Desejo Imprudente

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P. O. V Abby

Acordei com uma pequena caixa preta ao lado da cama e um bilhete junto à ela. Tirei o laço cor de rosa brilhante e abri o cartão. Com letras simples meu pai, provavelmente junto com Cindy haviam escrito " Espero que este presente te ilumine ainda mais. Com amor, papai." Sorrio ao abrir a caixinha de couro. Apenas para encontrar um anel, com uma pedra pouco modesta e as laterais cravejadas com pequenos brilhantes. Com certeza um presente tão caro quanto meu carro. Coloco anel em meu dedo anelar e ele cabe perfeitamente em meus dedos finos, mas se pretendo usar algo chique assim provavelmente vou precisar tirar as lascas de esmalte preto das minhas unhas medianas. Desbloqueio meu celular e a primeira e única mensagem que tenho é de Rachel. Avisando que passará aqui em casa me buscar para um dia fazendo coisas de garotas. Reviro os olhos, mas levanto mais animada. Tirando ela e meu pai, ninguém mais se lembrou do meu aniversário.
Saio do meu quarto e desço até a cozinha. Todos os cômodos estão vazios e já é mais de meio dia. Nem mesmo Rosa está em casa e procuro pelas chaves do carro de Trevor. Ele sempre as deixa em cima da bancada, mas também não estão no lugar de costume. Abro a porta da garagem apenas para ter certeza que seu carro não está estacionado e ao confirmar minhas suspeitas, fico um pouco mais triste. Volto para a cozinha e percebo um bilhete grudado na geladeira, com um imã. Sei que a letra é de Cindy, porque tem um coração encima da letra "i" e um rostinho feliz no final da frase. O bilhete diz que eles foram passar o fim de semana no litoral e que lá não tem sinal. Ótimo, me deixaram sozinha no meu aniversário. Odeio me por no papel de vítima, mas realmente parece que todos estão cagando para mim. Jogo o bilhete no lixo e abro a geladeira para pegar um copo de água. Ouço a campainha tocar e corro até a porta socando mentalmente a parte que acredita que Trevor poderia estar parado na porta. Com seus cabelos caindo sobre os olhos, reclamando sobre eu demorar para abrir a porta de propósito. No fim tudo que encontro é Rachel e Jessy, segurando uma caixa, com sorrisos animados. Por sorte, isso é mais que o suficiente para me animar.
-Oi- cumprimento e elas me abraçam, ainda com a caixa em suas mãos.- Pensei que vocês só viriam mais tarde.
-Parabéns, gata.- Rachel fala e me entrega a caixa. Não é muito grande e não é pesada. Abro espaço para elas entrarem. -Trouxemos um presente para você.
-Se você não gostar, pode dar para mim.- Jessy ri e Rachel a olha indignada.
Coloco a caixa encima do sofá. Abro a tampa e não fico surpresa ao ver que é uma pequena bolsa da Prada, com alças e correntes prateadas.
-É linda.- sorrio para elas. As duas estão paradas na ponta do sofá, me olhando cheias de expectativa.- Eu amei. Obrigada. - me levanto e abraço as duas ao mesmo tempo.
-Chega de sentimentalismo.- Jessy fala.- Vamos passar o dia no salão e jantar à noite.
Não estou animada para fazer absolutamente nada. Queria apenas ficar em casa, assistindo algum filme com elas e comendo porcarias. Sei que os presentes são incríveis e tenho noção de que meu pai e minhas amigas me amam. Mas são apenas bens materiais e hoje eu só queria passar um momento legal com as pessoas que são importantes para mim.
- Por quê não ficamos em casa hoje?- tento argumentar, mas é nítido que não existe possibilidade disso acontecer.
-Nem pensar.- Rachel me empurra em direção as escadas e Jess com minha bolsa nova nas mãos.-Se arruma rápido. Temos hora marcada.

