P. O. V Trevor
Já é mais de uma da manhã e a essa altura todos já devem estar dormindo. Pelo menos quando fui na sacada do meu quarto, que fica praticamente do lado da sacada do quarto de Abby, as luzes estavam apagadas, então, acho que ela não vai sentir o cheiro.
Coloco a maconha no bong e puxo a fumaça de dentro varias vezes, tragando o máximo possível para chapar rápido e não ficar muito cheiro aqui dentro. Eu realmente precisava relaxar, finalmente sinto que estou conseguindo. Meu quarto provavelmente está fedendo muito a essa altura, mas no momento não consigo ligar para isso. Minha cabeça já está mais leve e me encosto na cabeceira da cama, dou risada sozinho com a sensação de alívio que estou sentindo. Acendo o bong de novo e a fumaça já está toda na minha boca quando a porta se escancara do nada. Me engasgo com a fumaça e não consigo para de tossir, não acredito que esqueci de trancar a porta, fico tossindo por pelo menos uns trinta segundos até conseguir ver quem esta na minha frente com uma cara furiosa. Eu não mereço isso. Ela precisa usar uma blusa tão curta como pijama?
-Eu não acredito que você está fumando aqui dentro! O cheiro foi todo para o meu quarto.- ela parece que vai explodir, seu rosto está vermelho de raiva e eu não consigo controlar o riso. Seu cabelo está todo bagunçado, provavelmente já estava dormindo e acordou com o cheiro.
-Desculpa.- consigo falar quando paro de rir e volto a fumar. To calmo demais para me preocupar com os chiliques dela.
-Você não vai parar de fumar?- ela pergunta ao se aproximar de mim com os braços cruzados e as sobrancelhas franzidas. Incrível que mesmo estando com a cara amassada de dormir e o cabelo todo desgrenhado ela fica menos atraente.
-Você quer fumar também?- ofereço.
-Não! Eu não quero fumar. Eu quero que você apague isso para eu voltar a dormir.- ela me encara com toda a raiva que tem, mas eu só consigo achar absurdamente fofo a essa altura, então, acabo rindo.- Para de rir, idiota.
-Medrosa.- provoco.- Aposto que você nunca fumou.- falo isso porque se tem algo que eu sei sobre ela é que ela odeia ser desafiada.
Meus olhos devem estar muito vermelhos e eu me sinto bem. Algo dentro de mim quer que ela se sinta igual.
-Eu nunca fumei, mas não sei porque isso me faz uma pessoa medrosa.- Abby fala com firmeza, mas vejo seus olhos arregalados, como se quisesse provar isso a si mesma.
-Tudo bem, fecha a porta quando sair. Quando eu terminar, eu apago.
-Eu só vou sair quando você apagar esse negocio fedido.- ela bate o pé no chão de madeira maciça.
-Eu apago se você fumar um pouco. Quem sabe assim você fica um pouco menos histérica.- estou falando sério, mas não quero que ela se force a fazer nada. Seria divertido ver como ela é sem ficar o tempo todo me xingando.
-Se eu fumar um pouco, você vai apagar depois?- da para ver sua desconfiança no tom de voz.
-Eu prometo.- dou dois tapinhas ao meu lado na cama para ela se sentar. Fico empolgado com a ideia de estar ensinando algo a ela. Posso ensinar tantas coisas. Ela parece tão inocente sentada ao meu lado, olhando para o objeto comprido em suas mão. Ela podia olhar assim para outra coisa... e eu podia ensinar como ela coloca na boca.-Você sabe como faz?
-Não.- ela responde com a voz baixa e eu quase me sinto culpado por fazer isso com ela, quase.
-Isso é um bong. É muito fácil. É só você pegar o isqueiro e acender essa parte aqui.- aponto para o recipiente pequeno de ferro com maconha dentro.- E puxa por este buraco aqui encima. Vai fazer varias bolhas na água, entendeu?
