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–Vamos? – chamou Bianca, baixinho, após alguns minutos.  – O Sol vai se pôr e ele fica mais bonito se o olharmos dali. 

–Vamos. – concordou Rafaella e a soltou. 

Bianca se levantou e estendeu a mão para Rafaella, as duas desceram para mais perto do mar, a mineira afundando os pés na areia molhada. O silêncio estava confortável, porque nenhuma delas estava com a mente longe, estavam de corpo e alma ali, aproveitando cada segundo juntas, andando em direção ao nada de forma completamente segura e foi nesse ritmo casual e impreciso que Rafaella procurou a mão de Bianca e a segurou ao redor da sua. 

Rafaella sentiu primeiro a surpresa de Bianca, depois a compreensão e, enfim, o momento em que a carioca entrelaçou seus dedos nos dela, acariciando-­a com o polegar. 

–Você sente falta disso? – perguntou Rafaella, olhando para o mar e adorando sentir a espuma da água molhar seus pés enquanto andava. 

–Do quê? 

–De... não, de... alguém para... 

–Segurar a mão? – sugeriu Bianca e Rafaella assentiu. 

– Na maioria das vezes. – a carioca suspirou. –Você não sente como as coisas deveriam ser? Foi o que você sentiu mais cedo, olhando o mar, era o cenário perfeito. Se você estivesse sozinha, esse momento teria se perdido, e são esses momentos que eu lamento ter que perder se estou sozinha. Como se uma parte da vida estivesse acontecendo e eu não percebesse. 

Rafaella olhou pensativamente para frente, diminuindo o passo. 

–Eu nunca havia pensado desse modo. 

Bianca apertou a mão de Rafaella mais forte. 

–Mas você já sentiu isso antes, não foi? Como se de repente ficar sozinha mais um minuto fosse te asfixiar. 

Rafaella assentiu, olhando para Bianca. 

–Muitas vezes e eu olhava pela janela e pensava o que estava faltando, o que eu não conseguia ver. Por que de repente tudo se tornou monótono, quente, abafado e sem vida. 

–Porque você precisava de alguém que atrapalhasse a sua vida meticulosamente organizada. 

Rafaella riu dando de ombros. Os raios já alaranjados do Sol batendo em seu rosto a faziam se sentir viva e leve. 

–Talvez.

–Você fica bem quando está feliz. – disse Bianca, diminuindo o passo. 

As bochechas de Rafaella ficaram vermelhas. 

–Obrigada. 

–Gostaria de deixá-­la assim sempre. – disse Bianca, fazendo-a sorrir. 

–Você consegue ser encantadora quando quer. 

A carioca sorriu. 

–Vamos parar por aqui, o sol já vai se pôr. 

A mineira se virou para o horizonte, de fato, o sol estava começando a se fundir com o mar, o céu repleto de manchas que iam do rosado ao alaranjado. Bianca a colocou na sua frente, a abraçando por trás e estremecendo ao senti-­la aninhar-­se em seus braços, era um sensação completamente nova, aquele calor humano, os sorrisos, as pegadas lado a lado na areia. Era incrível, imprevisível e totalmente correto e natural. 

Bianca a abraçou mais forte, e Rafaella fechou os olhos. 

x­­­-x 

Por alguns minutos, tudo parecia perfeito para a mineira, como se ela finalmente estivesse bem, tranquila, aceita, confortada, querida. Ninguém nunca havia dito o quão perfeito um abraço de Bianca poderia ser, o quão a respiração de Bianca em seu cabelo poderia soar natural, o quão Rafaella ficaria bem só por estar perto de Bianca e, por alguns minutos, Rafaella realmente sentiu tudo o que tantas músicas diziam, Rafaella se sentiu amada, e essa constatação, forte e imutável, a fez abrir os olhos e descobrir que o Sol já se fora, que só restavam alguns raios alaranjados e tardios no horizonte. 

Rafaella mordeu o lábio. Estaria sentindo isso mesmo? Estaria Rafaella realmente... Mas seus pensamentos se interromperam quando ela sentiu seus pés na água gelada.  

–Vamos para o mar?– perguntou Bianca com uma expressão pidona.

Rafaella não respondeu, mas sorria de forma tranquila e segura, ela se virou para bIanca a acompanhando em direção ao mar. 

–A água está gelada. – disse Rafaella, uma onda quebrou não muito distante de onde elas estavam e a espuma foi até a cintura dela, a fazendo tremer de frio. 

Bianca andou mais alguns passos, segurando uma das mãos de Rafaella. O vento do começo da noite soprou, fazendo a mineira se retesar sob a água, as mãos de Bianca estavam em sua cintura, a segurando contra si. As mãos de Rafaella estavam apoiadas em seus ombros e suas roupas molhadas estavam grudadas. Bianca se aproximou de Rafaella, que mordeu o lábio inferior, seus narizes estavam a milímetros de se encontrarem e Bianca podia ver em seus olhos que Rafaella estava passando por um furacão de sensações e pensamentos e, em um movimento suave, Bianca se aproximou mais, seus lábios roçando nos de Rafaella. 

–Não percebeu? Esse é mais um momento perfeito. 

A mineira estremeceu quando Bianca a beijou, não foi programado nem previsto pelo roteiro. Foi como deveria ser, impetuoso, calmo, quente, morno, carinhoso e possessivo, uma confusão de sentimentos que a entorpecia. 

Rafaella acariciou sua nuca, seu corpo tremendo, ela nunca havia sentido aquilo antes; nada havia sido tão intenso, tão mágico. Elas se separam no momento em que as primeiras estrelas surgiram, como se elas estivessem se escondendo para dar-lhes privacidade. 

–Agora eu percebi. – sussurrou Rafaella sorrindo. 

O coração de Bianca se acelerou como se estivesse sob o efeito de uma droga alucinógena. Bianca a abraçou mais forte e beijou seu nariz. 

–Eu amo você. 

O tempo parou para Rafaella, tudo entrou em câmera lenta, todas as sensações deixaram seu corpo. Foi só quando Rafaella compreendeu, como se uma gota de água gelada houvesse caído no vazio. 

–Isso estava no roteiro. – murmurou Rafaella. 

–Eu teria dito mesmo que não estivesse. – respondeu Bianca, segura, beijando sua bochecha. 

–Eu...

Rafaella enterrou o rosto na curva do pescoço de Bianca, a abraçando, o coração descompassado. 

–Rafaella? O que foi? – perguntou surpresa. 

–Eu... –murmurou Rafaella. – Eu não posso, Bianca. 

O mundo de Bianca saiu de foco. 

–Rafaella... 

–Eu estou confusa. Eu... – a mineira mordeu o lábio, amaldiçoando-se por falar isso ao mesmo tempo em que o pescoço de Bianca era tão confortável. 

A carioca olhou para o mar por alguns segundos, depois fechou os olhos. 

–Tudo bem – sussurrou Bianca, surpreendendo-­a. – Vamos voltar para casa. Não me diga nada agora. Faça o que você sempre fez: Pense primeiro...

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Boa noitee

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