A Inquisição da Harpia

Capítulo 13 - O Abismo de Cada Um

Ab imo pectore

Do fundo do meu coração

 — Eu serei pai novamente! — Disse Cyprian com o cálice de ouro para cima cheio de vinho até a borda.

O som de alguns conselheiros de comemoração pelo Rei e Rainha eram cativantes. Se tem uma coisa que Cyprian aprendeu em Ataraxia, é que uma mesa cheia lhe enche de alegria, e era por isso que fazia questão de que pessoas importantes da Morada estivessem presentes.

     Seus Conselheiros estavam ali, Blaiza e o Coronel Pales Laren, um homem que também comemorou o fato de Cyprian ter novamente a benção de ser pai. Pales era mais velho que Blaiza e andava com um pouco de dificuldade por conta de seus recentes ferimentos graças à guerra civil. Ele tem cabelos grisalhos e é bastante musculoso e sua aparência mais robusta e voz grave o fazia ouvir pelos cantos que ele é quem deveria ser o General e não Blaiza. No fundo, ele concorda, mas nunca confessou isso para seu General. Pales Laren tem um tom de pele claro e seus olhos são castanhos, ele sempre foi um homem muito famoso no meio do exército de Cyprian, sabe que teria mais chances de crescer dentro do exército se tivesse nascido em uma família com mais relevância.

     Cyprian notou que muitos de seus súditos demonstraram felicidade, inclusive Aiacos que direcionou a cabeça brevemente para Damares em sua comemoração, mas algo incomodou o Rei. Viu que Blaiza levantou seu cálice, mas ainda se manteve muito sério e também rapidamente se sentou. O ruivo não parecia estar interessado na vida do Rei como antes, ou poderia isso ser cansaço das missões diárias que ele tem participado? Soube que Blaiza foi ferido, mas sabe que feridas para o General não era casos extremos.

— Blaiza, não acha que essa notícia é de tremenda felicidade?

   O ruivo segurou sua reação com todas forças, assim como um suspiro cansado.

— Na verdade, é uma notícia muito boa, Vossa Majestade. Me perdoe se eu não comemorei apropriadamente. É minha rotina, estou com a cabeça nela.

— Blaiza Albicilla sendo atingido por suas preocupações? — Perguntou Pales provocativo bebendo um pouco de vinho.

— É apenas estresse, talvez eu não esteja com tanta fome assim também.

— Pare Pales. — Pediu Cyprian. — Blaiza tem me garantido vitórias, é compreensível que ele esteja assim. Blaiza, você sabe que pode pedir um dia de folga, sua posição te permite isso.

— Eu sei bem, Majestade, mas os problemas não tiram folga, então eu não deveria. — O ruivo negou com a cabeça. — Vossa Majestade se sentiria insultado se eu me retirar para descansar um pouco?

— Pode ir Blaiza, agradeço seus esforços até de estar aqui entre nós. Vá e descanse.

   O General levantou-se agradecendo com a cabeça e se retirando silenciosamente. Apesar de tudo ter sido resolvido com calma e bom diálogo, Aiacos podia jurar que a sensação que percorreu em sua pele apenas não era boa. O resto do jantar seguiu perfeitamente bem, sobre isso não havia reclamações. Aiacos conseguiu até mesmo ter uma breve conversa com Damaris antes de todos se retirarem para seus quartos.

    Cada um estava com uma xícara de chá enquanto conversavam normalmente como se a crise lá fora não existisse. Aiacos ficou horrorizado com o novo jeito de vida na Morada, era como se os problemas lá foram demonstrasse a fúria barulhenta de sua existência, mas ali dentro....Aprendeu que usar o véu da mentira da plenitude era uma forma de demonstrar força. Ninguém dizia se a Monarquia estava errada ou não, ou se o derramamento de sangue os deixavam culpados, não...Esses problemas só eram discutidos no Conselho friamente ao ponto de dar um nó na garganta de Aiacos às vezes. Pelo menos ele queria saber se era o único que se sentia tão mal.