que o seu deveria ficar por cima. – observou.

–Depois reclama porque eu me acho. – respondeu Rafaella, ainda olhando pensativamente o desenho. – E isso é estranho.

–Não é isso! É que Rafaella e Bianca combina mais do que Bianca e Rafaella, pense, se fossemos famosas Rabia seria melhor que Biella.

–Não se faça de idiota.

–Então você assume que eu não sou idiota.

–Se você quiser assim, vai ter que assumir que se faz de idiota às vezes.

–Deixa para lá. – respondeu Bianca dando de ombros. – Vamos voltar.

–Ansiosa para fazer o almoço?

–Vou te envenenar.

–Vou pedir para você provar primeiro. – respondeu Rafaella, andando do lado de Bianca no caminho de volta.

–Posso colocar o veneno só no seu prato.

–E eu vou pedir para trocarmos de pratos.

–Então vou colocar no meu prato, achando que você vai pedir para trocarmos de prato.

–E eu vou te enganar e não vou trocar de prato.

–Aí vou ter que ir até a cozinha e jogar minha comida no lixo.

–Você não faria isso.

–Por que não?

–Por que há pessoas passando fome no mundo.

–Se eu comer elas vão continuar com fome.

–Sua consciência é algo fantástico.

Chegaram à porta da cozinha.

–Nem andamos muito – comentou Bianca.

A mineira deu de ombros.

–Vou tomar um banho enquanto você faz o almoço.

–Não se esqueça de arrumar a mesa depois.

–Eu sei. O que vai fazer para o almoço?

–Depende. Que roupa você vai colocar?

–Não sei – respondeu Rafaella confusa.

–Se colocar o vestido verde que eu te dei, pode escolher o prato.

–Qualquer um?

–Qualquer um.

–E se você não souber fazer?

–Eu invento.

–Humm... certo. Vou colocar o vestido verde e você vai fazer espaguete com molho vermelho.

–Só isso? Que fácil. Vou achar que você está doida para usar o vestido.

–Ele realmente vestiu bem – respondeu Rafaella, dando de ombros. – Como qualquer coisa que eu uso – acrescentou, satisfeita.

–Você n...

–Vamos continuar essa animada discussão no almoço – cortou Rafaella. – Me deixe tomar banho e – ela abriu um sorriso – se divirta empregada.

E saiu saltitando, deixando uma Bianca desorientada para trás.

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