Capítulo 6 - Acima da Misericórdia

106 12 213
                                    

Crudelius est quam mori semper mortem timere

Temer a morte é morrer duas vezes


Ter tido muitas mulheres lhe ajudando para se arrumar fez com que Tetis se lembrasse do dia de seu casamento. O vestido tinha uma saia longa branca com listras finas na vertical de cor cinza-claro. O espartilho era de couro vermelho e por cima ela usava um casaco branco de tecido leve já que em Ataraxia fazia bastante sol. Não deveria estar tão bem preparada assim já que ela estava indo para encarar a morte, porém....Ir bem aparentada fazia parte de sua dignidade, e também, ela seria um ponto colorido no meio de pessoas que estariam usando vestes de luto.

    A mulher suspirou olhando para si mesma no espelho, e então, abriu seu pequeno colar que tinha uma foto 3x4 de Horacio. O sorriso de Tetis foi de pura nostalgia, aprendeu grandes coisas com esse homem, apesar de que Horacio na época era uma pessoa muito áspera, mas com muita sutileza ela conseguiu mudar o coração de seu marido. Claro que Horacio ainda não era perfeito como pessoa, mas ninguém era, ele tinha muita coisa para melhorar sobre si mesmo.

   As batidas na porta fizeram com que Tetis fechasse seu colar. Sabia quem era, pois, ontem antes de seus filhos irem embora, pediu para que eles a visitassem antes de sua morte.

— Podem entrar. — A porta se abriu, revelando então seu filho e filha vestidos de preto. Andronis tinha um buquê de crisântemos rosas, isso também foi um pedido de Tetis, e ao ver que foi atendida, logo sorriu para seus filhos e os recebeu com um beijo no rosto para depois segurar o buquê. — Obrigada filho, são lindas, obrigada por isso. — Agradeceu a mãe expressando agradecimento até em seu olhar.

— Eu iria até o fim do mundo para pegar essas flores, mãe.

— Eu sei que sim, por isso mesmo que eu pedi. — Tetis riu um pouco maldosa e depois observou Alexis. — Você me parece melhor, filha.

— Não diria melhor, acho que a palavra certa é.... — A loira suspirou. Na verdade, ela não tinha uma palavra certa, e Tetis percebendo isso decidiu não insistir. — Precisamos ver esse momento? — Perguntou Alexis com uma dor profunda na voz.

— Nunca os obrigaria. Poderia ser pior, meus filhos. — Ao ver que Alexis suspirou de novo, seu irmão mais velho tocou seu ombro e a trouxe para mais perto. — Digo, eu sei que mesmo hoje em dia, essa selvageria de que execuções de traição precisam ser em um lugar público, mas conversando com o Senhor Phoenice, eu planejei isso para que fosse o mais agradável possível mesmo com uma imagem tão cruel.

— Ouvi pelos corredores que você escolheu perto da Elpidia. — Comentou Andronis.

— Sim, aquela árvore e suas folhas são bonitas, e Elpidia sempre foi um símbolo de resistência para nós que somos daqui. Vossa Majestade não vê isso, vê apenas a beleza, mas a Elpidia, ela aguenta tudo. — Tetis puxou o ar para os pulmões. — As cinzas douradas inspiradas nas folhas dessa árvore são os Phoenice, mas a Elpidia, é nosso símbolo, o símbolo dos Patronis. Eu não nasci nessa família, mas naquele dia da Ecclesia.....Me tornei como uma Patronis de verdade ao meu alcance, e não me arrependo. — A mulher negou com a cabeça. Tetis respirou fundo, deixou o buquê no sofá e apressadamente ficou em frente aos seus filhos, para depois, segurar a mão de cada um. — Minhas crianças, sejam fortes. — Ela disse determinada e séria. — Me escutem, as coisas vão ficar muito sufocantes com a inquisição da Harpia. O Rei Cyprian.....Ele anda bastante instável, ele tem esse porte de homem elegante, educado, mas em questão de segundos, ele muda. É estranho, é bizarro, o Rei Cyprian anda bem perturbado, mas ainda.....Não são justificativas para que agir como vem agindo. Reminiscentia praticamente é toda dele, se Katharsi não é, é porque o orgulho dos Erimon é muito grande.

A Inquisição da HarpiaOnde histórias criam vida. Descubra agora