Capítulo 15 - Os Pássaros

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Optima citissime pereunt

O que é bom não dura


A Rainha estava tendo as amarras do vestido feitas por sua acompanhante pessoal Ava sentindo todo possível desconforto do mundo.

— Eu não me lembro desse desconforto todo quando eu estava grávida do Domini. — A Rainha passou a mão em sua barriga, agora de três meses. — Será que eu estou velha demais para ser mãe, Ava? — Perguntou Damaris temerosa olhando para o espelho.

— Minha Rainha tem apenas 30 anos, na sua idade mulheres podem ser mães tranquilamente. Faz um tempo que minha Rainha esteve com Domini em sua barriga, então ficou desacostumada.

— Minha gravidez com o Domini foi tranquila.

— E essa também será, minha Rainha.

   A positividade de Ava fez com que Damaris sorrisse brevemente. Ava tem 24 anos, quando a conheceu, a acompanhante estava com 18 anos e em sua aparência pouca coisa mudou. A moça simplesmente não parecia envelhecer, e até onde Damaris sabe, ela não fazia parte de nenhuma família Empírea, mas estava casada com o Conselheiro Octavio Corvus. Ava era uma mulher de cabelos enrolados curtos e castanhos, seus olhos também seguiam o mesmo tom de seu cabelo. Ela tinha por maior parte uma expressão doce no rosto e que trazia mais confiança para Damaris. As duas mulheres compartilhavam seus maiores segredos uma com a outra, inclusive um segredo extremamente perigoso que deixou Damaris preocupada é que o filho de Ava não era do Conselheiro Corvus. No dia que soube pela própria acompanhante, Ava estava em prantos pedindo por ajuda para fazer com que seu bebê tivesse uma aparência mais puxada para a família Corvus. Um mês depois Damaris ajudou sua acompanhante a pintar o cabelo do bebê com a cor mais escura de todas, os olhos do bebê já eram escuros então isso ajudou muito. Octavio caiu muito bem na trama das duas mulheres, como Damaris já esperava, homens não costumam pegar detalhes. Claro que o Conselheiro notou uma ligeira mudança e perguntou sobre a cor do cabelo de seu filho, mas uma única explicação de Damaris que os cabelos podem mudar bastou para o Conselheiro, e ele nunca mais fez a mesma pergunta. Hoje o garoto tem cinco anos e nunca mais teve seus cabelos claros novamente em sua vida.

— Minha Rainha já escolheu suas roupas para o baile?

— Este baile...Não sei porque Cyprian insiste nisso. — A Rainha respirou fundo e ao notar que as amarras foram feitas, ela se aproximou do espelho. — Odeio esse ''método'' de demonstrar que estamos bem, isso é coisa da mãe dele. A antiga Rainha tinha esse costume e fez Cyprian acreditar que é assim que se mantém uma boa pose dando uma boa festa.

— Talvez por estar grávida....Talvez se falar com Vossa Majestade minha Rainha possa ficar de cama.

— Não posso, Ava. — Damaris negou com a cabeça. — É meu dever fazer parte disso, comigo ao lado de Cyprian ele vai parecer mais forte. Não posso pegar uma arma e ir para a guerra, então vou lutar como eu puder.

— O baile será amanhã mesmo?

— Sim, ah....Como me chateia que eu não posso mudar de fantasia. — Era um baile de carnaval, além das máscaras, as pessoas iam caracterizadas. Todo ano ela combinava suas roupas com Cyprian, roupas que se assemelham às harpias. — Do que você vai vestida amanhã, querida Ava?

— Me identifico com a situação de minha Rainha, Octavio também veste uma fantasia de corvo, e eu claro, o acompanho. Pelo menos meu filho se diverte com a mesma roupa todo ano.

— Isso é verdade. — Damaris sorriu de lado ao se lembrar do filho de sua acompanhante. — Domini também ama a fantasia dele, pelo menos alguém se diverte.

