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Os raios de sol iluminam meu quarto, mesmo com as cortinas fechadas, mas me mexo na cama por pelo menos uma hora, antes de finalmente levantar. Quando finalmente sinto coragem para sair da cama, caminho até minha janela e empurro as grandes cortinas brancas. O cheiro do almoço faz meu estômago roncar, no momento em que abro as portas duplas da sacada. Observo minha madrasta deitada em uma das espreguiçadeiras, tomando sol e meu pai sentado embaixo de um guarda sol, com varias camadas de protetor solar, deixando seu rosto vários tons mais brancos. Meus olhos logo encontram o que estavam procurando ao ver Trevor. Ele está mexendo na churrasqueira elétrica, enquanto bebe uma garrafa de água em grande goles. Obviamente, ele não está de camisa, usa óculos de sol e um boné preto que cobre boa parte do seu rosto.
A rejeição da noite anterior, surge como um lembrete. A vergonha faz com que eu segure com força a parte da frente da minha camisa, como se ao puxa-la, a sensação de constrangimento pudesse sair do meu corpo. Como se estivesse sendo atraído pelo meu olhar, Trevor levanta a cabeça e seus olhos se encontram com os meus. Ele sorri para mim e coloca seu boné com a aba virada para trás. Penso em mostrar o dedo ou fechar as cortinas, mas sei que nenhuma dessas atitudes infantis mudariam o fato de que ele não gosta de mim. Então, me forço a abrir o sorriso mais radiante que consigo, antes de voltar para a escuridão reconfortante do meu quarto.
A ideia de passar o restante do dia deitada, me parece tentadora, mas não posso deixar que um sentimento mal retribuído me impeça de aproveitar um dia ensolarado para pegar uma marquinha. Procuro por algum biquíni limpo na minha gaveta e por um momento penso em vestir o biquíni branco que usei na última vez em que estive com Trevor, mas logo mudo de ideia. Não quero que ele pense que estou tão desesperada por sua atenção, quanto realmente estou. Visto um biquíni preto, a parte de baixo é menor do que costumo usar, mas coloco um shorts para me sentir mais confortável. Abro a porta do quarto e obrigo minha parte emocional a não pensar na possibilidade dele estar me esperando em frente à porta. Vou até o banheiro e me olho no espelho. Meus olhos ainda estão inchados da choradeira da noite anterior e as pontas mais claras do meu cabelo, estão secas, por eu ter molhado meu cabelo tantas vezes na piscina. Escovo os dentes e amarro meus cabelos. Eu sei que isso que estou passando é apenas um período emocional e não devia descontar nos meu cabelos, mas preciso mudar. Preciso fazer algo diferente para que eu possa ser alguém diferente. Alguém forte que não passa noites em claro chorando por alguém que não à quer. E se um cabelo diferente pode fazer isso por mim, então, é isso que vou fazer.
Volto para meu quarto e pego meu celular e um livro novo que estou lendo, antes de ir até a piscina. Desço as escadas, mandando mensagem para meu cabeleireiro, implorando por um horário para amanhã mesmo. Ele logo responde, mas paro de sorrir ao ler que ele só terá horário a partir do próximo mês. Um surto não pode esperar por um mês! Então, decido pedir para Rachel pintá-lo para mim, não quero descolorir mais, só quero escurece-lo. Saio para a área da piscina e meu estômago embrulha de fome.
-Bom dia, papai.- me inclino para dar um beijo em seu rosto, ele retribui o gesto, mas mal tira os olhos do jornal por tempo suficiente e minha boca fica com gosto de protetor solar.
-Bom dia, Cindy.- aceno para ela, que levanta a cabeça por míseros segundos e sorri para mim, antes de por a cabeça entre os braços, já que mudou de posição e agora está deitada de bruços.
-Bom dia, Trevor.- tento parecer o mais natural possível ao cumprimentá-lo, mas seu nome sai da minha boca de um jeito estranho.
-Bom dia minha gata. Dormiu bem?- pelo visto ele encontrou a forma mais maldosa de ser gentil comigo. Evito pensar no frio que senti em minha barriga ao ouvir ele pronunciar "minha gata". Lembro a mim mesma que ele não sabe que chorei igual uma idiota até dormir.
-Dormi como um bebê, e você?- sirvo um copo de suco que está encima da mesa, ao lado da churrasqueira.
-Foi estranhamente desconfortável dormir sem você, para ser sincero.- ele coloca um hambúrguer em seu pão, como se não tivesse dito nada de mais e em resposta quase cuspo meu suco.
-O que?- olho para ele só para ter certeza que ouvi direito e ele ri da minha perplexidade.
-Foi isso que você ouviu.- ele mastiga o pão lentamente, antes de continuar a falar.- Demorei um pouco para vir para casa, porque precisei esperar meu primo terminar de se esfregar com a Rachel, para deixá-lo no dormitório. Quando cheguei aqui, subi e fui até seu quarto, mas você estava toda esparramada na cama e tinha um pouco de baba escorrendo da sua boca.
-Cala a boca!- eu o repreendo e reviro os olhos, mordo a parte interna das bochechas para evitar sorrir como uma idiota.
-Eu estou falando sério!- ele começa a rir como se estivesse lembrando.- um dos seus olhos estavam meio abertos, então, fiquei com medo e resolvi dormir no meu quarto.
-Você é mesmo um idiota.- termino de servir meu prato e me afasto para comer sem ser analisada por ele.

Desejo ImprudenteOnde histórias criam vida. Descubra agora