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Então, fiz a única coisa que sei fazer. Eu fugi. Literalmente. O empurrei pelo ombro e sai da sala o mais rápido que consegui.
Agora, estou dentro do meu carro, com os nós dos dedos brancos por apertar o volante com muita força. Meu celular, que esta conectado ao painel do carro, fica tocando músicas aleatórias enquanto tento ligar para Rachel pela décima vez em menos de cinco minutos. Círculo pelas ruas da cidade e reparo nos pedestres caminhando pelas calçadas, alguns riem como se a vida fosse mágica, outros andam a passos largos, enquanto esbarram uns nos outros. Olho para eles tentando encontrar uma resposta que obviamente não está ali. Não sei o que fazer. Não sei nem para onde ir. Este sentimento parece esmagar meu peito e consumir cada parte racional do meu ser. Uma vontade esmagadora de voltar e gritar o quanto estou apaixonada por ele quase me faz dar meia volta com o carro, mas a parte minúscula e racional que aparentemente está tendo controle sobre mim mostra flashs do constrangimento quando ele olhar para mim e abrir aquele sorriso lindo antes de me rejeitar. Meu estômago está embrulhado e todas as musicas parecem me lembrar dele. Acho que estou enlouquecendo, nunca imaginei que gostar de alguém poderia ser tão assustador. Paro abruptamente atrás de um Honda que está parado no semáforo e procuro o número de Shelby nos Contatos do celular. Alguns adolescentes passam na faixa de pedestres, brincando uns com os outros e uma garoa fina começa a cair lentamente tomando o lugar da tempestade que estava acontecendo quando sai de casa. A ligação também cai na caixa postal, então, me dou conta de que estou a poucas quadras do apartamento de Coldy e decido ir até lá. Nós nunca fomos próximos a ponto de eu aparecer em sua casa em um domingo à noite apenas para desabafar e me sinto envergonhada por ter chego neste ponto, mas no momento só preciso de alguém com quem eu posso conversar. Talvez, uma opinião vista de fora de tudo que está acontecendo, possa me ajudar a decidir o que preciso fazer.
Paro meu carro do outro lado da rua, em frente ao prédio enorme, todo espelhado no qual ele mora. O frio que atinge meu corpo, faz com que eu estremeça ao andar rapidamente até o prédio. A recepcionista pede para que eu aguarde um minuto antes de liberar a porta dupla e eu olho ao redor, para a rua completamente vazia. As árvores balançando lentamente enquanto gotas de chuva molham meu moletom. Alguns segundos depois as portas se abrem e eu entro para o interior aquecido do prédio. Aceno ao passar pela recepcionista e ela sorri para mim de forma muito educada. Aperto o andar do apartamento de Coldy e lembro das diversas vezes em que trouxe ele bêbado para casa e precisei subir até seu apartamento porque ele não conseguia nem pronunciar o andar no qual morava. Entro no elevador e vejo meu reflexo no espelho luxuoso, sai de casa do jeito que estava. Estou vestindo moletom e chinelo, isso porque tive sorte de encontrar o par de chinelos da Cindy na porta da garagem, caso contrário provavelmente estaria descalça e me sentindo ainda mais deslocada.
As portas do elevador se abrem em frente à enorme porta branca. Para entrar, precisa por o dedo no leitor digital. Todo o nosso grupo de amigos, tem o dedo cadastrado e podemos entrar no momento em que quisermos. A maçaneta é destravada e o apartamento está com as luzes todas apagadas, exceto pela luz ambiente posicionada em alguns pontos estratégicos. Na cozinha encontro varias garrafas de vinho abertas e espalhadas ao longo da bancada de mármore branco. Entro na sala de jantar e automaticamente me arrependo de ter vindo. É óbvio que Coldy também está ocupado. Todos os meus amigos estão ocupados com suas próprias vidas e eu me sinto idiota por pensar que meus problemas pudessem ser maiores que os deles. Volto por onde entrei e tento sair o mais discretamente que consigo, até me chocar em algo. Assim que meus olhos se acostumam com a escuridão, consigo enxergar o que está na minha frente e levo as mãos à boca para abafar o grito. Shelby está parado na minha frente com os olhos arregalados e completamente nú.
-Meu Deus, Abby!- ele se curva e tenta cobrir suas partes baixas.- O que você está fazendo aqui?
-Meu Deus, meu Deus.- repito enquanto viro o rosto para o lado.- Me desculpa!
Shelby corre até a cozinha e vejo sua bunda branca e estranhamente linda. Ele volta com uma toalha e enrola em sua cintura estreita e eu finalmente consigo olhar para seu rosto. Apenas nos encaramos por alguns segundos, atônitos, antes de termos uma crise de riso. Na verdade, eu comecei a rir desesperadamente e acho que ele só entrou na onda.
-Que merda está acontecendo aqui?- Coldy entra pela porta lateral do corredor. Ele está apenas de cueca boxer e eu paro de rir para tentar limpar as lágrimas que se formaram nos meus olhos.
