6

873 59 0
                                    

Simplesmente não consigo acreditar que tive tanta sorte a ponto de não ter tido nenhuma aula com o bastardinho até agora. Talvez a vida esteja feliz comigo, hoje.
Depois de duas aulas seguidas ouvindo o professor falar sobre genética, tudo que eu preciso é dessa comida não identificada que servem no refeitório.
-Fala sério. Por que eu estudo em um colégio desses se eles não podem nem servir um lanche descente?- reclamo enquanto preenchem meu prato com uma gosma amarela que eles estão chamando de batata.
-Você tem razão. Se eles parassem de gastar tanto dinheiro com o time de basquete, talvez nós conseguiríamos comer algo bom.- Jessy afirma ao furar a fila e se servir ao meu lado.
Ela é líder do Grêmio estudantil, e para ela todos os problemas do colégio ocorrem por causa do time de basquete.
Olho para ela, sorrio e afirmo com a cabeça, mesmo acreditando que o time não tenha culpa disso.
Andamos juntas até a mesa e avisto Rachel já sentada, com metade do time e algumas líderes de torcida. Me sento e cumprimento os que me olham.
Estámos eu, Rachel e Jessy falando sobre a festa do Coldy que vai rolar daqui uma semana quando ouço a voz do mesmo cumprimentando todos na mesa.
-Eai, galera. Esse é o Trevor. Ele é novo aqui, então, se comportem.- Coldy apresenta seu novo amigo alegremente e eu só consigo ficar estática diante da mesa. Como o filho da puta entra no colégio hoje e já acha que pode ir fazendo amizade com os meus amigos.
-Oi.- Trevor diz de forma simples enquanto se senta no banco que está vago na minha frente.- Como foram as aulas, maninha?- ele pergunta alto o suficiente para que toda a mesa pudesse ouvir.
Pude ouvir Coldy e Shelby fazerem um barulho estranho de surpresa com a boca, mas o que me chamou a atenção foi a voz ridícula da Megan.
- Por que você nunca disse que tinha um irmão tão bonito, Abby?
- Porque ele não é meu irmão.- lhe lanço um olhar mortal que é prontamente retribuído com um arquear das sobrancelhas.
-Tem razão, eu nunca seria irmão da Abby. Ela é controladora de mais.- Trevor comenta rindo e eu vejo o sorrisinho de puta da Megan para ele, mas estou indignada de mais para mandar os dois pra puta que pariu.- minha mãe é casada com o pai dela, então vim morar aqui.
Trevor continua a conversa com os MEUS amigos e Rachel sussurra no meu ouvido.
-Sua vaca! Ele é muito gato.
- Você gostou? Leva para casa. Só não se irrite quando for usar o seu banheiro e estiver cheio das cuecas dele.
-Ei, calma. - ela levanta as mãos em sinal de rendição- eu só disse que ele é gato.
Bufo e volto a atenção para meu prato até ouvir a voz de Shelby me perguntando algo.
-Então, Ab. Hoje à noite da pizza vai ser na sua casa, beleza?- ele pergunta sorrindo.
Nós sempre fomos muito amigos desde o primário. Ele sempre foi muito atencioso comigo, sempre me olhando com carinho com suas íris azuis e seu sorriso atencioso.
-Mas foi na minha casa a três semanas atrás, não foi?- pergunto confusa, já que toda semana nós fazemos na casa de alguém diferente.
- Eu não sei. Só sei que quero usar aquela piscina gigante de novo. Faz séculos que você não me chama pra ir lá.
-Para de mentir, Shelb. Você foi na minha casa semana passada. Mas tudo bem, pode ser lá, sim. Vocês podem ir depois das sete da noite porque tenho algumas coisas para fazer antes.
-E eu estou convidada, Abby?- Megan pergunta e eu não controlo o sorriso maldoso ao responder.
- Claro que está, Megan. Mas talvez o cloro da piscina faça mal pra você.
- E por quê faria? - ela não tira o sorriso cinico do rosto nem para descansar.
- Porque eu nunca ouvi casos de piranhas que nadassem em piscinas com cloro e eu não quero que você morra envenenada.
A mesa toda ficou em silencio e eu pude ouvir suspiros de espanto, mas o que realmente me chamou atenção foi uma gargalhada ligeiramente infantil vinda do outro lado da mesa. Olho para Trevor, ele esta com lágrimas nos olhos de tanto rir e por um momento eu pude jurar que nunca tinha visto nada mais bonito.

