Capítulo 36 - Sangue Draconica

51 6 82
                                    

Somnus est frater mortis

O sono é parente da morte


O grito que Aiacos fez ao acordar foi o maior de todos. Foi realmente terrível e perturbador. Nilo e Alathea saíram de suas camas com pressa. Ao chegarem na porta de Aiacos, os gritos eram de gelar a alma.

— Filho, filho, por favor, abra essa porta! — Suplicou Alathea.

— Aiacos, filho! — Nilo batia na porta.

     Os gritos continuavam, e agora, os filhos do dono do casarão se levantaram desesperados, e junto com o grupo de filhos, apareceu Horacio com a chave mestra em mãos. Nilo e Alathea abriram espaço para que o loiro abrisse a porta de uma vez. A cena chocante para os familiares, Aiacos estava no chão ainda gritando segurando a própria cabeça com suas mãos, havia fios e pedaços do cabelo de Aiacos em sua volta e uma tesoura, e também...Havia um pouco de sangue que se originou de cortes na mão direita do antigo Conselheiro.

— Aiacos! — O Mestre Nilo foi até Aiacos acompanhado de todos. Nilo logo se ajoelhou para socorrer o filho. — Por favor, ele precisa de espaço. Aiacos, estamos aqui, sou eu, seu pai.

    O terceiro filho parou de gritar aos poucos ao mesmo tempo que soltava sua cabeça. Alathea abraçou seu filho com lágrimas descendo pelo rosto, nunca viu Aiacos nesse estado.

— Crianças, eu sei que vocês estão preocupados com seu irmão, mas preciso que saiam.

— Mas pai — Tantalus deu um passo à frente. — deixe eu ajudar.

— É muita gente. Horacio, leve as crianças para fora.

— Sim Senhor. Vamos para fora, sei que é complicado, mas é um pedido do pai de vocês.

    Lidando com as reclamações, Horacio tirou os filhos de Alathea e Nilo do quarto de Aiacos pensando que se Alexis estivesse presente, com certeza insistiria e muito para ficar dentro do quarto. Ele não só pensou em Alexis, mas pensou em Andronis também. A tal viagem de seus filhos lhe pareceu suspeita, mas teve de entender e aceitar que Andronis não queria falar sobre seus motivos. Se tudo der certo, pela madrugada os dois estarão de volta para casa.

Uma vez que Nilo e Alathea ficaram com Aiacos, eles ajudaram seu filho a ir para a cama. Aiacos encostou a cabeça nas coxas de seu pai enquanto Alathea enfaixava a mão do ruivo ainda em lágrimas. Aiacos estava quieto, mas suas lágrimas também surgiram. Nilo respirou fundo e começou a fazer cafuné em seu filho. Era horrível ver Aiacos desse jeito, toda a impotência que sentia como pai criava um buraco enorme em seu coração.

— Aiacos, consegue me ouvir? — Perguntou Nilo.

— Consigo. — Murmurou Aiacos respirando fundo. — Desculpe, acho que eu tive um pesadelo.

— Filho, isso não é um pesadelo. — Alathea negou com a cabeça terminando por fim o cuidado com a ferida na mão do ruivo. — Você está desse jeito faz um ano, talvez você não se lembre, mas eu venho aqui toda vez que escuto você gritando pela manhã, mas dessa vez foi longe demais.

— Eu não sei o que dizer, não sei como lidar mais com isso. — O antigo Conselheiro comprimiu os lábios. — Não queria trazer essas preocupações e esses problemas.

— Você com certeza nos traz preocupações, mas problemas não. — Mestre Phoenice negou com a cabeça. — Acha que devemos aumentar as doses para você dormir?

— Não. — Disse Aiacos em um tom choroso. — Todo dia me sinto cansado, como se eu não dormisse de fato. Isso não funciona.

   Nilo e Alathea se olharam por alguns segundos. A mulher respirou fundo e fez um sim com a cabeça, um sinal silencioso que Nilo compreendeu sem demora.

A Inquisição da HarpiaOnde histórias criam vida. Descubra agora