-Desculpa ter aparecido assim.- eu me explico, tentando não tirar o olhar de seu rosto e fingir que os dois não estão praticamente pelados na minha frente, tentando entender o que eu vim fazer aqui.- Eu precisava conversar com alguém e Rachel não me atende. Liguei para Shelby e ele também não me atendeu. Eu estava perto daqui, então, resolvi passar para ver se você estava em casa.
-Bom, eu estou.- Coldy ri e joga os cabelos loiros para trás.
-Eu vou subir e vestir uma roupa.- Shelb anuncia e sai pelo corredor que Coldy entrou momentos antes.
-Você está cheirando a sexo.- eu comento ao segui-lo até a cozinha. Ele abre a geladeira e pega uma garrafa de água.
-Obrigado.- ele ri e bebe a garrafa em grandes goles.- Então, o que você precisa falar comigo?
-Deixa para lá.- dou de ombros.- Eu vou para casa. Desculpa ter vindo sem avisar.
-Para com isso, Abby. Você pode vir quando quiser. O que aconteceu?
Shelby volta até a cozinha, vestindo uma bermuda de moletom azul marinho, ele trouxe uma calça para Coldy, que agradece ao vesti-la. Eu me sento na banqueta, atrás do balcão e sirvo o resto do vinho que encontro em uma das garrafas, numa taça suja que está ao lado. Bebo tudo rapidamente antes de dizer.
-Estou apaixonada por Trevor.- cuspo tudo rapidamente e as palavras soam estranhas ao serem pronunciadas em voz alta, mas infelizmente não parecem menos verdadeiras. Eles trocam olhares rápidos antes de rir, como se fosse uma piada interna entre eles.- Vocês estão rindo do que?- de repente, a possibilidade de Trevor ter contado para eles as coisas que fizemos, faz meu estômago embrulhar.
-E por que você fala como se isso fosse algo ruim?- Shelby questiona, enquanto tira os ingredientes para fazer um sanduíche.
Eu termino de beber outra taça, com o resto de outra garrafa que encontrei junto com a primeira.
-Porque ele não está apaixonado por mim.- término de beber o vinho da taça e um pouco do líquido cor de âmbar escorre pelo meu queixo.-Mas enfim, achei tão importante o que eu tinha para dizer, mas agora que vi vocês juntos. Me sinto uma idiota por ter vindo até aqui dizer isso.
-Relaxa. Nós já tínhamos acabado.- Coldy ri e Shelby revira os olhos antes de morder seu sanduíche.- Vamos sentar na sala.- ele fala ao voltar da adega com duas garrafas de vinho cheias. Eu me levanto da banqueta, que esfriou minha bunda e acompanho os dois até a sala.
A vista é incrível. Todas as vezes que vim aqui, parei por pelo menos alguns minutos para vislumbrar a imagem de boa parte da cidade, vista de cima. A janela vai de uma extensão a outra e é possível ver as luzes de todo o centro se entender ao longe. Desço alguns degraus até chegar no sofá e me sento.
-Então, como isso aconteceu?- pergunto me referindo aos dois. Shelby se joga ao meu lado e pega minha taça para enche-la.- Quer dizer, eu e a Rachel já imaginávamos que podia existir algo entre vocês.- passo a mão pelos cachos de Shelby quando ele escora a cabeça no meu ombro. Coldy senta na outra ponta do sofá, com as pernas esticadas.- mas eu achei que era só algum shipper.
-Como assim, vocês imaginavam?- Coldy pergunta curioso e Shelb passa a taça com vinho para ele.
-Porra, vamos ficar os três dividindo a mesma taça?- dou risada ao perguntar e shelb se levanta para buscar mais duas taças. Ele volta rapidamente com as taças e mais uma garrafa de vinho.- Vocês querem me embebedar?- eu pergunto desconfiada e eles se olham.- porque estão conseguindo.
-Conta, que história é essa de que vocês imaginavam.- Coldy insiste e vejo que ele está realmente curioso.
-Pequenas coisas.- bebo um gole e eles fazem o mesmo.- Olhares, indiretas, ciúmes...Vocês não são tão discretos como imaginam.- eles riem.- Mas me contem, como começou?
-Ele me viu pelado no vestiário e ficou louco.- Coldy fala e eu dou risada, em resposta, Shelby da um safanão em sua cabeça. E ele exclama fingindo ter sentido dor.
-Não foi assim, idiota.- Shelb revira os olhos, mas não consegue segurar a risada. Bebe um gole de vinho antes de continuar.- Realmente, nós estávamos no vestiário e rolou um clima. Mas isso foi ano passado. Fomos numa festa este ano, ficamos muito loucos e rolou.- ele da de ombros como se não tivesse importância e Coldy bebe um gole de vinho para esconder o sorriso.

Desejo ImprudenteOnde histórias criam vida. Descubra agora