-Sim, Trevor. Eu não sou retardada.- ela revira os olhos e pega o bong da minha mão. Acho engraçado como ela age de forma infantil quando se sente inferior de alguma forma.
Abby leva o bong até a boca e faz exatamente da forma que eu ensinei. Puxa o ar até fazer varias bolhas dentro do vidro com água e quando para de puxar, começa a tossir descontroladamente por alguns segundos.
-Boa garota.- dou risada ao ver seu estado. Como é sua primeira vez, vai chapar rápido.
-Só isso? Não estou sentindo nada.- ela está sentada de frente para mim com as pernas dobradas e as mãos junto ao colo.
Não consigo evitar sorrir ao olhar para ela. Gostaria de dizer que só estou achando ela tão atraente porque estou chapado, mas sei que é mentira. Desde que eu vim morar aqui, não me lembro de ter visto ela feia nem sequer uma vez, mesmo quando eu esbarrei com ela no corredor com uma máscara verde cobrindo todo o rosto.
-Relaxa. Fuma um pouco mais. Já vai bater.
-Bater o que?- ela pergunta e vejo a inocência em seus olhos, mas gosto do fato de estar ensinando algo a ela.
-A briza, Ab. A briza já vai bater.- explico.
Me levanto para ir ao banheiro escovar os dentes e deixo o bong com ela, para que possa fumar mais vezes e quando volto ela está deitada na cama de barriga para cima com um sorriso idiota na cara.
-Bateu?- pergunto sem controlar a risada.
-Bateu!- ela responde rindo e se vira de lado apoiando a cabeça na mão.
Vou até meu guarda-roupa e pego uma bermuda de algodão para tirar a calça que estou usando desde o jantar. Abro minha calça e abaixo.
-Você não vai ficar pelado na minha frente, né?- quando me viro percebo que ela está me olhando de cima abaixo até voltar a olhar nos meus olhos.
-Você não tem tanta sorte assim.- respondo ao vestir minha bermuda e ouço ela rindo, o que me faz rir também, mesmo não estando tão chapado quanto ela agora.
-Cara, você fumou tudo?- pergunto indignado ao sentar do lado dela na cama e ver o bong no chão, apenas com a maconha queimada dentro.
-Você disse que eu podia.- vejo que seus olhos estão pequenos e vermelhos.
-Eu disse que você podia fumar um pouco, aí eu ia apagar.
-Eu fumei tudo para não ter risco de você acender de novo quando voltar para meu quarto.- ela não consegue parar de rir e acabo rindo junto com tamanha cara de pau.-E agora?
-Como assim "e agora"?- não entendo o que ela quer dizer e ela volta a se deitar de barriga para cima e joga seus braços para o lado, jogando um encima na minha coxa.
-Que que a gente faz agora?
-Ficamos assim até vir a larica e a gente poder comer um monte de porcaria.- dou de ombros e me encosto na cabeceira da cama, mesmo com ela ocupando quase todo o espaço.
Ficamos em silêncio por alguns minutos. Abby continua deitada de barriga para cima, olhando para o teto e eu encostado na cabeceira pensando em alguma forma de poder deitar sem ela pensar que estou tentando fazer algo.
-Você acha que nós somos apenas uma célula de um corpo maior?- a voz de Abby surge em meio ao silêncio com essa pergunta aleatória enquanto se vira de bruços na cama para poder me encarar e apoia a cabeça na mão.
- Meu Deus, Abby. Sem brisa filosófica, por favor!- dou risada.
-Como assim?
-Você vai pensar demais em coisas que não vai encontrar respostas e não vai gostar.
-Ah, tudo bem. Então, vamos assistir alguma coisa?- Abby sobe um pouco mais na cama e encosta a cabeça no travesseiro que fica do lado da parede e finalmente consigo deitar também.
-Achei que você só fosse fumar e ir dormir.- falo só para provocá-la, mesmo não querendo que ela volte para seu quarto.
