Capítulo 30 - A voz da Harpia e voo da Fênix

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Abditae causae

Causa oculta, motivo desconhecido


Cyprian foi o primeiro a chegar na Morada, havia várias pessoas e jornalistas na frente de seu castelo querendo informações, mas ele continuou a andar até que entrasse de vez na Morada e também passasse por corredores que agora com luzes baixas pareciam tão assombrosos. Um dos serviçais de Cyprian se aproximou correndo dando a notícia que o Conselheiro Aiacos estava desaparecido, e mesmo com a mente tão pesada, o Rei se lembrou do que fez e tudo estava de acordo com o planejado.

— Peça uma busca geral pelo castelo. Apesar de a Morada ter sido adaptada para ele mesmo depois de quatro anos, ele pode ter se perdido por aqui. — Disse Cyprian com pesar em sua voz. Isso era uma forma de fazer Horacio ganhar tempo e tirar Aiacos da cidade.

— Sim, Vossa Majestade, farei isso. — O serviçal confirmou com a cabeça.

— E mais, estarei na sala do trono, não quero ser incomodado.

— Como quiser, Vossa Majestade.

     O serviçal saiu correndo para dar o aviso e novamente Cyprian começou a andar sentindo uma tremenda vontade de simplesmente cair e ficar no chão como se fosse lixo, mas não, falta pouco para a sala do trono...

    Abrir a porta dupla nunca pareceu tão difícil, talvez em outro momento aquelas portas pareciam impossíveis de se abrirem, e foi quando Cyprian e Damaris perderam seu bebê. Ao abrir, Cyprian olhou transtornado para seu trono que era banhado pela luz lilás da lua. Aquela amena luz passava pelos vitrais do teto com delicadeza. O Rei trancou as portas atrás de si e foi andando lentamente para seu trono, subiu suas poucas escadas e uma vez perto do trono, Cyprian se jogou ali para se sentar como se o seu corpo pesasse mil toneladas.

     Ele suspirou pesadamente olhando para a entrada, mas o que Cyprian via era uma visão embaçada e quase escura. O Rei não reagiu com a entrada repentina de sua harpia por uma das majestosas janelas daquela sala. A ave de rapina voou diretamente para pousar na parte superior do trono. Agora com a habilidade de falar por pensamento apenas com Cyprian, a harpia resolveu compartilhar o silêncio que era reflexo da estranha dor do luto.

    O olhar escuro do Rei foi direcionado para suas mãos que tremiam um pouco. A cena da lâmina atravessando o corpo de Adal lhe veio à mente e automaticamente Cyprian rangeu os dentes e levou suas mãos para tapar os olhos que arderam em lágrimas. O lamento do Rei não era muito alto, mas sua respiração descontrolada ecoava pela sala e seus gemidos também. Eram tantos sentimentos e emoções complexas que Cyprian sentia-se carregado ao mesmo tempo que muito vazio.

— O que estou fazendo da minha vida, harpia? — Disse com a voz falha e entre poucos soluços. — E com a vida das pessoas?

    Naquele momento ele tinha apenas aquela harpia para conversar, mas nenhuma resposta pareceu ser necessária, Cyprian sabia qual era a resposta. Era um reflexo de coisas que sua mãe lhe ensinou sobre reinar e que ele nunca conseguiu se desprender. Lavinia era uma mulher carinhosa com a criança Cyprian, apesar de ter uma mão de ferro às vezes para ensinar o futuro Rei o peso de seu legado e sangue que corre pelas veias. A verdadeira mão de ferro era Reminiscentia, Lavinia tratava seu reino como alta prioridade e não deixava seus inimigos ou resistências viverem por muito tempo por medo de seu trono ser usurpado. Cyprian herdou os mesmos medos de sua mãe, o fato de imaginar seu trono sendo tomado por alguém, para ele era o mesmo que colocar sua família em perigo.

    Apesar de sua relação com Damaris estar em uma corda bamba, o Rei ainda a ama e não vai abandoná-la ou rejeitá-la. Entre eles nessa relação que se complicou existe o pequeno Domini, e Cyprian odeia imaginar seu filho sendo ferido. O Rei era de fato como sua mãe, ela também tinha medo de que seu filho, seu único filho, morresse. Cyprian era o presente que Trissam Draconica lhe deu antes de morrer.

A Inquisição da HarpiaOnde histórias criam vida. Descubra agora