21.

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(...)

Rafaella ruborizou.

–Não no sentido literal, claro. – acrescentou Bianca.

A mineirarolou os olhos.

–Só não entorne nada, por favor.

Mas Bianca já havia ido e voltado com copos e travessas na mão; quando Rafaella se sentou na cama, a mesa estava posta diante dela – só que sobre o colchão.

–É. Porque se cair um farelinho no colchão, milhões de vermes subirão nessa cama e te comerão viva. – disse Bianca, tenebrosamente, se sentando ao lado de Rafaella.

–Engraçadinha. Eu nunca como na minha cama. – acrescentou pensativa.

–Eu gosto de fazer isso. Prato?

Rafaella passou o prato para Bianca, que a serviu.

–Hum! Está quente. – exclamou a mineira, pegando o prato por baixo.

Bianca soltou a colher com que se servia e pegou rapidamente uma almofada, a colocando no colo de Rafaella que colocou o prato sobre a almofada.

–Obrigada. – agradeceu.

–Salvei sua vida. Se fossemos romanas, você me deveria servidão eterna.

–Bem vinda à França, então.

Bianca deu de ombros como quem lamenta, terminando de se servir.

Rafaella serviu um pouco da torta no próprio garfo e levou até a boca de Bianca.

–Espera. – disse parando no meio do caminho.

–Hum?

E Rafaella assoprou delicadamente, para esfriar. Qualquer coisa se aqueceu dentro de Bianca. E isso não tinha nada a ver com o prato quente sobre a almofada em seu colo. Não totalmente, pelo menos.

–Está quente? – perguntou a mineira, depois de servi-la.

–Não. – respondeu Bianca, sorrindo. – Mas sabe qual é a melhor parte?

–Não faço ideia.

–Você esfriou minha comida. Você está cuidando de mim.

E Bianca parecia genuinamente satisfeita com isso. A mineira arqueou as sobrancelhas, um pouquinho ruborizada.

–E daí?

–E daí que você não quer minha língua queimada, no fim das contas.

–Lembra do item mais constrangedor do roteiro de hoje? – perguntou Rafaella.

–Humm... o coração na areia? – mas Rafaella semicerrou os olhos para Bianca, que deu de ombros. – Certo, o beijo.

–Exatamente. Eu não quero uma língua queimada na minha boca. – e voltou a servi-la.

–Isso não mudaria nada. Eu consigo te dar o melhor beijo da sua vida com a língua queimada ou não. – acrescentou Bianca, sorrindo de forma convencida, se encostando folgadamente sobre os travesseiros.

–O seu ego... me comove.

–Só fale quando eu lhe permitir, serva. – Bianca afundou nas almofadas tal qual uma poderosa rainha faria. – Sirva meu vinho e me dê comida.

–E o que mais, te chamo de "majestade"? – perguntou Rafaella, cética.

–Sem dúvidas. – respondeu Bianca calmamente. – Onde está minha comida, serva?

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