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Abro os olhos com a sensação suave de alguém acariciando meus cabelos. Meu coração aquece, com a possibilidade de ser Trevor. Acabo sorrindo com a idealização, mas quando meus olhos se acostumam com a escuridão do quarto, percebo que quem está ao meu lado é meu pai.
-Você precisa terminar de arrumar suas coisas.- ele se levanta da cama. Como se me tocar o tivesse causado uma queimadura.- Seu voo sai em duas horas.
Meu pai bate à porta ao sair e eu me sento na cama. Olho ao redor, tentando gravar tudo que posso. Meu corpo está amortecido, da choradeira da noite passada. Minhas esperanças se esgotaram. Ergo minhas duas malas e as coloco no chão. Visto um moletom e e desço as escadas com esforço para não derrubar nenhuma das malas atrás de mim. Passei no quarto de Trevor para me despedir, apenas para encontrar a porta aberta e o quarto vazio.
Meu pai está esperando na sala, quando termino de descer as malas. Ele se levanta do sofá e me ajuda. Saímos pela garagem e eu vejo meu carro estacionado, como no dia anterior. Caminho até ele e passo a mão na lataria, sempre tão brilhante.
-Vou sentir sua falta, Zeus.- o carro fica lá, inatingível, quando entro no carro do meu pai.- Por favor, não faça nada com ele.
-Vou enviá-lo para você, em Mônaco.- ele diz, simples. Um pouco de felicidade volta a preencher meu coração.- Mas primeiro, vou tirar as peças ilegais.
-Tudo bem.- não discuto. Ele não está errado, no fim das contas.
O caminho até o aeroporto é torturante e muito rápido. Não pude me despedir de ninguém. Dos meus amigos, da Rosa, Cindy, de Trevor... Meu pai esta literalmente, me dando um chá de sumiço. Ele estaciona no aeroporto e a dor no meu peito é quase insuportável. Se Trevor tivesse pelo menos olhado para mim por mais de um segundo, na noite de ontem. Eu teria dito para fugirmos. Nós podíamos pegar o dinheiro que ganhamos e sumir juntos por um tempo. Mas minha parte racional volta a lembrar que não seria justo fazer isso com ele. Tirar seu futuro por um capricho, seria a maior idiotice que eu poderia fazer. Se ele me amasse, como disse. Teria ao menos se despedido.
Meu pai se despede rapidamente, quando chegamos em frente à área de embarque. Vejo uma lágrima escorrer de seus olhos, mas ele seca rapidamente.
-Eu te amo, filha.- ele passa a mão em meu cabelo e ajeita um fio rebelde, como quando eu era criança.-Vai ser bom para você.- ele parece estar se esforçando para acreditar nisso.- Mônaco é um lugar lindo. Eu vou te mandar dinheiro mensalmente.
-Tudo bem, papai.- coloco minhas malas na esteira.- Me desculpa, por tudo.
Me afasto sem olhar para trás e pego minhas malas na outra ponta da esteira, depois de passar pela fiscalização.
A área de embarque não está lotada. Coloco meus óculos de sol, antes de me sentar na poltrona mais distante que encontro. Todas as lembranças com Trevor insiste em passar em minha mente. Solto uma risada baixa e dolorosa, ao lembrar de todas as nossas discussões sem sentido. Gostaria de ter passado mais tempo ao seu lado. Tudo o que tenho agora, são lembranças vívidas demais para meu próprio bem.
Uma voz feminina anuncia meu voo pelo alto-falante e caminho no piloto automático. Entro na plataforma e passo alguns minutos na fila de embarque.
Olho para os lados, rezando para qualquer Deus que possa meu ouvir. Logo a comissária pega minha passagem e passaporte. Tento sorrir para ela, mas tenho medo de não ter conseguido.
Entro no avião e procuro por minha poltrona. A viagem vai ser longa e meu pai me colocou na classe econômica. Eu daria risada, pela alfinetada, se não fosse por meu mundo estar desmoronando. Sento do lado da janela e tiro meus óculos.
Tenho certeza de que já li um livro parecido com isso. De certa forma, isso me conforta.
Reparo numa mãe, sentada na poltrona da frente. Sua filha, tem longos cabelos castanhos e não para de me encarar, pela fresta entra as poltronas. Me aproximo para olhar diretamente em seus olhos. Seus cílios são compridos e claros. Seus olhos parecem grandes demais para sua cabeça. Dou um sorriso, antes de virar os olhos para trás e fazer a pior careta que consigo. Observo seu rosto se contorcer, antes dela começar a chorar. Sorrio satisfeita, quando sua mãe me olha com desgosto e ajeita o cinto na cintura da filha.
-Jantando criancinhas?- alguém fala, em pé ao meu lado. Estou pronta para dar uma resposta sarcástica, quando levanto o rosto.
-São minhas preferidas.- não consigo controlar a surpresa ao ver Travor em pé ao meu lado com uma mochila nas costas e óculos de sol tampando seus olhos.
Travor ri e ajeita sua mochila no compartimento acima de nossas cabeças. Meu coração está disparado e minhas mãos soam. Agarro seu braço no momento em que ele se senta ao meu lado e agradeço a Deus por ter ouvido minhas orações. Ele se vira e gruda meus lábios nos dele, lentamente. Sorrimos na boca um do outro e eu jogo meus braços ao redor do seu pescoço.
-O que você está fazendo aqui?- ofego ao separar nossos corpo. Ele passa a mão em meu rosto e volta a me beijar, dessa vez nosso beijo é mais intenso e meu corpo aquece. Ele segura minha mão e sinto algo frio ser colocado em meu dedo.
-Você não devia ter pedido antes?- olho para o anel prateado em meu dedo e não consigo parar de sorrir.
-E correr o risco de você dizer não?- seu dedo já está com a aliança e passo minha mão em seu rosto, apenas para ter certeza de que não é um sonho.- Eu vou onde você for, minha gata.

Desejo ImprudenteOnde histórias criam vida. Descubra agora