Omnia fert aetas
O tempo tudo traz
O sorriso de Andronis Patronis era de pura provocação enquanto ele olhava para os lados, segurando o cabo de sua espada dourada. Claro, ele fazia isso de maneira sutil, evitando demonstrar abertamente que estava preparado para qualquer surpresa. O loiro voltava de uma manhã rotineira de meditação. Era o único de sua família que mantinha esse hábito, defendendo que a meditação o ajudava a se concentrar para o dia e para as batalhas. Se os outros soubessem dos benefícios, certamente ele não praticaria sozinho.
O ataque surpresa veio pelas costas, tão óbvio que Andronis mal precisou pensar antes de se defender, soltando um breve "há" enquanto sacava a espada com rapidez. Sabia que não era apenas um oponente, então, com um soco certeiro, atingiu o primeiro "rival" no estômago, derrubando-o. Em seguida, desferiu um golpe com a espada, já preparada para ferir. Os outros dois homens se esforçavam ao máximo, mas, para Andronis, aquilo parecia uma brincadeira desajeitada ou, quem sabe, uma dança. Seus movimentos eram leves e cheios de deboche. Ele era talentoso, como seu pai, Horacio. Ser um ótimo espadachim estava no sangue dos Patronis, e Andronis se orgulhava de ter conquistado esse legado não apenas por ser da família, mas por meio de esforços contínuos e muito treino. Algo que, claramente, faltava àqueles dois homens. Mas isso era apenas o começo.
No final, Andronis desarmou os dois e, vendo o rosto deles vermelho de vergonha, não os poupou: desferiu um soco em cheio em cada um.
— Atacar alguém pelas costas já é desonroso, mas falhar até nisso é vergonhoso. — comentou ele com uma leve careta.
Os dois homens, Orion e Tantalus, não esboçaram careta alguma, apenas demonstraram descontentamento. Gêmeos, eles eram os filhos mais velhos de Nilo Phoenice e Athalea. A aparência deles era a típica de um Phoenice: pele morena avermelhada e olhos alaranjados, embora os gêmeos tivessem olhos em um tom mais claro. Seus cabelos lisos, grossos e de um vermelho-escuro eram outra característica marcante da família. Alguns Phoenice preferiam trançar os cabelos, cada um à sua maneira. Por exigência da mãe, Orion e Tantalus usavam penteados diferentes para evitar confusões: Orion deixava os cabelos soltos, com algumas tranças, enquanto Tantalus optava por um rabo de cavalo baixo. O curioso era que até mesmo seus quatro outros irmãos e os próprios pais se confundiam sobre quem era quem, mas Andronis nunca tivera esse problema.
— Ah, já chega! — gritou Tantalus, exausto. — Não vou continuar com esses treinos que não me levam a lugar nenhum.
— É o que todos dizem quando querem desistir. — respondeu Andronis, com um sorriso. — Sabe, Tantalus, antes que você diga que é fácil para mim falar isso — Tantalus estava prestes a interrompê-lo, mas desistiu ao perceber que o irmão estava certo, e Orion já se preparava para repreendê-lo —, você deveria parar de julgar os outros pelos resultados e pensar no esforço e no suor que foi derramado para chegar até aqui. Talvez o bloqueio do seu sucesso esteja nos seus próprios pensamentos. Todos os comandos vêm daqui, do cérebro. — Andronis tocou a própria têmpora. — Mas esses pensamentos mesquinhos te distraem demais.
— Não sou obrigado a lutar. — retrucou Tantalus, virando as costas. — E não me espere amanhã, porque não vou treinar.
Andronis esperou Tantalus se distanciar o suficiente antes de comentar com Orion:
— Você tem certeza de que ele é realmente seu irmão?
— Não, já disse à minha mãe que ela o encontrou no rio. — respondeu Orion, com um sorriso travesso. Ambos gargalharam por alguns segundos, o que provavelmente Tantalus ouviu à distância.
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A Inquisição da Harpia
Ciencia FicciónEm meio a tempos turbulentos em Reminiscentia, a Inquisição da Harpia ganha força com a aprovação das temidas Leis Harpianas em todo o território do Rei Cyprian. Enquanto isso, notícias sobre a família Phoenice se espalham, anunciando que Horacio Pa...