Na manhã seguinte quando acordo e desço até a cozinha para tomar café, encontro minha mãe já se servindo, mas não vejo nenhum sinal da minha costumeira carona.
-Abby não pode te levar hoje porque vai passar na casa de uma amiga.- é óbvio que é só uma desculpa, mas se minha mãe sabia, não demonstrou nem por um segundo.-Vou levar você hoje.
-Tudo bem. Onde está seu marido?- pergunto ao servir um copo de suco.
-Ele saiu cedo para ir ao serviço. Depois que te deixar na escola, vou ir também.
Afirmo com a cabeça enquanto mordo um pedaço de sanduíche e comemos com um silêncio confortável. Desde que cheguei aqui ela não comentou sobre meu pai e eu também não. Parece melhor assim. Preciso ir sozinho atrás de respostas.
-Como vai à escola? Já fez amigos?
-Alguns.- dou de ombros e me levanto da mesa para irmos, minha mãe levanta e vamos juntos até a garagem.- Espera. Preciso escovar os dentes.- lembro e vou até o banheiro que tem ao lado da cozinha.
Ao voltar para a garagem vejo ela já com o motor do carro ligado, me esperando entrar. Durante todo o caminho até o colégio-que não é tão longo assim- ela ficou contando histórias de quando eu era pequeno e afirmando que não mudei nada. Não é como se eu conseguisse lembrar, já que não vejo ela a anos, então, só pude ouvir sem dizer muito.
-Obrigado pela carona.- falo ao abrir a porta para descer do carro.
-Não precisa agradecer.-ela segura minha mão e o olhar de culpa em seus olhos quase me faz ter vontade de abraçá-la.- Eu sou sua mãe, Trev.- isso parece mais um lembrete para ela do que para mim. Só confirmo com a cabeça e tento dar um sorriso que deve ter ficado mais parecido com uma careta e finalmente saio do carro, conseguindo respirar de verdade.________________________________
P. O. V AbbyTodas as meninas estão agitadas com a festa que vai rolar hoje à noite. Rachel está falando disso desde o começo da semana e eu sinceramente, não aguento mais ouvi-la. Ela está falando sem parar sobre todas as opções de roupas que pode usar e que por isso não consegue escolher nenhuma.
-Onde vai ser a festa?- Louise pergunta baixinho e eu viro o rosto para o lado para conseguir responder sem que o professor faça um escândalo e me obrigue a responder alguma questão de geometria no quadro. Deus sabe que eu não entendo nada do que ele diz.
-Vai ser na casa do lago dos pais de Shalby.- sussurro em resposta, mas aparentemente meu professor de mais de sessenta anos ouve meu cochicho com seu ouvido supersônico e pigarreia com a garganta.
-Você sabe se seu irmão vai?
-Ele não é meu irmão!- não sei porque as pessoas acharem que ele é meu irmão me deixa tão irritada. Mas eu odeio.- Se você quer saber, devia perguntar para ele.- respondo secamente e o professor nos encara, me fazendo engolir em seco. Por sorte ela só resmungou alguma coisa e parou de me encher com perguntas.As aulas passam de forma rápida e por sorte-ou não- não tive nem uma aula com Trevor e nem vi ele no intervalo, ja que estou passando os últimos dias terminando o trabalho de literatura inglesa na biblioteca.
Finalmente termina todas as aulas de hoje e posso ir para casa. As meninas decidiram de última hora que vão se arrumar para festa na minha casa.
Ao chegar no estacionamento estranho que Trevor não esteja me esperando como de costume. Talvez eu devesse ir atrás dele e perguntar se precisa de carona, mas não consigo olhar em sua direção sem sentir algo estranho no meio das pernas. Então, só pego meu carro e vou para casa._______________________________
Já esta de noite quando Jessy e Rachel finalmente aparecem para começarmos a nos arrumar. Eu passei literalmente a tarde inteira terminando os trabalhos escolares e dormi assim que arranjei um tempinho.
-Você está acabada.- Jessy exclama assim que abro a porta. Eu mostro o dedo do meio como agradecimento e Rachel entra logo atrás com sua mala de rodinhas.
