P. O. V Abby
Estacionei meu carro em frente a minha casa e respirei fundo. Meu pai me ligou no fim da aula e disse que nós precisávamos conversar. Pelo menos ele não usou aquele tom de voz reprovador, como no mês passado, quando ligaram para ele dizendo que eu discuti com um policial. Aquilo nem sequer foi uma discussão, eu apenas defendi meu carro quando aquele idiota disse que não era um carro para "garotinhas".
Dou risada ao descer, quando lembro da cara de raiva do meu pai quando foi me buscar na delegacia.
Estou prestes a abrir a porta de casa quando ouço meu celular tocar e derrubo minha bolsa no chão na tentativa de pega-lo no bolso. Na tela, vejo que é o numero de Rachel-minha melhor amiga- e atendo rapidamente.
-Oi Abby!- ela diz com um gritinho e dou risada da sua animação.- Já cheguei de viagem. Você não pode dormir aqui hoje? Preciso te contar as novidades.
- Oi, Rachel. Tenho que jantar com meus pais. Acabei de chegar em casa. Mas depois eu vou.- seguro o celular com o ombro enquanto tento não deixar minha bolsa e jaqueta caírem de novo.
Entro pelo corredor de casa conversando sobre as novidades com Rach e no momento que passo em frente à sala de jantar vejo meu pai e madrasta já sentados.
- Oi papai. Oi Cindy. Oi estranho.- espera. Estranho? Olho de novo para mesa e vejo um menino sentado na cadeira ao lado da minha madrasta. - Rachel, eu preciso desligar, mais tarde eu passo ai.- não pude evitar olhar novamente para o garoto, ele é realmente bonito. Cabelos escuros e despenteados, provavelmente passou longe de uma escova hoje, mas tem olhos muito bonitos, castanho amarelados. Paro de encara-lo ao ouvir a voz do meu pai direcionada a mim.
- Nós precisamos conversar.- percebo o nervosismo em seu tom de voz.
Olho para minha madrasta e ela mexe suas mãos nervosamente em cima da mesa, enquanto o garoto mantem um pequeno sorriso, como se estivesse achando a situação engraçada.
- Vou levar minhas coisas para o quarto e já desço.- respondo, indo em direção às escadas.Não consigo deixar de pensar sobre o que meu pai quer conversar comigo. Eles parecem tão nervosos. E porque aquele garoto parece estar se divertindo com o nervosismo deles? Provavelmente não é nada de mais, acho que ele só vai apresentar o garoto como "membro da equipe" o que é um grande eufemismo para descrever a maior empresa de automóveis da cidade de Detroit, da qual ele é dono. O que seria uma pena se levar em conta que uma das regras dele é: nunca ficar de paquerinha com quem trabalha para ele.
Jogo minha mochila na cama e desço essa enorme escadaria. Quem precisa de tanta escada? Ao me sentar ouço meu pai fazer um barulho estranho com a boca, provavelmente para eu ser educada e cumprimentar o convidado.
- Prazer, sou Abby Maquenzi.- estendo a mão sobre a mesa para cumprimentá-lo. Ele me encarou com um sorriso divertido no rosto e depois do que pareceu ser um século, finalmente respondeu.
-Trevor. O prazer é todo meu.- a minha intuição está gritando para eu dar um soco nesse sorrisinho petulante dele.
-Então, podemos começar a conversa séria?- perguntei erguendo as sobrancelhas em um gesto de impaciência.- Eu ainda tenho que sair. E desde quando você trás seus empregados para jantar aqui?- não sei porque estou tentando ser tão mau educada, mas algo na forma que ele sorri parece uma afronta para mim. Ouço uma risada ligeiramente infantil e incisivamente me viro para ele.
- Disse algo engraçado?- pergunto com grosseria.
Trevor abriu a boca para responder, mas meu pai o interrompeu.
- Trevor é filho da Cindy.
- Oh.- não contive a surpresa e senti minhas bochechas esquentando de vergonha.- Me desculpa, Cindy. Eu não tinha ideia.
- Não tem problema, querida. Alias, seu cabelo ficou lindo com essa cor.- percebi que ela disse isso apenas para descontrair. Sorri em agradecimento.
- Você gostou mesmo?- pergunto, tentando mudar de assunto.
- Ficou lindo, filha.- meu pai interrompeu.- Bem melhor que o roxo da última vez.- reviro os olhos, mas não consigo evitar o sorriso pelo elogio.
Ao me dar conta de que a mesa voltou a ficar em silêncio e ninguém se prestou a explicar o motivo do jantar, resolvo sair.