— A noite não vai ser tão ruim, espero que não.

    A Rainha suspirou e desviou o olhar para a varanda, e depois colocou a mão sob a barriga. Ela não fazia ideia se era um menino ou uma menina, mas os nomes já estavam decididos. Vince para menino, e Ira para menina.

   Cyprian e Blaiza estavam sozinhos na sala de jantar tomando um pouco de vinho. Apesar de fazer um bom tempo desde que Cyprian decidiu falar mais abertamente com seu General na época que desabafou com Aiacos, parece que a demora fez bem, pelo menos é o que sente Cyprian em relação ao ruivo. A situação na Capital ainda era a mesma, mas Blaiza parecia estar mais leve com relação a tudo. Domini estava no canto da sala brincando com seus blocos de construção sem a presença de nenhuma babá, Cyprian a dispensou para que ficasse mais à vontade com o General.

— Daqui alguns meses Vossa Majestade vai ser pai de novo, está ansioso? — Perguntou Blaiza com um pequeno sorriso e olhando rapidamente para Domini.

— Eu gosto de ser pai. — Cyprian confirmou com a cabeça. — É lógico que eu me assustei com a primeira gravidez da Damaris, acho que eu fui pego estupidamente de surpresa. — O Rei riu um pouco. — Mas quando eu vi o Domini pela primeira vez eu senti uma emoção que é muito difícil de se explicar. Você ainda pode saber, Blaiza, ainda é novo e pode arrumar uma moça na faixa da sua idade.

— Eu acho que não. — O ruivo negou com a cabeça e suspirou. — Eu infelizmente seria um pai ausente, não por querer, mas por conta das responsabilidades.

— Você pode se aposentar Blaiza, desde que ache um bom substituto para você, essa é a regra.

— Eu gosto dessa vida apesar de tudo, sinto que nunca poderia me enjoar de resolver problemas.

— Quando estávamos em Dinastai, eu notei algo. — Cyprian pausou a fala assim que Blaiza olhou para si. — Você pensou tudo nisso que falou quando estava por lá? Digo, desde que a garota Patronis entrou na frente do pai para defendê-lo de um possível ataque seu, eu vi naquela hora...Parece que você tinha encontrado sua musa da guerra.

— Alexis Patronis, ela é uma garota feroz, me pergunto como ela está.

— Talvez uma pessoa da guerra feito você precise de outra pessoa da guerra.

— Vossa Majestade eu realmente não sei. — O General negou com a cabeça. — Não sou um homem muito otimista com o amor, eu sinceramente nunca fui.

— Bobagem. — Cyprian negou com a cabeça com uma leve careta. — Você aproveita um pouco da sua fama, já soube.

— Não passa de um caso carnal, Vossa Majestade. Se eu não tirasse proveito do que eu ganhei eu seria muito estúpido.

— Por que nesse baile você não fica um pouco mais livre General?

— Eu agradeço a oportunidade, Vossa Majestade, mas eu quero me manter firme no meu dever. Os tempos não são os melhores, não confio nesses breves momentos de paz.

— Você é mais alerta que uma harpia, Albicilla. — O Rei tomou um gole de vinho.

— Ser assim está nos meus genes, o orgulho também. A águia é uma ave formidável, Vossa Majestade, mas em questão de tamanho e força, a harpia é com certeza a ave que reina os céus.

— Parece que minha querida mãe herdou bem o sobrenome da família. Vai estar ao menos fantasiado?

— Certamente não, estarei com a farda e com a espada.

— Esse baile vai dar tudo certo, Blaiza, faça seus comandos devidos e deixe o resto com nós....A Monarquia. — Cyprian se levantou para ir brincar um pouco com seu filho pensando que qualquer luxo que ele tem ali e o dia da festa, é a maior afronta que ele pode oferecer tão passivamente.

A Inquisição da HarpiaOnde histórias criam vida. Descubra agora