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P. O. V Trevor

Nunca fiquei tão feliz em chegar na casa da minha mãe, quanto nesse momento. Finalmente consigo respirar um ar que não esteja repleto de tensão e o quarto parece estranhamente aconchegante. Me jogo na cama e meus pensamentos são automaticamente voltados para mais cedo. O pior é que penso muito mais no que aconteceu naquele quarto de motel do que na forma que ela gritou aquelas atrocidades. Essa garota me deixa maluco, literalmente, igual a um idiota. Eu nem sequer sei porque senti tanta raiva ao ver ela se esfregando naquele cara. Talvez, se eu tivesse deixado ela subir não estaria sentindo tanta raiva e frustração como estou sentindo agora. Só de imaginar aquele cara passando a mão nela da vontade de voltar lá e destruir qualquer vestígio de pele do rosto dele. Não consigo entender o porque me sinto assim. Só não gosto de imaginar que outro cara possa tocar nela igual eu toquei hoje. Só de lembrar sinto um desconforto nas calças. Como eu pude ser tão babaca? Como se já não fosse ruim o suficiente agir naturalmente com ela dormindo só de blusa ao meu lado. Sentir a pela macia dela se arrepiar só porque eu encostei nos seus seios, me faz querer entrar em seu quarto e fazer ela gritar meu nome antes de transar com ela em todas as posições possíveis. O céu é prova que eu não conseguiria simplesmente comer e esquecer, só de olhar me faz querer mais.
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O restante do dia passa extremamente rápido e eu não me presto a sair do quarto nem para almoçar. Passei o resto da manhã e a tarde inteira pondo o sono em dia. Esse sábado sem dúvida vai ser o mais entediante de toda a minha vida, talvez, eu possa ligar para uns amigos e sair para algum lugar. O ruim é que estou sem carro, se eu pedir com cuidado pode ser que minha mãe empreste o dela. Resolvo descer e ver se encontro ela pela casa.
Desço as escadas rapidamente, rezando para não encontrar Abby pelo caminho e tenho sorte até agora. Ouço vozes vindas de fora da casa, vou até lá e vejo minha mãe deitada em uma das espreguiçadeiras espalhadas ao redor da piscina. Ela está de roupa, mexendo no celular.
-Oi.- falo baixo ao me aproximar.
-Oi, lindo. Achei que você não estava em casa.-ela abre espaço para eu me sentar ao lado dela.-Cheguei agora a pouco.
-Eu moro aqui com você e mesmo assim a gente quase não se vê.- sento ao lado de suas pernas.
- Me desculpa, filho. Está corrido lá na loja e nós tivemos alguns problemas com uma funcionária, mas vamos ter muito tempo para ficar juntos agora que você mora aqui.- ela coloca mão sobre a minha e aperta com delicadeza.
-Eu sei. Vai ser melhor agora.- digo baixo para eu mesmo, como se tivesse que me provar isso.
Minha mãe me puxa para seus braços e me faz deitar com a cabeça em seu colo. Suspiro ao sentir suas mãos fazendo carinho no meu cabelo, faz tanto tempo que não sinto nada fraternal e não consigo evitar o sorriso.
-Eu te amo, mãe.-meu rosto está escorado em sua barriga e sinto ela apertar meus ombros.
-Também te amo, filho. Mais que qualquer coisa.- não respondo, mas me sinto absurdamente em paz.
Ficamos deitados assim apenas conversando amenidades por alguns minutos até ouvir passos de alguém na nossa direção. Levanto a cabeça e vejo Desmond só de bermuda, camisa e uma taça de vinho na mão, é estranho olhar para ele sem aquelas roupas formais, ele parece bem mais jovem assim.
-Fico feliz que vocês estejam se entendendo.- a voz de Desmond soa alta em meio ao silêncio do local, mas não me importo.
-Amor, pensei que todos nós pudéssemos sair para jantar hoje. Um jantar de família.- minha mãe fala com empolgação e eu me levanto da espreguiçadeira pensando em uma desculpa para não ir junto.
-Acho uma ótima ideia. Vou falar para Abby se arrumar. Saímos em uma hora.
-Não mãe, eu não quero ir. Vão só vocês.- a este ponto prefiro mil vezes ficar em casa entediado do que ficar no mesmo ambiente que a Abby por mais de dez segundos.
-Não, Trevor. Vamos todos juntos jantar Fora.- ela fala cheia de autoridade e se levanta.- Vai ser divertido, filho.- me puxa para dentro da casa avisando que só tenho uma hora para ficar pronto.
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P. O. V Abby
-Meu Deus, pai! Eu já disse que não quero ir, por favor.- descer essa escadaria implorando para não ir jantar com meu pai é sem duvida a maior prova da minha ingratidão.
Eu sei que deveria ir junto. Eles só estão tentando juntar a família. A culpa não é deles que seus filhos tenham passado a mão um no outro como dois incestuosos retardados.