-Não acredito que você trouxe uma mala.- comento rindo enquanto subimos para meu quarto- Jessy só trouxe uma mochila, como qualquer pessoa normal.
-Jessy é cafona e não se preocupa com seu péssimo gosto para moda.
-Primeiramente, eu me visto muito bem. Segundo, eu não tenho culpa se você não é confiante o bastante para escolher uma roupa sozinha.
As duas saem na frente discutindo sobre quão confiante Rachel é e eu fico para traz, para passar no banheiro lavar o rosto.
Chego em frente à porta e empurro a maçaneta para baixo. Ela se abre bruscamente, fazendo eu perder o equilíbrio, mas algo segura meu braço, impedindo que eu vá de cara no chão. Trevor está segurando meu braço com firmeza, mas assim que me recomponho ele afrouxa o aperto, mas não me solta totalmente. Por alguns segundo nós nos encaramos, e eu quase sorrio de alívio ao ver ele na minha frente, depois de alguns dias fazendo o máximo para evitá-lo totalmente.
-O-oi.- é só o que consigo dizer. Não entendo porque fico tão nervosa perto dele.
-Oi.- ele fala secamente. Solta meu braço e se afasta.- Você pode sair da minha frente, para eu poder passar ou você perdeu alguma coisa na minha boca?- ele diz rudemente e sinto a vergonha e humilhação cobrirem meu corpo todo, chego a me encolher.
- Eu não estava olhando sua boca, idiota. Sai da minha frente você, o banheiro é meu!- tento parecer durona, mas me sinto como uma criança de dez anos com esse pijama ridículo.
Ele só revira os olhos e sai do banheiro, me deixando aqui parada, completamente inferiorizada. Lavo meu rosto e saio para ir encontrar as meninas no quarto.
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Uma da manhã e eu já bebi copos de tequila suficientes para saber que não vou voltar dirigindo. O que me deixa bastante nervosa, se levar em conta o fato de que não confio em ninguém para dirigir meu carro.
A casa está cheia demais e minha saia de vinil não para de subir. A pista improvisada no meio da sala está cheia de gente e eu sinto o calor dos corpos junto com o álcool fazer minha cabeça girar. Sinto alguém encostar nas minhas costas e me levar no ritmo da música, mas já não tenho animo suficiente para dançar, então, só empurro o desconhecido e ultrapasso o emaranhado de pessoas dançando e fazendo coisas consideravelmente nojentas de fazer em público, mas elas não parecem ligar, muito menos eu.
Chego na cozinha e agradeço por sentir um pouco de ar puro. Seria bom se eu encontrasse Jess ou Rachel, mas perdi elas de vista quando dois caras chamaram elas pra dançar, desde então tudo que eu tenho feito é recusar convites de caras bonitos, enchido a cara de tequila e me perguntando por que Trevor ainda não olhou pra mim nenhuma vez. Eu sei que bebi demais e só queria ter a atenção de alguém por algumas horas, não é nada além disso. Sentir tesão e beijar pessoas insignificantes que não vou lembrar o nome no outro dia, mas hoje é diferente, hoje, eu queria ele me olhando. Chacoalho a cabeça na intensão de me livrar desse pensamento e pego outro shot que está esquecido encima da bancada.
-Eai, Ab! Já falei que você tá muito bonita.- ouço uma voz meio familiar, mas preciso de um momento para abrir os olhos, depois de sentir a bebida descer quente por meu corpo. Quando abro os olhos tudo está girando, mas consigo reconhecer quem é.
-Oi, Noah.- tento parecer sóbria, mas minha voz embolada me entrega. Ele sorri e suas covinhas me lembram Trevor, pena que não tem o maxilar tão bonito quanto o seu.
-Vamos lá dançar comigo.- o percebo que sua voz também está enrolada e ele parece tão bêbado quanto eu.
-Não, eu...- estou prestes a recusar o convite quando vejo Trevor passando pela porta da cozinha, ele me parece sóbrio e está lindo. Ele passa ao meu lado, mas nem parece me ver aqui. - Eu vou amar dançar com você.- falo rindo, tentando parecer sexy ou sei lá, nem sei mais o que estou fazendo. Minha tentativa idiota de parecer sedutora, parece ter chamado atenção de Trevor, mas antes que possa falar algo, Noah já está me puxando de volta para a pista.
