Capítulo 11 - Céus Paralelos

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Cogitationis nemo poenam patitur 

 Ninguém sofre pena pelo simples fato de pensar


Uma mudança de quatro anos fez bem — aparentemente — em Aiacos. Em certo ponto ele sentia-se obrigado a concordar com seu Rei, sua adaptação foi bem rápida, mais rápido do que o esperado. Como ele gosta de manter sua pose de Conselheiro agradável, seu cabelo agora é sempre cortado e penteado para o lado. Mesmo que Aiacos tenha uma boa memória sobre o mapa da Morada, ele ainda andava com sua bengala para lhe auxiliar no caminho. Se existia alguém que não se importava em entrar no caminho de Aiacos era o pequeno Domini que foi reconhecido por seus passos rápidos, ninguém naquele castelo corre em sua direção como o filho do Rei. Aiacos foi abraçado nas pernas, e isso lhe deu uma sensação de nostalgia porque seus irmãos faziam a mesma coisa.

— Um dia você vai me derrubar, Príncipe Domini. — Disse Aiacos com um sorriso.

— Espero que sim. — A criança falou em tom de brincadeira. Domini estava cada vez mais parecido com o pai fisicamente falando, mas o olhar doce era com certeza de sua mãe Damaris — Onde você estava indo?

— Indo para o jardim, é um bom lugar para apurar meus ouvidos.

— O que é apurar? — Perguntou o menino ficando ao lado do mais velho, não demorou para que segurasse sua mão.

— Príncipe Domini! — Chegou a babá do menino desesperada. — Conselheiro Aiacos, me perdoe, eu o perdi de vista por um segundo.

— Tudo bem, Vossa Alteza vai ficar comigo por um momento.

    A mulher sabia que isso não havia problema nenhum, dentro da Morada viu várias vezes Domini sendo pego no colo por pedido de Cyprian ou Damaris, ou às vezes, o próprio Domini pedia colo. No começo Aiacos ficava sem graça, mas um lado protetor seu de irmão mais velho o convencia cada vez mais a fazer esses gestos simples e afetuosos. Aiacos nunca negaria, ele gosta de estar com Domini, era uma das poucas vantagens de estar ali trancado.

— Vai me ajudar a chegar lá? — Perguntou Aiacos, claro que ele conseguia chegar no jardim sozinho, mas queria fazer com que o garoto se sentisse capaz de ajudar.

— Consigo. — Domini respondeu concordando com a cabeça.

    O caminho não era tão complexo, por isso a tarefa foi dada à Domini sem problemas. O elevador do castelo era uma diversão à parte para a criança mesmo que fosse tão lento.

— Aiacos?

— Sim, Vossa Alteza?

— Você não disse o que é apurar.

— Ah, é mesmo! — Ele havia se distraído com seus próprios pensamentos sobre seus irmãos. — É o mesmo que melhorar, sabe o que é essa palavra, certo?

— Acho que eu sei. Seus olhos....Vão apu-apu-apurar um dia? — A dificuldade da conjugação da palavra fez com que Domini até piscasse algumas vezes.

— Não, meu Príncipe. Está tudo bem, a esse ponto ter visão já não me incomoda mais.

— Que estranho.

     A sinceridade do garoto em não segurar a língua fez com que Aiacos quase risse baixo, sabe que nada disso é por maldade.

    Os dois chegaram ao jardim que estava bem cuidado, o som da pequena cachoeira deixava o ambiente mais relaxante e o cheiro das flores era forte o suficiente para incomodar aqueles de olfato mais sensível. Aiacos que viveu mais perto da natureza não se incomodava, pelo contrário, adorava aquela parte da Morada Real, podia mesmo até ver as cores do céu, mas a sensação não era a mesma do céu de Ataraxia, havia dias de pouca luz, mas com o passar dos anos Aiacos percebeu que a luz do sol passou a ser consumida pelas nuvens de chuva. Hoje com sorte, não estava chovendo, assim Aiacos e Domini puderam conversar confortavelmente.

A Inquisição da HarpiaOnde histórias criam vida. Descubra agora