-Se você quiser, eu saio.- Abby se senta rapidamente na cama e percebo suas bochechas coradas de vergonha. Eu sou um merda por querer provocá-la, mesmo com ela chapada desse jeito.
-Não. Eu estou brincando. Vem, vamos assistir alguma coisa.- puxo seu braço para ela voltar a se deitar ao meu lado.
A tv está na parede lateral do quarto e eu estou deitado na frente dela, o que faz que ela fique deitada de lado com a cabeça apoiada sobre a mão para poder enxergar. Após procurar por alguns canais, coloco em um filme de terror e ela prontamente reclama.
-Por favor, Trevoooor. Eu tenho medo.
-Relaxa, eu to aqui.- tento assegurá-la e agora é ela quem não para de rir.
-Grande coisa você estar aqui. Se aparecer alguma coisa vai pegar nós dois igual.-isso realmente parece fazer sentido na cabeça dela.
-Então, o que você quer assistir?- bufo e ela pega o controle da minha mão.
-Vamos assistir a Discovery ou animal planet.- ela comenta enquanto troca os canais rapidamente.
-Nem pensar!- pego o controle da sua mão.- Eu não vou assistir animal planet só porque você é cagona demais para assistir algo que preste.
-Vamos assistir, Trev. Por favor.- ela implora com as mãos e faz biquinho. Eu realmente não consigo dizer não com ela sendo tão fofa assim. Espera. Fofa? Eu não acho ela fofa! É culpa do THC no sangue.
-Tudo bem, mas se eu achar muito ruim, vamos trocar.- afirmo e ela abre um sorriso enorme e sincero e faz algo dentro de mim se revirar de um jeito que eu não me lembro de já ter sentido antes.
Abby finalmente escolhe assistir a Discovery e estamos vendo largados e pelados. Até que não é tão ruim. Um casal pelado no meio do nada tendo que sobreviver por dias é algo que distrai uma pessoa.
-Você é muito bonito.- ouço uma voz baixa vindo do meu lado e olho apenas para ter certeza que não estou delirando.
Abby está me encarando e assim que viro a cabeça para olhá-la, percebo que ela está distraída demais analisando meu corpo, seus olhos estão subindo devagar até meu rosto. Aperto as mãos nos lençóis para me controlar e não subir encima dela. Por que eu nunca consigo ter uma reação normal perto dela?
-Você deve estar muito chapada.- tento desconversar apenas para não ficar tão na cara o fato de que não sei o que responder. Ela sorri para mim.
-Você está vermelho ou é impressão minha?- percebo que seu sorriso se transformou em uma cara maliciosa.
-O-que? Eu não estou vermelho! Você só falou isso do nada e provavelmente porque está chapada.
-Pode ser isso, então.- ela da de ombros, mas não consegue esconder o sorriso vitorioso. Eu não posso baixar a guardar nem por um segundo.- Eu to com fome.
-Desce lá pegar algo para comer. Pega para mim também.
-Não posso ir lá embaixo sozinha.- ela fala como se estivesse contando um segredo e chega mais perto.- Eu tenho medo.- é normal que ela esteja se sentindo assim. Não faz nem uma hora que ela fumou e é normal se sentir mais sensível nesse estado.
-Eu vou lá embaixo com você.- suspiro ao me levantar da cama. Ela se levanta logo atrás e saímos do quarto.
A cozinha está iluminada apenas pelas luzes de fora e do corredor, mas está claro o suficiente para pegar tudo sem acender a luz. Abro a geladeira e procuro algo para comer.
-O que você quer comer?- me viro para ela e vejo que está sentada na ilha de granito. Não consigo evitar olhar para suas pernas que parecem ter um tom dourado e brilhoso sob a luz.
-Pega o sorvete e a calda de chocolate.- ela aponta para o freezer e eu pego rapidamente o que ela pediu.- Pega um refrigerante também e um salgadinho ali no armário.
-Você está com tanta fome assim?- dou risada ao pegar tudo que ela pediu e ela sai de cima da ilha dando um pulinho e me ajuda a pegar as coisas.