-Você está cheirosa.- Noah fala ao me abraçar por trás para começarmos dançar. Deito minha cabeça no seu peito e quase agradeço pela sensação de contato. Termino de beber o líquido que tem dentro do copo que ele me entregou e me viro de frente para ele. Coloco meus braços ao redor do seu pescoço.- Eu tenho vontade de ficar com você desde o primeiro dia que eu te vi.
Não consigo responder nada à altura da sua declaração, mas dou um sorriso em agradecimento. Ele se aproxima e começa a dar beijos no meu pescoço e por um momento a imagem de Trevor andando só de calça jeans pela casa me vem na cabeça, talvez, eu possa aproveitar o momento e fingir que é ele.
-Vamos lá para cima.- ele sussurra em meu ouvido e eu devo estar muito bêbada pra não recusar de imediato. Estamos perto do primeiro degrau quando sinto alguém me puxar para trás, olho sem entender para o braço ao redor do meu antebraço até perceber quem é.
-Oi, lindo.- O que? Minha voz saiu enrolada e não consigo acreditar no que acabei de dizer. Ele não parece se importar com a forma que o chamei e vejo que sua atenção está voltada para Noah.
-Vem, vou levar você para casa.- Uma parte de mim quer tirar sua mão de meu braço e subir com Noah só para provocá-lo, mas a parte que me domina agora está mais do que feliz em ir com ele.
-Ei, mano. Ela tá comigo, onde você acha que vai levar ela?- ouço a voz grossa de Noah e vejo Trevor soltar meu braço. Tudo parece girar demais e preciso me esforçar para prestar atenção na cena.
- Não me chama de mano, filho da puta. Você acha mesmo que vou deixar você subir com ela chapada desse jeito? Você deve estar muito doente, cara.- Trevor parece enorme perto de Noah e está a pouco centímetros.- Se eu ver você perto dela de novo eu vou te socar até você esquecer seu nome.- ele fala tudo com a voz extremamente ameaçadora. Não posso deixar ele ameaçar o garoto assim.
-Trevor! Quem você pensa que é? Você não pode dizer o que eu tenho que fazer ou não.- o sentimento de raiva faz com que eu recupere um pouco da sobriedade.
-Fica quieta, Abby! Você vai subir e deixar esse cara te comer com você bêbada desse jeito?- ele grita por cima da música e percebo seus olhos brilharem de raiva.
-Se eu quiser, eu deixo.- é tudo que consigo responder antes dele me puxar pelo braço. -Para! Você não pode me tratar como uma criança, Trevor.- solto meu braço de seu aperto quando chegamos perto da porta.
-Onde está a sua bolsa?- ele pergunta ao abrir o armário que tem ao lado da porta para guardar casacos e bolsas.
-Não interessa. Não vou embora.- minha mente gira de novo e tento me equilibrar apoiando na parede.
-Achei.- Trevor sai com minha bolsa de dentro do armário e não consigo parar de pensar em como ele sabia qual era a minha bolsa. -Onde estão suas amigas?
- Eu não sei. Elas estão aproveitando a festa, assim como eu, antes de você aparecer.- me arrependo por ter sido tão grossa, mas odeio o fato dele achar que manda em mim.
Está muito frio do lado de fora e sinto meus dentes batendo uns nos outros. Coloco os braços ao redor do meu corpo numa tentativa de me esquentar. Trevor vem andando logo atrás de mim, consigo ouvir o barulho do seu tênis batendo no cascalho. Olho para trás e vejo que está digitando no meu celular. Esse é o problema de não colocar senha.
-O que você está fazendo?- pergunto ao parar para esperar ele chegar ao meu lado.
- Mandei mensagem para suas amigas avisando que você bebeu muito e estava querendo dar para um cara que mal conhece, então, vou te levar embora. Onde está seu carro?- ele pergunta e coloca o celular na minha bolsa. Com certeza o único cara que eu já vi que fica sexy até segurando uma Prada.
