Prólogo

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As risadinhas e a voz sem nexo da criança do Rei Cyprian enchiam seu coração de conforto por ouvir seu filho, sangue de seu sangue, e também o apertavam de preocupação pelo futuro do bebê Domini, que estava nos braços de sua mãe. Presentes ali estavam os cinco grandes Conselheiros do Rei. A leitura das leis harpianas começaria em poucos segundos, enquanto Cyprian olhava para o horizonte, deixando evidente que estava pensativo. Sua preocupação, desde antes do nascimento de seu filho, era Katharsi invadindo Reminiscentia. Ele sempre soube que o Mestre Erimon odiava aquela terra que o Rei herdou. Agora, com uma nova família anunciando seu forte estado, protegida por vassalos prontos para se tornarem uma família Empírea, Cyprian passou a perder o sono.

   Era isso que sua mãe, amante do último Mestre Draconica, temia: o surgimento de novas famílias Empíreas, pois os Nefas Harpia perderiam espaço naquela terra que agora era deles, a herança viva dos Draconica. Se estivessem vivos, estariam naquele castelo, em um lugar que chamavam de Dinastai. O propósito era esse: manter a dinastia.

— Mestre Corvus — disse Cyprian, em tom calmo, mas com uma autoridade perceptível. — Pode ler as novas leis?

— Claro, Vossa Majestade — respondeu Octavio Corvus, limpando a garganta antes de começar. Ele segurou o papel nas mãos e se levantou para iniciar a leitura. — As leis harpianas, cujos propósitos são avisos para aqueles que não seguem o coração da justiça, que nasce do trono da Morada Real, e ensinamentos para aqueles que respeitam aquele que os governa, serão válidas daqui a cinco dias, visto que a disseminação das informações pode demorar alguns dias. E também, para que medidas pessoais possam ser tomadas, desde que qualquer decisão seja feita ciente das boas e más consequências — pausou brevemente, antes de continuar. — Segue a leitura das cinco leis — disse, observando o Rei se virar em sua direção. — A primeira das leis: o fechamento dos portões de Dinastai. Ninguém entrará ou sairá sem que tal movimento seja um ato oficial com a Morada Real. A segunda das leis: a proibição total de reuniões conspiratórias. Aqueles que conspirarem serão considerados traidores e caçados até a morte. A terceira das leis: é expressamente proibida qualquer manifestação pública que perturbe a paz alheia. A quarta das leis: nas ruas e fora do território dos Nefas Harpia, em missões, os soldados Vigilis deverão ser vistos com grande autoridade e respeito, pois são a força do Rei em pessoa. A quinta e última das leis...

     A pausa desta vez foi maior. Os olhos de Cyprian se voltaram para o mapa de Reminiscentia. No centro, estava uma miniatura da Morada Real. A oeste do mapa, havia uma miniatura de uma fênix. Uma terceira miniatura estava guardada em uma pequena caixa dourada.

— Aqueles que se simpatizarem com a criação das famílias Empíreas serão vistos como inimigos. A criação de uma família Empírea é considerada uma afronta à força dos Nefas Harpia, e as afrontas serão respondidas à altura, com direito a uma punição severa. E assim se encerra a leitura das novas leis, meu Rei — concluiu Corvus, reverentemente.

— Que assim seja — respondeu Cyprian, sem hesitar. — Com o aparecimento dos Phoenice e, provavelmente, de seus vassalos, acabamos entrando na mesma situação que os Erimon enfrentaram no passado. Muita liberdade cedo ou tarde se torna uma grande ameaça. Não somos incompetentes como os Erimon daquela época; temos a influência e a força sob nosso controle — disse, abrindo a pequena caixa para revelar uma nova miniatura de uma árvore branca com folhas douradas. Ele não sabia o nome da árvore e tampouco se interessava em saber naquele momento. Ter uma mera árvore como símbolo de família lhe passava a sensação de que a existência dos tais Patronis era apenas um problema em vão. A miniatura foi colocada ao lado da fênix, demonstrando que as duas famílias estavam ligadas. — Não podemos deixar que os Phoenice e os Patronis nos superem. O poder dos Nefas Harpia nunca cairá por terra!

A Inquisição da HarpiaOnde histórias criam vida. Descubra agora