- Bom, foi ótimo jantar com vocês, mas eu tenho que ir- comunico me levantando da cadeira.
- Abby, o Trevor vai morar com a gente.- meu pai soltou tudo de uma vez de forma afobada e eu só pude ficar estática diante da mesa.
Pude ver Cindy lançar um olhar indignado para ele que em resposta apenas encolheu os ombros. Se fosse em outra situação eu até teria achado engraçado.
- Como? Eu não ouvi direito.
- Ouviu, sim! O Trevor é o novo membro da família- meu pai responde determinado.
- Você vai por um estranho dentro da nossa casa?- pergunto indignada.- E a minha segurança e privacidade? Até onde eu sei ele pode ser um espião infiltrado!- gritei histericamente.
-Ab, para de drama. Ele é filho da minha mulher e vai morar aqui, assim como você.
- Ótimo papai- não consigo evitar o deboche.- Coloque um estranho aqui. Eu não mando em nada pelo visto.- não evito o drama ao sair da mesa.
- Volte aqui, mocinha! Eu ainda não terminei.
Respiro fundo e resolvo voltar à mesa. Meu pai sabe ser bem persuasivo quando quer e eu não estou afim de arranjar mais problemas.
Me sento na cadeira novamente e o olho com toda raiva que consigo, o que não aparece afetar meu pai nem um pouco.
- Ele vai começar no mesmo colégio que você.- abro a boca para protestar, mas ele continua falando.- E enquanto ele não comprar um carro você vai dar carona...- o cortei no meio da frase.
- Nem pensar! Tudo bem ele morar aqui, mas no meu carro ele não vai entrar. Além do mais, esse garoto deve ter quase vinte anos, o que ele está fazendo no ensino médio?
- Eu tenho quase dezenove.- ele falou pela primeira vez durante toda a discussão. Tinha quase me esquecido que ele estava na mesa.
-Não te perguntei nada.- falo rispidamente, mas tudo que ele faz é rir e virar os olhos.
- Já chega,Abby! Termine sua refeição na cozinha e hoje você não vai sair. - meu pai fala já sem nem um pingo de paciência.
- Eu vou comer na cozinha, sim. Mas porque eu quero, não porque o senhor está mandando.- saio pisando duro com o prato e o celular na mão.
Ao chegar na cozinha me sento na ilha de granito e ligo para Rachel.
- Você não está entendendo. Ele ficou lá sentado como se a culpa disso tudo não fosse dele. - falo, após ela ter tido uma crise de riso por eu ter usado centenas de adjetivos negativos para defini-lo.
Acabo rindo junto com ela e quando estou prestes a continuar falando mau dele, Trevor entra na cozinha segurando seu prato, e o coloca na lavadoura. E então eu consigo examina-lo por completo. O cretino é realmente bonito. No mínimo uns vinte centímetros mais alto que eu, corpo magro e eu pude ver o início de uma tatuagem em seu braço esquerdo sob a camiseta preta e a calça escura. Tudo isso só me deixou ainda mais irritada.
- Não precisa parar de falar mau de mim só porque eu apareci, maninha.- estreito os olhos e respiro fundo, me controlando para não atirar uma dessas frigideiras em sua cabeça.
- Te ligo depois, Rachel. O bastardinho está aqui.- sorrio por conseguir uma reação dele, ao vê-lo estreitar os olhos e respirar fundo.
Desço da banqueta e vou andando em sua direção. Cruzo os braços ao parar em sua frente e empino o nariz, rezando para parecer mais alta do que realmente sou.
- Já que você vai ficar aqui, tenho umas regras para você. Provavelmente você vai ficar com o quarto ao lado do meu e esse quarto não tem banheiro, então, você vai ter que usar o banheiro do corredor. Acontece que eu uso esse banheiro. Eu não quero a tampa do vaso levantada, não quero cueca no chão, não quero pasta de dente aberta.- digo tudo listando nos dedos. Ele não esboça reação alguma.- Ficou claro?
- Como água. Mais alguma regra? - ele pergunta sem desviar o olhar do meu nem sequer uma vez.
- Sim, se você quiser carona para o colégio esteja pronto as sete e vinte. Eu não vou esperar por ninguém.
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Desejo Imprudente
RomanceAbby Maquenzi teve a sorte de nascer em uma boa família, se relacionar com amigos incríveis e apoio de seu pai para tudo que quisesse. Mesmo assim, sua paixão por adrenalina, faz com que ela esconda segredos das pessoas ao seu redor. Tudo está abso...