Capítulo 5 - Coragem para o Amanhã

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Praeterita mutare non possumus 

O passado não podemos mudar


A porta do quarto de Horacio e Tetis permaneceu fechada e trancada. Quem ficasse frente a porta podia ouvir Horacio perdendo a paciência, o choro de Tetis e Alexis e o pedido por parte de Andronis de que todos ficassem calmos. Horas depois até o meio da madrugada se alguém pudesse enxergar através da porta por um momento veriam um momento triste e praticamente final, de que todos os Patronis se abraçaram. Quando a porta abriu, primeiramente saiu Andronis e depois Alexis que tinha os olhos inchados e avermelhados de tanto chorar. Os irmãos se abraçaram fortemente e Andronis deixou um beijo no topo da cabeça de Alexis, ele não conseguia dizer que tudo ficaria bem, pelo que entendeu, Tetis já aceitou sua morte.

    Cada irmão tomou seu rumo, Andronis com certeza iria dormir desejando que esse momento que passou desde o jantar fosse uma ilusão. Já Alexis, por outro lado, estava com a mente pesada e sabia que não conseguiria dormir tão facilmente. A loira respirou fundo e esfregou os olhos começando a andar em direção ao pátio central do casarão. Para isso ela teve de passar pelo quarto do Rei que estava sendo guardado por um soldado e obviamente por Blaiza. Ela passou por ali silenciosa como um fantasma, nem ao menos percebeu que o olhar de Blaiza a seguiu até que ela sumisse de seu campo de visão. O ruivo suspirou e relaxou os ombros pensando na loira e na cena do jantar. Ele olhou na direção que Alexis foi e suspirando novamente Blaiza deixou de segurar o cabo da espada.

— Soldado, continue atento, irei me ausentar por alguns minutos, não saia daqui até eu voltar.

— Sim, General Albicilla.

   Indo na mesma direção de Alexis, a encontrou sentada perto da Elpidea olhando para o nada do céu. Naquela noite não havia quase nenhuma estrela, era apenas um profundo vazio, uma profunda escuridão. Assim que notou a presença mais próxima de Blaiza ela o encarou com o olhar pesado. O General puxou o ar para os pulmões sem ter a capacidade de soltá-lo por alguns segundos. Não era o mesmo olhar de uma moça determinada, era o olhar de uma derrotada e que já havia aceitado o destino de sua mãe.

— Teria algum problema se eu me sentasse ao seu lado? — Perguntou Blaiza com um pouco de dureza, e percebendo isso, limpou a voz.

   A jovem Patronis desceu o olhar para o General e o encarou por alguns segundos.

— Fique à vontade. — Alexis confirmou levemente com a cabeça.

   O General fez um ''sim'' com a cabeça e sentou-se ao lado de Alexis e olhou para o céu, nesse curto segundo uma folha da Elpidia caiu em sua mão, diferente de pessoas que ficavam fascinadas como Damaris e Cyprian, para o ruivo folhas não passavam de sujeira, e foi por isso que ele sacudiu a mão até que folha caísse no chão.

— Se me permite dizer, Senhorita Patronis, você defendeu seu pai bravamente.

— Agi de forma automática. — A loira alisou os próprios braços.

— Mesmo assim, foi clara sua intenção de me matar....Caso fosse necessário.

   Alexis finalmente olhou para o General surpresa com o que ouviu vindo diretamente dele. Sabe que Blaiza é um homem orgulhoso de quem é, não sabe se é merecedora de ouvir isso de uma pessoa forte e praticamente lendária em uma idade tão jovem.

— Irei arrumar problemas com o General por conta disso?— Ela precisou perguntar.

— Não. — Respondeu o General ao fechar brevemente os olhos, era possível ver um sorriso ameno nos lábios. — Duvido que fariam isso na facilidade que você fez. — O General suspirou sentindo perder um pouco do assunto. — Como você está depois....Depois daquela notícia terrível?

    Ela não acreditava que a pergunta tinha vindo justamente do General Blaiza, ele que parecia ser uma pessoa perigosa. A loira virou o rosto minimamente para o lado contrário comprimindo os lábios sentindo um enorme desconforto.

— Me sinto como deve imaginar, péssima. — Não daria esse tipo de resposta para alguém que ela não deve nem responder em um tom rígido, mas isso foi mais forte do que ela e Blaiza compreendeu isso.

— Sua mãe, entretanto, foi muito corajosa por tomar controle da situação. E se quer saber....Ela foi muito bem tratada de Dinastai até aqui. — A loira olhou interessada, ao mesmo tempo que muito triste para o General. — Sua mãe sabe do que fez, e se ela não tivesse se entregado talvez muitas pessoas inocentes poderiam ter morrido por culpa dela.

— O que está dizendo? — Perguntou Alexia abismada.

— Tetis sabia que se ela permanecesse na mentira para se salvar, pessoas inocentes iriam morrer. Ela rapidamente entendeu isso e agiu. Vossa Majestade..... — Blaiza olhou para a entrada do caminho que ele passou. — Tem agido por impulso ultimamente, eu sabia que ele ia matar mais e mais membros da Ecclesia até descobrir o traidor.

— Minha mãe não contou essa parte para nós, ela deveria ter contado. — Disse Alexia desviando o olhar brevemente. Esperasse que Blaiza um pouco mais sobre Tetis até que seu coração ficasse em paz sobre sua querida mãe.

— Eu sei que Tetis não é uma Patronis de sangue, apesar de ter o sobrenome agora, porém...Ela se entregou para manter a vida dos outros, é algo realmente parecido com a moral de sua família.

    Talvez fosse isso que Alexis queria ouvir, sim....Ela chegou a suspirar com os olhos fechados que logo se encheram de lágrimas. Tinha chorado tanto na sua reunião com sua família, achou que tinha chorado tudo o que tinha de lágrimas dentro de si, mas a morte certa de uma mãe....Nenhuma tristeza será o suficiente. Mas não pode negar, ainda que amanhã perdesse definitivamente sua mãe, saber que Tetis seguiu com fidelidade a moral dos Patronis a fazia enxergar aquela mulher como uma verdadeira heroína que não carrega nenhuma espada ou escudo, a única arma invisível aos olhos...A coragem.

— Obrigada por me contar isso, General Albicilla. É muito bom saber desse lado da história. — Disse a loira secando as lágrimas que desceram pelo rosto, sem saber que Blaiza quase limpou as lágrimas dela por impulso. Ela se levantou e Blaiza sentiu um nó nas cordas vocais, sabia muito bem que esse não era o melhor momento para pedir para que ela ficasse mesmo que fosse um pouco. — Me fez ver que minha mãe é uma mulher muito corajosa, e amanhã, será eu quem precisará de ter coragem para ver sua morte. — Alexis abaixou o olhar ao final da frase. — Boa noite, General.

   A loira deu as costas para ir embora. O General não se moveu dali até que perdesse a visão daquela fascinante moça, mesmo que agora parecesse uma musa triste.

A Inquisição da HarpiaOnde histórias criam vida. Descubra agora