______________________________

Por quê o estacionamento tem que ser tão grande? Eu, sinceramente estou muito cansada psicologicamente pra ainda ter que andar tudo isso! Okay, talvez eu esteja exagerando um pouco. Mas eu realmente estou de saco cheio e para piorar, meus amigos inventaram de ir lá em casa em cima da hora.
Talvez eu possa enviar uma mensagem dizendo que quebrei a perna e eles não podem ir lá hoje...Tá aí uma boa ideia.
Finalmente encontro meu carro, já que o estacionamento esvaziou um pouco. Mas sinto minha paz ir embora assim que vejo esse ser humano criado pelo diabo pra infernizar minha vida e me deixar mentalmente confusa, encostado no meu carro enquanto fuma.
-Desencosta do meu carro. Achei que tinha te falado isso hoje de manhã.- esbravejo.
Ele me lança um sorriso de deboche ao apagar o cigarro e pisar encima.
-Sua mãe sabe que você anda fumando no colégio? Acho que ela ficaria bem desapontada se soubesse.
-Seu pai sabe que você está cuidando da vida dos outros ao invés de cuidar da sua?- ele pergunta com a mesma inocência fingida que eu perguntei sobre o cigarro e em seguida entra no carro. Eu faço mesmo.
-Você está afim de ir a pé? Porque se quiser carona é melhor ficar quieto. E se eu ver você com essas calças sujas arranhando a lataria do meu carro você vai ter que começar a andar só de cueca.- ameaço, mas tudo que obtenho em resposta é uma risada.
-Aposto que você ia gostar.- não consegui evitar o riso enquanto tiro o carro do estacionamento.