Coloco um vestido solto e confortável e rasteirinhas no pé, porque preciso fazer as unhas. Pego minhas chaves do carro e Rachel avisa que vamos com o carro dela. Não sei se me sinto confortável com isso, mas não tenho ânimo para discutir.
Entramos em seu carro e alguns minutos depois e varios xingamentos no trânsito por Rachel dirigir muito mal, nós finalmente chegamos ao salão. Obviamente ela precisava escolher um dos lugares mais caros de Detroit para passar o dia.
-Eu não trouxe cartão de crédito.- aviso antes mesmo de descer do carro.- Meu cartão de débito não deve ter o suficiente para passar o dia aqui.
-Relaxa. É presente do Shalby e do Coldy.- Jessy fala e pula da traseira do conversível sem se importar em estar usando mini-saia.
-Meu Deus.- sorrio ao descer do carro.- Vocês são incríveis!
-Hoje é seu dia, esqueceu?- Rachel me puxa pela mão.
A recepcionista parece reconhecer Jessy e fala com ela com mais intimidade. Logo depois cumprimenta a mim e a Rachel. Ela se apresenta como Denise e seus cabelos ruivos cheios de cachos se movimentam conforme ela se mexe.
-Boa tarde, meninas. Espero que se divirtam.- ela sorri e seus dentes são brancos demais para seu próprio bem.- Vou acompanhar vocês até a sala de massagem.
Rachel e Jessy soltam gritinhos de empolgação e me puxam para acompanhá-las. A luz do ambiente vem apenas de velas aromatizadas e três massagistas nos esperam ao lado das macas muito bem estofadas. Eu tiro minhas roupas e me deito de bruços. Os próximos quarenta minutos são repletos de gemidos satisfatórios e elogios para as três massagistas. Pela primeira vez no dia me sinto realmente em paz e tranquila. Deve ser o aromaterapia das velas. Li sobre isso uma vez em uma revista, na oficina enquanto esperava meu carro ficar pronto. Saímos da sala com roupões e sorrisos satisfeitos. Somos levadas para fazermos as unhas e quando a manicure começa tirar minha cutículas, me arrependo de não ter trazido um livro. Decido pegar meu celular e visitar o Instagram de Trevor. Quero ver se ele postou algo, já que não o vejo desde ontem à noite. Ele não mandou uma mensagem desejando parabéns e não postou nada o dia todo. Meus pensamentos acabam voltando para a noite passada, quando quase confessei meus sentimentos para ele. Pelo menos a vergonha de ser rejeitada mais uma vez, não me deixou ceder. Mesmo assim, passei boa parte da madrugada esperando ele entrar pela porta e fazer algum comentário maldoso, antes de me beijar. Mas isso não aconteceu e finalmente me entreguei ao sono, somente para sonhar com seus olhos dourados e suas tatuagens escuras pairando sobre mim.
-Depois daqui, precisamos ir ao shopping.- saio dos meus pensamentos ao ouvir a voz de Jessy. Ela está escolhendo um esmalte clarinho para suas unhas amendoadas.
-Usa uma roupa minha.- tento ser gentil, enquanto entrego o esmalte preto do expositor para a manicure.-Nós só vamos jantar. Não precisa de muito.
-Nem pensar! Suas roupas são tão...- ela para de falar e parece pensar em suas palavras antes de continuar.- escuras.
-Obrigada.- levo como um elogio e sorrio para a manicure que me olha com divertimento.
-Eu também preciso de uma roupa.- Rachel fala enquanto decide entre o esmalte azul royal ou azul petróleo.
-Eu acompanho vocês, mas não vou comprar nada.- aviso.- Comprei roupas semana passada e tem peças que nem tirei a etiqueta.
Rachel da de ombros e Jessy bufa, provavelmente por achar minhas roupas pesadas demais. Eu não dou a mínima. Amo minhas roupas, principalmente minhas botas. Não tenho culpa se minhas amigas de infância se transformaram em patricinhas populares de mais para sair de roupa escura durante o dia.