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P. O. V Trevor

Saio do chuveiro do vestiário com a toalha presa na cintura. Outros garotos do time de basquete também estão terminando seus banhos, já que acabou de terminar o treino de hoje. Estou morto de canseira e ressacado por causa de ontem, mas não pude faltar na aula. Com certeza Coldy me mataria se eu perdesse o teste para entrar no time, principalmente depois de ter passado dias seguidos implorando para eu entrar. Visto minha cueca por baixo da toalha e a tiro, colocando no gancho ao lado. Meu cabelo está uma zona e pingos de água escorrem por meu rosto, mas o jogo para trás e deixo secar naturalmente, enquanto visto minhas roupas e tênis.
-Que puta cara de ressaca.- Emet é um dos integrantes do time e da risada ao olhar para meus olhos vermelhos do banho.- Não sei como você conseguiu entrar para o time.
-Nem me fale. Não sei nem como consegui acordar.- sento no banco de madeira, embaixo dos armários e ele faz o mesmo para calçar o tênis.
-Você ainda não viu nada. Espera quando começar os treinamentos para os jogos de inverno. Seis da manhã você já tem que estar aqui se aquecendo.-ele se levanta e eu o sigo para sairmos do vestiário.-E ainda tem gente que acha que é moleza.- dou risada de seu comentário e estou com a mão na maçaneta da porta quando vejo o desgraçado que tentou ficar com a Abby na última festa. Meu instinto me obriga a parar e ouvir sobre o que eles estão rindo.
-Você vai ver, cara.- ele da um pequeno empurrão no braço do garoto esguio ao seu lado.- Eu ainda vou comer ela.- o garoto alto e ruivo da risada e eu me aproximo por trás dele.
-Não sei, não, Noah. Abby nunca quis transar com ninguém do colégio. Não acho que vai ser tão fácil assim você fazer ela abrir as pernas.

Só de imaginar esse desgraçado colocando as mãos nela, faz meu sangue ferver e sinto minha mão machucada arder no momento que colido ela contra seu rosto. Noah arregala os olhos com o susto e leva a mão contra o próprio maxilar, não consigo me segurar e vou para cima dele novamente.
-Você está doente!- ele grita e tenta me socar, mas o ruivo esquisito o puxa para trás e sinto mãos tentando me segurar, mas só consigo enxergar ele na minha frente.
-Eu achei que já tivesse te avisado!- estico meu braço direito para tentar segura-lo pelo pescoço, mas tem muitas pessoas tentando me puxar para trás e não consigo alcançá-lo.-Se você encostar nela de novo, eu vou acabar com você.- ele da risada e seus dentes estão manchados de sangue.
-Você tá comendo sua irmã, Trevor?- Noah cospe o sangue no azulejo branco e consigo me soltar e acerta-lo de novo, mas Shelby surge na minha frente e me empurra para trás.
-Que porra é essa?- Shelby grita.- Parem com essa merda agora! Vocês querem ser expulsos do time?- olho para baixo e vejo sangue pingando ao meu lado e ao olhar para minha mão vejo ela ensopada de sangue e os machucados abertos novamente. Puta merda.
-Tira esse filho da puta da minha frente, antes que eu mate ele!- minha voz sai estranhamente controlada e posso jurar que vi medo nos olhos de Noah, por um momento, antes dele me lançar um sorriso de escárnio e ser levado para fora do vestiário.
-Porra.- passo a mão limpa para tirar os fios de cabelo do meu rosto e coloco minha mão machucada embaixo da água fria na pia. Estou com tanta raiva que nem sinto dor quando a água cai em meus dedos.
Todos os dezessete caras dentro do vestiário parecem me encarar e controlo a vontade de mandar todos se foder. Coldy parece perceber que estou prestes a explodir e pede para eles saírem do vestiário. Tem sangue respingado em varias partes do chão e vejo Shelby me encarando pelo reflexo do espelho.
-Falei para os garotos não contarem para o treinador o que aconteceu.- Coldy volta e fala com Shelby, enquanto enrolo uma faixa em meus dedos.-Eles sabem que está perto do campeonato, não vão dizer nada.
-Cara, que merda foi essa?- Shelby pergunta, mas não parece bravo, só preocupado e curioso.- Se você for bater em cada cara que for afim da Abby, vai comprar briga com metade do colégio.
-Não estou comprando briga com ninguém, porra! Não ligo se tem gente afim dela ou não.- minto.- Mas você tinha que ouvir o que ele e aquele ruivo estavam falando sobre ela.- sinto raiva só de lembrar e me levanto de novo.
Saio do vestiário sem nem terminar de explicar as coisas para os garotos e ando pelos corredores do colégio até chegar na porta de saída. Preciso fumar um cigarro. Ao abrir a porta, sinto um vento gelado me arrepiar os braços. Na pressa de sair de la, esqueci meu moletom. Desço as escadas até o estacionamento e não consigo evitar procurar o carro de Abby e o encontro estacionado a poucos metros do portão de saída.
