Capítulo 32 - A verdade vem de muitas formas

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A se impetrare ut nom posse

Não se pode demandar contra si mesmo


Um ano atrás, mais exatamente uma semana depois da batalha na Triada, Cyprian resolveu fechar as portas da câmara secreta de sua família com mais de um cadeado. Fechar aqueles cadeados deram uma sensação pesada para o Rei, mas ele entendia que deixar de lado o passado era preciso. Cyprian ainda não conseguia parar de pensar em Adal e no rosto de Igor ao receber o corpo de seu filho nos braços. O Rei sentia-se podre por dentro, e isso era um grande incômodo para ele, não era bem assim que ele desejava ser como pessoa. Desde que ele visitou a câmara ele sente seus pensamentos atormentados e doentes.

   Ao subir as escadas que davam da câmara para o trono, Cyprian acionou o botão que escondia aquelas escadas com o uso de seu trono. Não demorou para que a harpia entrasse dentro da sala de trono.

— Você fechou a câmara? — Perguntou a harpia pousando no trono e encarando Cyprian.

— Eu tive que fazer isso.

— Você não dorme mais pensando no que fez. — Era evidente pelas olheiras avermelhadas do Rei. — Lembre-se do que eu disse, apesar de que Vossa Majestade é um Nefas Harpia, Vossa Majestade também é um Draconica. Seu orgulho te fará esquecer de seu pecado.

— Esse orgulho poderia chegar agora. — Disse Cyprian olhando para suas mãos. — Se eu pudesse escapar de mim mesmo, ou tirar esse sangue todo que eu herdei...Converti todos esses medos em poder, e isso me tornou um monstro.

— NÃO OUSE! — De repente a voz da harpia ressoou alto na cabeça de Cyprian ao mesmo tempo que ela abriu as asas. — Nunca ouse falar de si mesmo dessa forma, sua mãe chamaria a atenção de Vossa Majestade de forma severa. A palavra monstro é como os outros chamam qualquer um da família Draconica. Como que alguém que é o próprio filho de Trissam Draconica pode dizer isso? Seu pai morreu para que Vossa Majestade nascesse, então não seja ingrato! Um monstro por acaso salvaria a vida de seu filho? Está infeliz com sua linhagem? Faça como seu pai, depois de muito trabalho, Trissam superou a si mesmo. Superou suas emoções e sentimentos como Draconica. Infelizmente foi tarde demais para ele.

   A harpia abaixou suas asas e fechou seu bico. Cyprian sente que acabou de ser repreendido por sua mãe Lavinia, e isso foi assustador exatamente como ele se lembra. O Rei agora não tinha argumentos para combater aquelas palavras. Ele não pode conhecer seu pai, mas sabe que Trissam realmente se esforçou, e se não fosse pela sua derrota na batalha contra os Astra, Dinastai teria conhecido seu verdadeiro Rei.

— Vossa Majestade fechou as portas, fez o que seu coração mandou. — Agora a voz da harpia era suave. — Talvez seja melhor ficar longe da câmara por enquanto.

— Por que por enquanto? — Perguntou Cyprian com uma das sobrancelhas erguidas.

— Apesar da mente de Aiacos Phoenice não estar ligada a de Vossa Majestade, sua mente está ligada a dele. Como que Vossa Majestade vai descansar ouvindo o que ele ouve e sentindo o que ele sente?

    Aquela pergunta fez com que Cyprian olhasse para baixo. Mesmo tão longe de Ataraxia, Cyprian podia controlar Aiacos perfeitamente. Sentia que o Phoenice sabia haver algo de errado consigo, mas Cyprian proibia seu antigo Conselheiro de tentar qualquer explicação plausível sobre sua situação.

    Esse foi o momento que o Cyprian do presente se lembrava enquanto se dirigia para a biblioteca da Morada. Ontem ele prometeu ajudar Domini em sua leitura e vai cumprir essa promessa. De um ano para cá, Cyprian mudou sua forma de governar e nunca mais abriu a câmara. Ele abaixou um pouco mais a guarda com a saída e entrada das pessoas dentro de seu Reino, por isso Sirenia acabou sumindo de dentro da cidade.

A Inquisição da HarpiaOnde histórias criam vida. Descubra agora