-Tudo bem, Abby. Vá reclamando até o carro. Eu não me importo.- ele fala calmamente enquanto arruma as mangas da camisa social branca.
-Eu vou com meu carro, então.- vou atrás dele em direção a garagem. Não quero entrar no carro e fingir que não odeio Trevor com todas as minhas forças.
-Não. Vamos todos no meu carro. Vamos ir e voltar juntos.- ele abre a porta da garagem a faz sinal com a mão para eu passar na frente.
Bufo ao passar por ele e entrar no banco traseiro da Range Rover alta demais para eu conseguir entrar com dignidade. Vejo que Cindy já está dentro do carro quando entro e tento manter a calma. Não quero que ela pense que isso tudo é só má vontade minha.
-Eu não sei porque ele precisa de um carro tão alto.- tento puxar assunto e ouço ela rir.
-Deve ser algum tipo de autoconfiança que os homens precisam para se sentirem menos inferiores.- ela comenta enquanto escolhe uma musica no celular e eu não consigo controlar a risada, já que concordo totalmente com seu ponto de vista.
Meu pai entra no carro e liga o motor, estranho o fato de Trevor ainda não ter aparecido, mas não pergunto nada. Vai que eles pensam que eu estou curiosa demais.
-Onde está Trevor?- meu pai pergunta e me sinto mais aliviada por não precisar perguntar.-Abby, vá lá dentro ver porque ele está demorando.
-Nem pensar!-falo rápido demais e tento desconversar.- Se eu sair desse carro não entro mais.- não posso ter reações tão extremas, se não eles vão acabar descobrindo. Coço a garganta.- Quer dizer, ele já deve estar vindo.
Mal termino de falar e ao olhar pela janela vejo Trevor saindo pela porta da garagem. Ele está com uma calça jeans preta rasgada em varias partes e um moletom preto com capuz. Seu cabelo parece úmido, deve ter acabado de sair do banho e ao entrar no carro sinto cheiro do seu perfume. O mesmo que eu senti em seu pescoço mais cedo. Eu preciso esquecer o que aconteceu, provavelmente ele nem se lembra mais. Trevor nem sequer olhou para mim desde que sentou no banco ao lado.
-Nossa, Trevor. Você não tinha uma roupa mais largada para usar? Nós não vamos em um fast-food.- Cindy vira para trás e parece se divertir com a falta de bom gosto do filho.-Acho melhor você ir se trocar.
-Mãe, eu não vou me trocar! Se eu sair desse carro eu não volto mais.- ele parece indignado e meu pai da risada.
-Você fala igualzinho a Abby.- meu pai comenta ao tirar o carro da garagem.
É a primeira vez que ele me olha desde que entrou no carro, na verdade, ele só passou os olhos pelo meu rosto, desceu até o decote do meu vestido e deu risada antes de voltar a olhar para a outra janela. Minha vontade é perguntar qual o problema dele, mas sei que não posso fazer escândalo no carro. Eu poderia ter trazido um casaco. Será que ele achou os meus seios pequenos? Não que eu me importe, mas sei lá, ele olhou e riu.
O caminho até o restaurante parece longo e meu pai e Cindy não param de conversar nem por um segundo. Ela conta todas as fofocas de suas amigas. Meu pai realmente presta atenção em tudo que ela diz e ri das suas piadas. Me pergunto se vou encontrar um amor assim algum dia.
No momento em que o carro estaciona no estacionamento do restaurante eu sinto vontade de morrer.
-Pai, eu não estou vestida para entrar no iridescence! Você podia ter me avisado antes. Olha para a roupa que o Trevor está usando.- aponto.- Vão achar que ele é o entregador do lugar.
-Quem se importa, Abby? É só comer e ir embora. Qualquer coisa come dentro do banheiro.-Trevor se intromete e responde por meu pai antes de descer do carro. Todos precisam descer para o motorista estacionar.
-Cala a boca, garoto. Você não tem ideia de como é lá dentro. Talvez nem deixem  a gente entrar! Cindy, por que você não me disse?- olho para ela esperando uma resposta e ela encolhe os ombros, mas percebo que está muito bem vestida. Seu vestido azul claro ficou lindo em contraste com sua pele bronzeada.
-Você está linda, Abby. Não precisa se preocupar.- meu pai coloca o braço ao redor dos meus ombros.- Vamos entrar. Nós temos reserva.
Esse é certamente o restaurante mais bonito da cidade. Fica no topo do cassino motor city e tem uma decoração moderna, predominando o branco. Uma iluminação rosada com dezenas de lustres parecendo bolhas de vidro espalhadas pelo teto.
Meu pai reservou um dos melhores lugares para nós sentarmos. A nossa mesa é de frente para uma enorme janela que da vista para toda a cidade. A luz baixa do lugar fez com que eu e Trevor passássemos mais despercebidos.