Enquanto fumo meu cigarro, meus pensamentos correm para ontem à noite. Acordei hoje mais cedo fazendo o máximo possível para não acorda-la. Não estava nenhum pouco afim de ver ela surtar as sete da manhã, depois de se lembrar do que aconteceu. Não sei o que deu em mim quando decidi ir dormir no quarto dela, mas a imagem dela gemendo e revirando os olhos não saía da  minha mente. Quase fico duro só de pensar nela toda molhada. Adoro o fato dela ser tão inexperiente e mesmo assim deixar eu fazer o que quiser. Pena que nem tudo são flores. Minha mãe vai me matar quando ver a parede e eu nem imagino que desculpa dar. Termino meu cigarro e jogo a bituca na lixeira. Ao entrar pela porta do colégio já me sinto mais aquecido e olho no meu celular para ver qual a próxima aula. Ando rápido para chegar no corredor três e não perder a porcaria de aula de física. Sinto meus dedos machucados arderem quando  abaixo a maçaneta da porta. Preciso me lembrar de não ficar usando essa mão até melhorá-la. Abro a porta e sucessivamente todos os alunos olham para mim e começam a cochichar entre si. Será que já estão sabendo do que aconteceu? Cumprimento o professor e agradeço por ter me deixado entrar, mesmo já estando um pouco atrasado. Me sento no final da sala, ao lado de uma garota loira, magrinha que me lança um sorriso enorme,  quando me sento ao seu lado. Retribuo o sorriso por educação, mas paro de sorrir quando lembro que esqueci de pegar meu material.
-Só pode ser brincadeira!- resmungo e a garota parece perceber, já que arranca uma folha de seu caderno e me entrega, junto com uma caneta rosa.- Obrigado.- sussurro em agradecimento.
-De nada. Eu só tenho essa caneta rosa, foi mau.- ela da uma risadinha.
É uma garota bonita de cabelo loiro cumprido e jaqueta azul. É uma pena que sua beleza nem se compare com uma certa garota de cabelos vermelhos e botas chamativas. Chacoalho a cabeça na tentativa de evitar voltar a pensar nela. Tudo o que eu faço ultimamente é pensar nessa maldita garota.
A aula passa mais depressa do que o esperado para uma aula de física e surpreendentemente, consigo aprender um pouco sobre cinética. Devolvo a caneta para a menina e dobro o papel das anotações ao meio para guardar no meu bolso, mas ela pega da minha mão e anota seu número com a caneta rosa. Guardo o papel e me levanto, mas ela pede para eu esperar por ela.
-Você nem perguntou meu nome.- ela diz e eu dou risada, não estou afim de flertar no momento, mas não quero ser grosseiro.
-E qual seu nome?-saímos da sala juntos e vamos para o refeitório.
-Eu me chamo Laura.
-Eu sou o Trevor.- paro em meu armário para pegar minha carteira e mochila.
-Eu sei quem você é.- ela diz rápido e percebo que fica vermelha.- Quer dizer. Já te vi por aí- ela ri e eu sorrio de volta, mesmo nunca tendo visto ela na vida.-Então...Você é irmão da Abby?
- Não sou irmão dela!- meu sorriso cessa na mesma hora. Por que todos nesse maldito colégio acham que eu sou irmão dela? A gente nem sequer é parecido.-Minha mãe é casada com o pai dela.- dou de ombros e empurro a porta do refeitório para entrarmos.
Vejo alguns garotos do time já sentados na mesa e por sorte Noah não está como de costume. Vejo Abby sentada ao lado de Shelby, que está com o braço ao redor dos ombros dela e não consigo deixar de reparar na vontade que surgiu de chegar lá e tirar o braço dele de cima dela. Eu não tenho nada com ela! Nunca nem tive ciúmes de ninguém. Tenho que me lembrar disso a todo momento. Não é como se eu gostasse dela, só sinto que ela é minha, talvez seja pelo fato de que ela disse isso pra mim ontem de um jeito tão gostoso que a frase fica se repetindo em minha mente.
-Bom, vou ir me sentar com as minhas amigas.- ouço a voz da garota ao meu lado e saio dos meus devaneios. Tento entender o que ela está tentando dizer e ela já está se afastando quando a chamo.
-Ei, Laura.- ela olha para trás, e percebo que outras pessoas no refeitório também estão me encarando, inclusive Abby.- Senta comigo.- a garota solta um sorriso gigantesco e volta até onde estou.
Nos sentamos em duas cadeiras vazias, que por azar fica ao lado de Megan e de frente para Abby.
-Pessoal, essa é a Laura.- ela cumprimenta a todos com um "tchauzinho", mas vejo Megan a olhar com cara de nojo. Se Laura percebeu, não demonstrou.