Aumento o volume do som e decido que é melhor nem responder uma idiotice dessas. Mas pelo visto ele não quer me deixar em paz, já que eu consigo ver ele me encarando pela minha visão periférica.
-O que foi?- está me agoniando o fato dele ficar me encarando sem dizer nada.
-Por que você não gosta da Megan?
-Porquê eu deveria gostar?- tiro meus olhos da estrada rapidamente para olhá-lo.
- Não sei. Por isso to perguntando... Já sei! Ela deve ter roubado seu namorado capitão do time ou sua vaga nas líderes de torcida.
Dou risada dos motivos que ele inventou sobre eu não gostar da Megan, enquanto viro a esquina para chegar na minha casa. A viagem do colégio até aqui não dura mais que vinte minutos.
-Estou realmente magoada por você pensar tão pouco de mim- coloco a mão no peito fingindo estar magoada. Estaciono meu carro do lado de fora da garagem, já que vou ter que sair daqui a pouco.- Ela não roubou nenhum namorado meu, nem pegou minha vaga nas líderes de torcida. Eu só não vou com a cara dela e ela não vai com a minha.- explico ao sair do carro e ir em direção a entrada da casa.
-Só isso?- ele parece surpreso com a minha resposta.- Nenhum drama adolescente?
-Não. Nenhum drama envolvido. Apenas duas pessoas que não se gostam.- o olho e faço sinal com as mãos apontando para ele e para mim.- Igual a gente.- tento segurar o sorriso, mas não consigo.
Trevor cai na risada - acho estranho o fato de gostar tanto da risada dele- e revirou os olhos antes de subir as escadas, provavelmente para ir ao seu quarto. Resolvo ir direto para a cozinha. Estou morrendo de fome e posso sentir o cheirinho do almoço exalando por toda a casa.
-Oi Rosa. Achei que você só fosse chegar de viagem amanhã. Não aguentava mais comer comida de restaurante!- exclamo ao abraçá-la.
Rosa me abraça e volta colocar os pratos e talheres encima da ilha. Nós dificilmente comemos na sala de jantar. Meu pai e Cindy nunca estão em casa durante a semana.
-Senti saudades, querida. Resolvi voltar mais cedo porque minha irmã já está melhor e eu tenho coisas para fazer aqui.- ela sorri ao falar, formando rugas ao redor de seus olhos.-Agora, me diga uma coisa. Fiquei sabendo que o filho da Cindy veio morar aqui. Como ele é?
Abro a boca para respondê-la enquanto sirvo meu prato, mas ele já está entrando pela porta, apenas de jeans e a camiseta no ombro. Qual o problema desse garoto com camisetas? Tenho que me lembrar de não ficar olhando.
Rosa está de costas então não teve a oportunidade de olhá-lo.
-Veja por si mesma.- falo enquanto bebo um copo de água e ela se vira para olhá-lo.
-Olá, bonitão!- ela diz arfante e eu me engasgo com o copo de água, dando risada. -Não sabia que Cindy tinha um filho tão bonito.
Trevor esboça um sorriso que eu posso classificar como charmoso e agradece. Eu realmente não tinha ideia que ele sabe ser educado.
-Desculpa. Eu não sei seu nome.
- É Rosa, querido. Estou aqui para o que precisar.-ela fala com simpatia e Trevor balança a cabeça agradecendo.
-Você sabe se minha mãe vem para o almoço?- ele pergunta distraidamente enquanto enche seu prato de macarrão.
Levanto a cabeça para responder e ele me olha na mesma hora. Por algum motivo, não consigo deixar de encara-ló e desvio meus olhos pra sua boca no momento em que ele passa a língua pelos lábios distraidamente. Sinto minhas bochechas corando e desvio o olhar, mas consigo ver ele segurando um sorriso convencido. Provavelmente, porque viu que eu fiquei com vergonha. Filho da puta!
-Eles não almoçam em casa. Geralmente comem em algum restaurante.- tento  falar com naturalidade, como se o momento constrangedor não tivesse acontecido.
-E o que a gente vai fazer nessa casa enorme o dia todo?- dessa vez eu o olho decidida e vejo que está com a boca cheia de macarrão, dou risada ao ver sua boca toda lambuzada.
-Você não sabe comer sem parecer uma criança de sete anos?- entrego a toalha de papel para ele.- Eu vou sair, então não sei o que VOCÊ.- enfatizo.- vai fazer o dia todo. Você pode usar a sala de jogos que fica no terceiro andar, pode usar a piscina ou ver tv, sei lá.- dou de ombros e me levanto para ir me arrumar.
-O que você tem pra fazer hoje à tarde?- ele  me segue. Reviro os olhos e me viro parando de frente para ele.
- Não te interessa o que eu tenho pra fazer. Pelo amor de Deus!- volto a andar e ele vem atrás de mim.
-Tá. E você vai me deixar aqui sem nada pra fazer o dia todo?
-E você acha que se eu ficasse em casa nós iríamos fazer alguma coisa como se fôssemos amigos?- pergunto secamente enquanto subo em direção ao meu quarto.
-Eu achei que seu pai tinha dito pra você me dar carona enquanto eu não comprasse um carro...
-Não. Meu pai disse para eu te dar carona pra ESCOLA enquanto você não compra um carro. Eu não vou ser sua motorista.- bato à porta do meu quarto com força e ouço ele rir do outro lado da porta. Não acredito que esse infeliz fez toda essa ceninha só para me irritar.

Desejo ImprudenteOnde histórias criam vida. Descubra agora