Capítulo 34 - Por Detrás dos Panos

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Pro beneficio maleficium accipere 

Por bem fazer, mal haver


A figura encapuzada que andava nas ruas afastadas do centro de Dinastai chamava a atenção de pessoas de mau carácter e de envolvimento com o crime. Apesar de não ser os subúrbios, aquela parte da cidade era com certeza o submundo de Dinastai que muitos negam sua existência. O cheiro de fumaça chegava a incomodar a garganta daquele homem, tanto que uma vez ou outra ele tossia fortemente. Seguindo um caminho mais sombrio e solitário, ele foi para baixo de uma ponte de tijolos úmidos e escuros. Abaixo daquela ponte, tinha uma porta de ferro, e foi ali que aquele homem bateu. Um senhor de idade avançada com cara de cansaço apenas olhou, era claro que aquele homem encapuzado deveria revelar sua identidade para entrar. Ele olhou à sua volta e abaixou o capuz, revelando a barba bem feita ruiva. Blaiza não cortou seu cabelo nesse tempo de um ano, e por estar um tanto longo, ele tem o costume de deixar amarrado em um rabo de cavalo baixo.

   Assim que o velho o reconheceu, a porta foi aberta para que o General entrasse. Blaiza logo tratou de tirar seu manto com capuz, muitos têm percebido que o corpo do ruivo mudou. Ele tinha um porte forte, mas nesses últimos meses ele intensificou seus exercícios porque ele sabia que eram os planos a serem seguidos, mesmo assim, aquele típico traço delicado em seu rosto não mudou.

— O Senhor Quin já chegou? — Perguntou Blaiza.

— Sim, General, ele está à sua espera, pode me dar seu casaco para que eu possa guardá-lo? — O velho estendeu a mão.

   Blaiza apenas deu seu casaco para o velho e começou a andar por aquele corredor escuro e estreito. O cheiro era péssimo, era quase como se Blaiza estivesse andando pelos esgotos de Dinastai. A única porta nesse corredor dava direto para um quarto de aspecto horrível. O colchão estava no chão e sujo, havia apenas uma manta ali que não era o suficiente para as madrugadas frias de Dinastai. Havia uma mesa velha de madeira com duas cadeiras, em uma delas estava sentado Igor Quin que já viu dias melhores. Sua aparência não parecia mais a de um homem vivido que Blaiza um dia conheceu. Seu olhar era pesado e sua barba era longa. Seu casaco era da Sirenia, mas não era aquele elegante casaco que salvaria a aparência de Igor Quin. O General sabia o motivo da falta de cuidado, a morte de seu filho é algo que Igor não supera. Além disso, aquela garrafa de vinho na mesa deixa claro que Igor passa praticamente todos os seus dias bebendo.

— Boa tarde, Senhor Quin. — Disse Blaiza sentando-se na cadeira. O ruivo foi educado, no fundo, sabe que não existe boa tarde para Igor.

— Vinho? — Perguntou Igor erguendo a garrafa.

— Para essa tarde fria acho que é uma boa pedida.

    A taça foi preenchida com o vinho por Igor a pedido de Blaiza, ao final, Igor desperdiçou um pouco de vinho, ele não estava extremamente bêbado, mas sentia-se tonto o suficiente para errar. Blaiza apenas bufou, já aceitou que brigar não vale a pena. Tirando esse pequeno problema, O General se permitiu degustar aquele vinho que caiu muito bem para aquela tarde fria.

— Não gosto desses comentários que ouço por aí sobre o Rei Cyprian, de que ele melhorou. O que me dá mais raiva é que eu noto isso também. Como vamos tirar um homem assim do poder? Fossem tempos atrás isso ia ser mais fácil. — Igor demonstra um rancor quase palpável sobre Cyprian.

— Eu percebo que há um pouco medo dos servos, mas também há bons comentários sobre o Rei. Está muito bem equilibrado. — Blaiza bebericou do vinho.

— Já perdemos muito tempo, você perdeu muito tempo, General. — A voz de Igor soou ríspida. — Nem parece que quer pegar o trono do Rei.

— Eu prefiro fazer uma jogada perfeita do que ter o orgulho de boas vitórias e poucas derrotas. — O ruivo disse sério para Igor, isso era uma forma de jogar na cara do Líder as falhas dele com a Sirenia. — Gosto de fazer as coisas com certezas e nada mais que isso. Eu irei ter aquele trono, Igor Quin.

A Inquisição da HarpiaOnde histórias criam vida. Descubra agora