-Então, Trevor.- Megan me chama e olho para ela por cima da cabeça de Laura, que está sentada do seu lado.-Como foi sua noite ontem?- por reflexo olho para Abby antes de responder e vejo ela se engasgar com o suco quando percebe a pergunta de Megan, e me olha com os olhos arregalados. Tenho vontade de rir, mas sei que não é por isso que Megan está perguntando.
-Foi muito boa na verdade.- sorrio para Megan, mas olho de relance para Abby e consigo ver suas bochechas corando. Megan me lança um sorriso malicioso.
-Foi uma pena você não poder ter ficado mais comigo ontem.- Megan fala com a voz doce, mas sei que ela está tentando atingir a loirinha sentada ao meu lado.
-Quem sabe outro dia.- dou de ombros e corto o assunto. Olho para Abby, mas ela está ocupada rindo para Shelby e se ouviu o que Megan acabou de dizer, não pareceu se importar nenhum pouco. Sinto que o fato dela ser indiferente me incomoda de um jeito estranho.
Abby continua sua conversa com Shelby e mais um garoto que não me recordo o nome e solta gargalhadas em varios momentos, me obrigando a olhar, mesmo não querendo. Por sorte Megan não abre mais a boca e Laura parece ter se cansado de fazer papel de besta, já que se despediu de mim e foi se sentar com suas amigas. Tem um espaço vago ao meu lado e por sorte Coldy se senta nele, antes de Megan. Quase agradeço a ele por isso.
-Vocês já souberam do que aconteceu?- o garoto que está conversando com Abby e Shelby anuncia, após parar de mexer no celular.- É verdade que você e o Noah brigaram, Trevor?- a curiosidade é nítida em seu tom de voz e Shelby e Coldy olham para mim na espera de uma resposta.
-Eu e ele não brigamos.- esqueço da minha mão machucada e a coloco encima da mesa. Estava tentando disfarça-la desde que sentei, já que os curativos estão manchados de sangue. Abby é a primeira a olhar para minha mão e depois para meu rosto e a preocupação é nítida em suas feições delicadas, mas não sustento seu olhar.- Eu soquei ele, porque ele estava falando merda demais.- dou de ombros, enquanto como uma batata frita com a mão que não está totalmente estourada.
Ninguém parece saber a razão real da briga, pelo menos por enquanto e espero que nunca saibam. Termino de comer o mais rápido que consigo e me levanto da mesa. Ainda tem mais duas aulas antes desse dia infernal acabar. Decido sair de novo para fumar outro cigarro, antes da próxima aula. Antes da porta da saída se fechar por completo, é empurrado novamente e ao olhar para trás vejo Abby a poucos passos de mim, com os braços cruzados. Ela está com um jeans justo, deixando marcado o músculo de suas coxas, uma coturno com fivelas e uma blusinha fina de frio. Seus cabelos longos voam com o vento, enquanto ela vem andando na minha direção e não canso de achá-la linda.
-É verdade que você bateu no Noah porque ele estava falando de mim?- ela para na minha frente e seus cílios cumpridos quase encostam nas sobrancelhas. Mesmo sem maquiagem, ela parece desenhada por anjos.  Solto a fumaça do meu cigarro e a olho de cima a baixo.
-Você esta gata com essa roupa.-falo baixo e sei que estou fazendo isso só para mudar de assunto e deixá-la sem jeito.
-Não muda de assunto, Trevor.- ela revira os olhos e cruza os braços.- O Coldy me contou que você surtou por que o Noah disse que ia tentar me comer. Eu não quero que você fique se metendo em briga por minha causa. Eu sei me defender sozinha.
-Não estou dizendo que você não sabe se defender.- agora sou eu que reviro os olhos.- Só não vou com a cara dele e aproveitei a oportunidade. Não precisa ficar se achando.
-Não estou me achando! Para de ser idiota.- de repente estamos discutindo de novo e a mesma facilidade que ela me da tesão, ela me tira do sério.- Olha só o estado da sua mão. Acho que agora vai ter que dar pontos.- ela segura minha mão machucada, mas puxo de seu toque.
-Relaxa, tá legal? Eu tava só me divertindo, nem foi nada demais.- jogo meu cigarro no lixeiro ao lado e faço menção de entrar para dentro, mas ela me puxa pelo braço.
-Obrigada por me defender.-ela sorri e eu quase esqueço que estou puto.-Mas não quero mais que você faça esse tipo de coisa. Se alguém descobrir você pode até ser expulso.
-Não vou ser expulso. Vem, vamos entrar, está muito frio aqui fora.
Entramos juntos, mas assim que passamos pela porta de entrada, nos afastamos um do outro e seguimos por caminhos diferentes.

Desejo ImprudenteOnde histórias criam vida. Descubra agora