-É para nós dois!- ela se defende enquanto voltamos para meu quarto.
Abro a porta do quarto e Abby entra e coloca as coisas encima da cama e senta ao lado para abrir.
-Esquecemos as colheres.- lembro no momento que vejo ela abrindo o pote de sorvete.
-A gente pode comer com o dedo.- responde sem nem olhar para mim e coloca a calda no dedo indicador antes de lamber. Seria excitante ver ela chupando outra coisa com a mesma intensidade, se não fosse pelo fato de ela estar comendo sem parar. Comendo sorvete com chips, meu Deus.
-Ei, Abby. Olha para mim!- a chamo e quando ela olha tiro uma foto do meu celular. A foto ficou engraçada. Ela está com a boca toda suja de chocolate e assustada porque olhou bem na hora que tirei a foto.
-Apaga isso, Trevor!- ela tenta pegar o celular da minha mão, mas não deixo. A foto ficou realmente boa. Espontânea.
-Não! Você devia postar no seu Instagram. É bem diferente das fotos que você posta com cara de esnobe.
-Você olha meu Instagram?- ela parece surpresa, mas não consegue esconder o sorriso. Mas nem da para levar a sério com a boca dela toda suja desse jeito.
-Talvez- dou risada e guardo o celular no bolso.
-Você não vai comer?- ela estica o pacote de chips na minha direção enquanto lambe os dedos sujos de corante.
-Eu não sou muito de ter larica. Provavelmente vou estar com fome amanhã.
-Ah, desculpa. Eu não devia ter trazido tanta coisa.- ela empurra a comida para o lado e parece envergonhada.
-Ei, pode continuar comendo. Eu só não estou com fome agora.- asseguro, já que ela parece estar com vergonha por estar comendo tudo sozinha.
-Não, tudo bem. Eu já terminei de comer. Vou escovar os dentes.- ela se levanta e vai em direção à porta. Eu não queria perguntar, mas não consigo me controlar.
-Abby.- chamo e ela olha para trás. Seus cabelos cumpridos estão bagunçados e ela é claramente a mulher mais linda que já vi. - Você vai voltar aqui, né?- pergunto quase com medo da resposta, mas ela sorri para mim e afirma com a cabeça.
-Não troca de canal.
Abby sai do quarto, eu coloco as coisas encima da cômoda e deito na cama. Meus olhos já estão pesados, mas não quero dormir antes dela voltar. Sinto o sono me invadindo e só percebo que estou quase dormindo quando sinto um peso na cama. Abby se deita na minha frente, já que me deitei no canto da parede para ela poder ver tv sem levantar a cabeça.
-Você quer que eu saia para você dormir?- ela pergunto baixinho e abro os olhos apenas para ver ela me encarando.
-Não. Pode ficar.- respondo meio sonolento e ela se vira de frente para a tv.
Pego no sono pensando em como é estranho o fato de que sempre que estamos juntos nós brigamos, mas mesmo assim essa é a segunda noite que dormimos juntos.Acordo na manhã seguinte procurando um corpo além do meu na cama, mas não encontro nada e ao abrir os olhos, confirmo o espaço ao meu lado vazio e a tv desligada. Se não fosse pelo fato dela ter deixado tudo que comeu na cômoda ao lado eu poderia dizer que ela nunca entrou aqui.
Não sei se posso classificar a atitude dela como boa ou ruim. Pelo lado bom, ela poupou nós dois de um possível constrangimento logo pela manhã e pelo lado ruim eu não pude incomoda-lá logo cedo pelo fato de que ela dormiu comigo por livre e espontânea vontade.
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Desejo Imprudente
RomanceAbby Maquenzi teve a sorte de nascer em uma boa família, se relacionar com amigos incríveis e apoio de seu pai para tudo que quisesse. Mesmo assim, sua paixão por adrenalina, faz com que ela esconda segredos das pessoas ao seu redor. Tudo está abso...