A Inquisição da Harpia

Capítulo 33 - As Palavras de Tetis

Amor vincit omnia

O amor tudo vence

A brisa leve batia suavemente no rosto de Andronis que estava de olhos fechados e em posição de meditação. Apesar do silêncio, a natureza criava sua música através do vento na grama e folhas que se balançavam. O calor hoje era intenso e suas roupas eram leves, mas dessa vez ele estava sem camiseta. A sensação de calor era tanto que ele prendeu o cabelo em um coque baixo. Andronis praticamente brilhava, era comum o cabelo dos Patronis brilharem como fios de ouro com sol forte.

    Quem admirava Andronis era Teles com um pequeno sorriso em seus lábios. Ela queria tanto ter toda essa serenidade que o Patronis demonstra ter meditando, mesmo com tentativas, Teles não consegue se adaptar bem a meditação, porém ver Andronis em tanta plenitude deixava o coração da mesma mais leve.

    Dentro de quase um ano, as condições de uma vida melhor deixou Teles mais bonita. Ela foi bem aceita na família Phoenice e Alathea providenciou e ainda providência muita comida para Teles. Na primeira vez que jantou no casarão, a jovem Teles ficou emocionada, disse que ela e sua mãe nunca viram uma mesa tão farta antes. Por conta de sua felicidade em comida, por assim dizer, ela acabou engordando um pouco, mas isso não era um fato que a incomodava. Seu cabelo castanho cresceu um pouco mais, porém ainda não estava tão longo.

    Ela esperou que Andronis terminasse sua meditação, Teles estava tão acostumada em ver o loiro daquele jeito que ela simplesmente sabia quando ele terminava. Sabendo disso, a moça se aproximou e se ajoelhou atrás de Andronis para abraçá-lo, era agradável sentir o corpo quente do outro.

— Não via a hora de você acabar hoje. — Teles sorriu de lado ao falar.

— É, eu senti isso. — Disse Andronis com um sorriso de lado. — Sua vibração e energia hoje está muito boa. Me sinto atraído como um ímã.

— E olha que eu não medito como você, mas quem sabe um dia. — A moça encostou seu queixo no ombro de Andronis. — Tenho boas notícias, pelas minhas contas, se tentarmos algo hoje — O tom de voz de Teles era divertido e malicioso. — daqui alguns meses nós poderemos ser pais.

Andronis não deixou de sorrir, mas o sorriso dele perdeu um pouco do ânimo, e isso foi notado por Teles que acaba de ficar preocupada.

— Não gostou do que eu disse? — Perguntou Teles ainda demonstrando preocupação.

— Não é isso... — O loiro respirou fundo e segurou a mão de Teles e a fez com que viesse para frente. — É verdade que nos últimos meses conversamos bastante sobre ter um bebê. E eu ainda quero, mas eu tenho pensado em muita coisa ultimamente. Teles talvez não seja o melhor momento para isso.

— O Rei, é isso que você ainda teme?

— O Rei? Acho que temo aquela cidade inteira só pelo pouco que eu vi. Dinastai tem uma energia muito carregada, quando voltamos para cá, você viu como eu fiquei doente por alguns dias.

— Engraçado, eu não sentia isso quando eu estava lá em Dinastai, tudo para mim era comum.

— Bem, você nasceu lá, Teles. — Andronis respirou fundo. — Um dia, teremos a alegria de nos tornarmos pais, mas não é agora, apenas sinto que não é hora certa.

    A mulher respirou fundo e tocou o lateral do rosto de Andronis, o mesmo fechou os olhos demonstrando tranquilidade e um pouco de tristeza por se justificar.

— Andronis, você é o homem mais sábio que eu conheço, e eu confio em suas palavras e pensamentos. Somos jovens ainda, podemos esperar um pouco mais, mas precisa me dizer o que te deixa desconfortável.

— É verdade que nós recebemos notícias que o Rei tenha mudado, mas acredito que há alguma coisa por trás, mais do que isso eu não posso falar para você, me desculpe.

— Está tudo bem. — Teles confirmou com a cabeça. — São assuntos não do meu Andronis, mas sim do Andronis Guardião.

