Desejo Imprudente

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P. O. V Abby
Não dá para acreditar que ele simplesmente terminou de limpar o carro e saiu como se nada tivesse acontecido. Poderia ter sido qualquer uma, por isso não posso me deixar envolver. Aposto que ele foi se encontrar com a Megan ou qualquer outra oferecida que ele encontrar. Como pode alguém ser tão idiota a ponto de beijar a irmã postiça e depois nem vir atrás para tentar se desculpar. Não que ele precise se desculpar, eu sei que eu retribui o beijo, mas ele podia ter vindo, talvez, a gente pudesse ter se beijado de novo e de novo. Eu poderia beija-lo sem parar por horas. Sua boca era tão firme e macia quando se chocou contra a minha e foi sem duvida o beijo mais gostoso que eu já tive na vida. Me deu vontade de implorar para ele fazer o que quiser. É por isso que preciso evita-lo. Ele me faz sentir coisas que eu não sei se deveria sentir, ainda mais por ele.
A única coisa que tenho que me preocupar é em conversar com Rosa, para que ela não conte para ninguém o que viu. Nunca. Desço as escadas correndo para procurá-la e a encontro cuidando do jardim.
-Nós podemos conversar?- minha voz sai baixa e é evidente meu desconforto em falar sobre isso.
-Sobre o que, querida?- ela larga o regador no chão e me olha como se realmente não soubesse qual o assunto.
-Por favor, não conta para ninguém o que você viu.- imploro juntando as mãos.- Ninguém entenderia. Eu sei que foi errado, mas foi a primeira vez e eu juro que nunca mais vai acontecer.
-Eu sou só uma funcionária, Abby. Nada do que você faz me diz respeito, mas como gosto muito de você, vou te dar um conselho.- ela se aproxima e segura minhas mãos.- Garotos como ele são um perigo para meninas como você.- não consigo evitar o riso com sua preocupação.
-Quanto a isso não precisa se preocupar.- afirmo com convicção e volto para meu quarto.

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Já faz mais de três dias que eu e Trevor estamos nos evitando completamente. Agora que ele tem o próprio carro, não tem motivo algum para eu ter contato com ele. O cretino está evitando até se sentar na mesma mesa que eu no intervalo, no começo achei que fosse a melhor coisa, mas sempre que me pego observando ele de longe fico pensando em respostas potenciais para responde-lo quando ele vier me incomodar. Não estou dizendo que sinto falta dele, só sinto falta da atenção, não que ele tenha ficado menos relaxado ou irritante já que sempre encontro coisas dele espalhadas por algum canto da casa.
Estou a pelo menos meia hora deitada de bruços nessa espreguiçadeira, rezando para esse bronzeador ser bom o suficiente, já que o sol se esconde no meio das nuvens de tempos em tempos. O que me mantém distraída é o livro novo que comprei, que coincidentemente é um clichê sobre um garoto idiota e uma menina boa demais para ele. Hoje é sexta e sei que John vai me ligar a qualquer momento para confirmar o horário e local da corrida, eu liguei para ele a alguns dias atrás e praticamente implorei para ele arranjar uma corrida para um "amigo". Meu celular toca embaixo da espreguiçadeira e atendo antes de iniciar o segundo toque.
-Eai, conseguiu arranjar a corrida?- pergunto assim que john me cumprimenta.
-Sim. Vai ser no mesmo lugar onde foi a última. Eu consegui uma corrida para ele, mas o chefe disse que você vai ter que correr também.
-Não vejo a hora! Faz tempo que eu não sei o que é uma boa adrenalina.-ouço ele rir.
-Vocês só precisam chegar depois das onze. Até mais tarde.
Ele desliga o telefone e eu me sinto até mais animada, sabendo que vou poder correr e extravasar toda minha frustração de uma vez. Agora só preciso criar coragem para fazer a parte mais difícil, falar com Trevor. Subo até o banheiro e tomo um banho longo e relaxante para tirar o óleo de bronzear, me olho no espelho e fico satisfeita com a marquinha do biquíni. Depois de secar o cabelo e vestir uma roupa confortável, respiro fundo e tomo coragem para ir falar com ele. Já bati na porta do seu quarto umas três vezes e não obtive resposta. Eu vi seu carro na garagem, então sei que ele está em casa. Resolvo subir até a sala de jogos, já que aparentemente é o lugar que ele mais fica quando está em casa. Subo as escadas para o terceiro andar devagar e sinto um frio no estômago ao me aproximar da porta. Não acredito que estou nervosa, é só uma conversa idiota. Abro a porta lentamente e o vejo jogado no pufe olhando de forma concentrada para a Tv, enquanto joga algum jogo idiota que não faço ideia do nome. Seu cabelo parece mais cumprido e está jogado sob seu rosto. Trevor nem sequer percebeu minha entrada, então, pigarreio com a garganta para chamar sua atenção, quando ele finalmente olha para mim, reparo que está com fones de ouvido-por isso não me viu entrando- ele franze as sobrancelhas e parece surpreso em me ver aqui.
-Preciso falar com você.- falo cautelosamente. Não quero causar nenhum tipo de discussão. Ele tira os fones de ouvido, mas volta a jogar.
-Pode falar. Estou ouvindo.- ele aperta furiosamente os teclados do controle enquanto morde os lábios em concentração. Me aproximo e fico em pé ao seu lado, ele nem se incomoda em virar o rosto na minha direção. Para ser sincera, eu preferia muito mais quando ele me olhava como se fosse me engolir.
-Arranjei a corrida que você me pediu.- finalmente consigo chamar sua atenção, mas não demonstra tanta animação quanto eu achei que demonstraria.
-Obrigado. Que horas é para eu estar lá?- finalmente tenho a atenção de seus olhos e quase suspiro de felicidade. Como alguém consegue ser tão bonito. Seus olhos dourados fazem um belo contraste com seu moletom preto.
-Hoje, depois das onze. Eu vou te levar lá. Você prefere ir com seu carro para pegar o Skyline ou prefere que eu te leve até lá?
-Eu vou com meu carro, aí deixo lá, pego o seu e vou para a corrida, aí na volta deixo o seu lá e volto com o meu. Aí você não vai precisar ir e voltar comigo.- se eu o conhecesse o suficiente, diria que ele parece magoado.
-Eu vou correr também, então, não tem problema de irmos e voltarmos juntos, só se você tiver algum lugar para ir depois. Enfim, você que sabe. Dez horas eu quero você pronto.- falo de forma autoritária enquanto ando até a porta. Ouço ele rir e não consigo evitar sorrir, mesmo estando de costas.
-Pode deixar, mamãe. Eu vou estar pronto.- é estranhamente bom ouvir ele fazer piadas só para me provocar.