- Pra que você quer saber onde está meu carro?- essa pergunta soa idiota, mas não consigo pensar com clareza no momento.
-Por quê preciso dele pra te levar embora.- ele parece entediado e revira os olhos. Tropeço o pé em uma pedra e por reflexo me agarro em seu casaco.- Puta merda, Ab. Como que eu vou te deixar em casa desse jeito?
-Eu não sei. Mas você não vai dirigir meu carro.- exclamo com o pouco de consciência que me resta e dor no meu pé domina meus sentidos, fazendo meus olhos encherem de lágrimas.
-Como eu vou te levar embora, então? Eu não tenho um carro caso você tenha esquecido. Seu pé está doendo muito?- ele está me segurando pelos dois braços e não consigo olhar para ele sem me sentir uma idiota.-Vem, vou te ajudar a andar. Mas você precisa me mostrar onde estacionou o carro.
-Ali, atrás daquela árvore.- aponto para uma árvore enorme do outro lado da rua, de frente para o lago. Trevor coloca o braço ao redor da minha cintura e me ajuda a chegar até o outro lado.
-Eu até te pegaria no colo, mas não quero que você faça outra cena.- infelizmente quando ele diz isso nós já estamos ao lado do carro.
Enquanto ele parece entretido procurando a chave na minha bolsa e parando para olhar os objetos estranhos que acha dentro eu encosto a cabeça na lataria fria do carro e espero ele encontrar a chave. Assim que escuto o barulho do alarme sendo desligado, sinto suas mãos geladas encostarem na parte exposta da minha cintura. Por um momento eu quis acreditar que ele iria me virar de frente para ele e com sorte me beijar, mas ele só me puxa pro lado para poder abrir a porta do carona pra eu entrar.
O couro frio do banco me faz tremer e assim que ele entra pela porta do motorista, joga seu casaco pesado de couro em mim. Me aninho em seu casaco e agradeço por me sentir aquecida de novo.
-Coloca seu pé aqui. Deixa eu ver se machucou.- ele bate na própria coxa para mostrar onde eu devo por o pé. Estico a perna até ficar encima da sua e gemo de dor quando ele tira a bota de cano baixo.- Acho que você não torceu. Não está inchado.- ele fala baixo enquanto massageia meu tornozelo por cima da meia. Encosto minha cabeça no vidro e finalmente consigo gostar da sensação de estar bêbada.
-Não posso voltar para casa.- comento no momento em que ele da partida no carro.
-Como assim, não pode voltar?- sua voz parece tensa, mas não abro os olhos para ver sua feição.
-Caso você não saiba, nós estamos à duas horas da cidade. Eu não quero passar duas horas dentro desse carro com a cabeça girando desse jeito, e não vou deixar você dirigir meu carro por mais de vinte minutos. Vamos parar em algum hotel.
-E que hotel a madame pretende encontrar nesse fim de mundo?-Trevor pergunta com a voz carregada de deboche e eu me obrigo a abrir os olhos só para voltar a sentir raiva da risadinha superior que ele está dando.
-Eu não sei! Deve ter algum. Procura no GPS.
-Procura você!- ele retruca e tenho que controlar a vontade de bater sua cabeça contra o volante. Meu carro não tem culpa dele ser um idiota.
-Puta merda, Trevor! Será que nem no meu pior estado você consegue ser legal?- sinto meu estômago embrulhar quando ele muda o carro de pista.- Eu to muito enjoada.
-Ei, respira fundo.- Trevor coloca a mão sobre a perna que está encima do colo dele e me olha preocupado.- Tem um motel à seis minutos daqui. Vou parar lá pra gente dormir. Você toma um banho e um remédio.
-Tudo bem.- resmungo e volto escorar a cabeça contra o vidro gelado, tentando esquecer o toque quente da sua mão em minha perna fria.
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Desejo Imprudente
RomanceAbby Maquenzi teve a sorte de nascer em uma boa família, se relacionar com amigos incríveis e apoio de seu pai para tudo que quisesse. Mesmo assim, sua paixão por adrenalina, faz com que ela esconda segredos das pessoas ao seu redor. Tudo está abso...