    O casal ficou em silêncio, outros minutos trocaram carícias até que decidiram voltar para o casarão juntos. O casal foi direto para a biblioteca para pegar um dos livros que a mãe Tetis gostava de ler. Em um canto da biblioteca separado apenas em honra a Tetis, ficava duas poltronas de couro na cor rosa-claro, entre elas estava um candelabro elétrico. Ali na prateleira de livros ficavam os quatro livros favoritos de Tetis, além de uma foto dela. A primeira era a história de origem da Ecclesia, o segundo era o Vera, um livro de poesias longas. O terceiro era um romance dramático e o último contos juvenis que Andronis quase sabia de cor, pois eram as histórias que Tetis contava para ele e sua irmã para dormirem.

— Qual deles você vai pegar? — Perguntou Teles pegando o livro de poesia.

— Vou pegar o livro que conta a história da Ecclesia. — Disse o loiro pegando o dito livro e o folheando.

    Foi quando um papel amarelado dobrado caiu no chão. Andronis se agachou para pegar o papel e o abriu pensando que não poderia ser nada, mas quando leu, primeiro ele ficou surpreso ao notar a caligrafia de sua querida mãe. A última vez que viu a caligrafia dela foi naquela carta que avisava sobre a inquisição da harpia. Lendo por cima, um sorriso ameno surgiu nos lábios do loiro.

— São anotações da sua mãe? — Teles tentava ler um pouco.

— São sim, vou ler para você. — Andronis limpou a voz. — Eu consegui terminar esse livro, pela segunda vez, no tempo certo. Amanhã deixo minha amada casa para ir para Dinastai e começar uma nova jornada na Ecclesia. Depois de um tempo insistindo que esse era meu desejo, Horacio me permitiu ir, mas disse que já estava com saudades de mim mesmo que eu ainda não tenha ido embora. Eu voltarei para o casarão só depois de quatro anos, Andronis agora é um adulto, mas Alexis ainda é tão jovem. Quando eu voltar ela será uma mulher e Andronis vai ser um rapaz mais bonito do que já é. Ora, não é porque ele é meu filho, mas ele é realmente bonito. Talvez a maior prova de minha filha Alexis seja convencer Horacio que ela pode lutar, e eu acredito nela. Alexis carrega em seu olhar a determinação que o Horacio carrega com orgulho e dignidade. Um dia ela não será mais a menina frágil que eu conheço. Vou deixar minha casa, mas ela não vai sair de mim, amo esse lugar, mas quero achar o meu rumo. Quando eu voltar daqui quatro anos.... — O loiro parou de ler por um breve momento. Quando Teles olhou para seu querido Andronis, viu que seus olhos estavam carregados de lágrimas. O filho mais velho fechou os olhos por alguns segundos e suas lágrimas caíram. Teles conhecia a dor dele, afinal, também havia perdido sua mãe. A mulher esfregou as costas de Andronis como se fosse um carinho, e também, deu um beijo no topo do ombro dele. — Quando eu voltar daqui quatro anos, como uma nova pessoa, irei ler esse livro novamente para confirmar todas as informações da Ecclesia. Estou indo, mas quando eu menos perceber já estarei de volta para minha casa, para meu marido e meus filhos. Todos que são donos do meu coração.

   Andronis limpou suas lágrimas e respirou fundo. Uma pessoa que estava na porta da biblioteca era Horacio, ele estava passando por perto e ouviu a voz de seu filho, mas dentro de seu coração ele sabia que aquelas palavras não eram dele. Palavras doces como aquelas e tingidas de expectativas só podiam ser de sua esposa.

— Uma das pessoas que me convenceu a deixar Tetis ir — Disse Horacio adentrando a biblioteca e se aproximando do jovem casal. — foi Nilo. Assim que Tetis voltasse, ela seria a Conselheira principal do Nilo. A Ecclesia era basicamente uma forma nova de ver o mundo, e ela tinha uma vontade enorme de trazer a diferença ao redor dela sendo uma pessoa amável e humilde. Amar a sua mãe era muito fácil. — Horacio respirou fundo. — Você lendo essa carta me fez perceber que por muito tempo, eu prendi Tetis e Alexis porque queria proteger as duas, me arrependo muito. Se eu tivesse liberado sua mãe antes, ela já estaria em casa, nunca que ela iria ter um embate com o Rei Cyprian. Se Alexis fosse treinada por mim, talvez Aiacos nunca fosse raptado. Me doí pensar nessas coisas.

— Isso são expectativas, pai. — Disse Andronis suspirando. — Nunca saberemos se isso poderia mesmo ter acontecido. A única coisa que eu conheço agora, é essa realidade.