Eu não estou tão ruim, meu vestido é de ceda, tem alças finas ajustáveis e chega até o meio das minhas coxas, por sorte meus brincos são grandes e pesados e passam a impressão de que eu demorei mais que vinte minutos para me arrumar, meu cabelo está liso me dando uma aparência mais velha. Talvez eu pudesse ter escolhido outro salto, algum com o salto fino ao invés de ter colocado sandalhas de tira amarradas em meu tornozelo. O que realmente me preocupada é Trevor de moletom no melhor restaurante da cidade, ele tem sorte de seu rosto contribuir muito para não perderem tempo olhando suas roupas.
Minha madrasta e meu pai se sentam um ao lado do outro e não sobra muita escolha para mim e Trevor já que a mesa só tem quatro lugares, então, sentamos um ao lado do outro. Ainda bem que fiquei com a cadeira ao lado da janela, posso passar o jantar inteiro olhando para a vista ao invés de olhar para meu irmão postiço.
-A gente podia ter ido ao Mc Donalds.- ouço a voz de Trevor e desvio meu olhar da janela para poder olhá-lo.- Quer dizer, aqui tem uma vista bonita, mas provavelmente não vale o preço.
-Você vai amar os pratos que eles têm aqui.- sua mãe fala, ignorando seu comentário.- Eles servem a melhor carne defumada da cidade, não é Abby?.- vejo em seus olhos que está implorando para eu entrar na conversa também.
-Sim, a sobremesa também é muito gostosa.- apoio o queixo na mão ao responder. Olho diretamente para ele enquanto falo. Seus olhos parecem mais brilhantes com essa iluminação e seus lábios estão úmidos de saliva. Quase me esqueço que não posso ficar encarando, esse meu momento de fraqueza parece ter passado despercebido pela minha madrasta, mas com certeza Trevor reparou já que está sorrindo para mim pela primeira vez no dia, eu não consigo evitar sorrir em resposta, talvez, podemos ter uma conversa civilizada e calma. Isso até ele chegar perto demais do meu rosto-bem na frente dos nossos pais- que estão ocupados demais olhando o cardápio e abrir a maldita boca para dizer:
-É mais gostosa que você?- fico olhando para esse rosto infernalmente atraente sem saber o que responder. Eu poderia xingar ou me levantar da mesa e fazer uma escândalo, mas não posso, primeiro porque nossos pais estão bem na nossa frente totalmente alheios e segundo porque estou mais preocupada com o frio na barriga que senti ao ouvir suas palavras.
-Dificilmente.- falo baixo e me aproximo um pouco mais, vi seu sorriso malicioso cessar, seus olhos desviaram dos meus e ele voltou a olhar para frente. Eu sei que isso foi arriscado, mas meus pais estão tão entretidos conversando sobre o menu que nem perceberam.
A forma como ele recuou no momento em que dei uma resposta à altura de sua pergunta fez eu me sentir bem. Pela primeira vez eu senti como era estar por cima. Eu amei. Acho que posso fazer isso. Chega de dar chiliques como uma garotinha do primário, á partir de agora todas as suas brincadeiras terão uma resposta à altura.
A comida estava muito boa e a sobremesa é claramente mais gostosa que eu, sinceramente, depois de comê-la levei até como um elogio. Minha boca está em êxtase com o sabor e tenho certeza que todos na mesa estão da mesma forma. Saímos do restaurante com a barriga cheia e sorrisos satisfeitos em nossos rostos. O caminho até o carro é cheio de comentários gratificantes. Trevor parece até bem humorado apesar de não falar muito durante o trajeto até em casa. Quando entramos o carro está gelado do ar e automaticamente sinto meus pelos se arrepiarem.
-Está muito frio aqui dentro.- coloco os braços ao redor do corpo.
-Você tem algum problema com casacos?- Trevor pergunta ao se sentar do meu lado no carro.
-Nenhum. Por que?
-Sempre que eu estou no mesmo ambiente que você, você está passando frio.- ele fala rindo e eu reviro os olhos para sua tentativa de me encher o saco.
-Já liguei o aquecedor, querida.- meu pai comenta. Eu agradeço, tinha até esquecido que eles estavam no carro.
O caminho até em casa dura mais de vinte minutos, mas não me incomodo. O clima está bom e a paisagem do lado de fora me distrai, apesar do silêncio. Já é quase meia-noite e não estou com disposição nenhuma para sair com as meninas. Tudo que eu quero é deitar na minha cama e assistir algum documentário na tv. Depois de mais alguns minutos finalmente vejo as ruas conhecidas que indicam que estamos perto de casa, assim que meu pai entra na garagem, me sinto feliz em saber que vou ficar apenas deitada em meu quarto comendo besteira. Pulo do carro no momento em que meu pai desliga o motor e subo as escadas correndo, pronta para tirar esse vestido, por alguma camisa larga e me jogar na cama.

Desejo ImprudenteOnde histórias criam vida. Descubra agora