Capítulo 41 - Julgamento Secreto

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Judex in causa propria nemo esse potest

Ninguém pode ser juiz em causa própria


As gotas quentes de água pingavam na grande banheira de mármore cinza escuro a cada quatro segundos causando seu típico som que se ecoava timidamente. Cyprian estava ali parado de olhos fechados tentando relaxar, mas para alguém que tem pouco da sanidade guardava, relaxar é uma tarefa quase impossível. Ele realmente pensou que acabar com os Phoenice lhe poderia deixar mais satisfeito, mais tranquilo....Quem sabe. Ele podia dizer com toda certeza que se sentia triste e feliz ao menos tempo. Emoções e sentimentos viraram armas letais e manifestações quase que demoníacas de tão fortes e intensas. Momentos assim, Cyprian podia jurar que ele ouvia várias vozes fantasmagóricas em sua cabeça contando não sobre seu pai Trissam, mas sim sobre outros membros da família Draconica.

    Quando estava prestes a cair no sono, o corpo do Rei sofreu um pequeno choque em seu corpo, e isso o deixou atento. Cyprian esfregou seu rosto úmido delicadamente e se levantou para sair daquela banheira de água tão quente.

    Suas roupas mais bonitas foram vestidas e a capa das penas de harpias finalizou toda a imagem daquele Rei. Faltavam algumas horas para o jantar e como de costume, Cyprian seguiu para a sala do trono. Se tornou um vício ficar ali apenas para pensar na sua própria companhia ou com a harpia que ainda se comunicava consigo. Porém, na maior parte dos dias, Cyprian preferia o silêncio ou o som de sua respiração e nada mais.

— Pai... — Disse Cyprian na língua particular dos Draconica, ele nunca saberia explicar quando que começou a saber a falar essa língua, mas desde a morte dos Phoenice, o contato com sua herança ficou mais forte. — O que você faria se estivesse aqui, eu não seria Rei, não é mesmo? Estar atrás de um homem como você não seria um problema para mim. O que você faria pai? Com esse reino, com o seu sonho? Com a sua família? — Um sorriso bobo apareceu nos lábios de Cyprian, ao mesmo tempo, o terceiro olho brilhou em sua testa. — Minha mãe conseguiu ver o rosto do Domini, mas imagino você vendo o rosto dele também. É algo que eu apenas imagino, mas eu queria que fosse uma memória. Agora....O que é uma memória, eu queria que fosse uma mentira. — O Rei parou de sorrir. — Eu nunca terei meu Vince, ou a minha Ira. Damaris, ela jamais vai me aceitar novamente. Eu ainda a amo, como ela pode não enxergar isso?

    A pergunta teve um tom melancólico enquanto Cyprian olhava para o nada. Ele resolveu se acalmar, ele tem certeza que Blaiza e seus Conselheiros restantes devem estar perto da sala do trono. O General pediu uma reunião com os Conselheiros para dizer sobre as movimentações da Sirenia. Mesmo com a batalha da Triada, Igor não se deu por vencido, pensou Cyprian desgostoso. Mal imaginava o Rei a real intenção de Blaiza, e de certa forma, os Conselheiros também não.

     A porta dupla foi aberta e o General apareceu primeiro, em seguida dos Conselheiros do Rei. Como de costume, todos fizeram uma respeitosa reverência para Cyprian.

— Boa noite, Vossa Majestade.

— Boa noite General, meus Conselheiros. — Cyprian se ajeitou em seu trono. — No que eu posso ser útil nessas notícias novas, Blaiza? Fico surpreso com a movimentação da Sirenia depois de um ano. Vamos lá, serei um bom ouvinte.

— Que bom que Vossa Majestade queira ser um bom ouvinte. — O ruivo olhou para trás para encarar alguns Conselheiros. — E Conselheiros, espero que sejam bons ouvintes e bons telespectadores também.

     Até ali, Cyprian não estava entendendo muita coisa, a chegada de Damaris fez que ele ficasse mais atento. A Rainha, apesar de estar ali e agora, carregava uma expressão que também tinha dúvidas dos motivos de estar presente na sala do trono.

A Inquisição da HarpiaOnde histórias criam vida. Descubra agora