1 | 8

1.1K 72 39
                                    

A luz do sol atravessa as minhas pálpebras e acaba me fazendo acordar, mesmo contra minha vontade. Praguejo baixo por ter esquecido de fechar as cortinas antes de dormir ontem à noite.
Na verdade, não me lembro de muita coisa quando cheguei no hotel, apenas de que joguei os sapatos para o lado, junto do meu terno, afrouxei a gravata e cai na cama. Eu estava embriagado. O engraçado é que não costumo beber muito, mas estar com a Babi naquele jantar me fez baixar um pouco a guarda, fiquei relaxado demais.
Resmungo, reclamando comigo mesmo pela imprudência e abro definitivamente os olhos. Talvez se minha vinícola descobrir um vinho que não dá ressaca no dia seguinte, poderemos nos tornar os mais ricos do planeta.
Levo a mão à cabeça e bocejo um pouco. Antes que eu possa me levantar para tomar um banho, meu celular toca. Impaciente, atendo no primeiro toque.

– O que é? – Respondo seco.
– Bom dia para você também, irmãozinho. – É Crusher, meu irmão.
– Por que você tá me ligando? Acabei de acordar.
– Acho que você caiu da cama quando acordou. Que humor de merda, hein.
– E quando eu tô bem humorado?
– Tem razão, acho que a última vez que você ficou bem humorado foi quando eu disse que tinha matado o mafioso russo.

Solto uma risada ácida. Realmente, aquele dia me deixou muito satisfeito. O desgraçado russo estava roubando minhas cargas de drogas e armas. Ao mata-lo, Crusher não só resolveu o problema, como ganhou a confiança do meu pai e a minha também. Digamos que eu não tinha muitos motivos para gostar dele, na época, mas acabei percebendo que poderíamos ser bons parceiros.

– Diga logo o que você quer, seu imprestável.
– Ei! Cala sua boca. – Crusher ri – Quem está fazendo o trabalho sujo aqui no Brasil sou eu.
– Nem é para tanto, você só precisa cuidar de um moleque em coma.
– Isso e tirar o bosta do PH da cola dele. Acha que é fácil mexer com o inimigo?

Fecho minha expressão no mesmo instante. Odeio quando o assunto se refere ao dono do Morro do Alemão, esse cara só tem me dado problemas.

– Eu liguei só para dizer que os médicos disseram que até o fim da semana GS vai acordar. – Crusher continua a falar, diante do meu silêncio.
– E os pais da Babi? – Pergunto, levantando e caminhando pelo quarto.
– Tô de olho neles, já tenho tudo pronto pra tirar eles daqui caso aconteça algo.
– A mãe do GS tá aonde?
– No hospital. A velha não sai daqui, a pressão está alta o tempo todo. É perigoso até sofrer um ataque cardíaco, que Deus a tenha!
– Se der merda, você tem que me avisar.
– Pode deixar, maninho.

Crusher desliga, sem se despedir e eu me encaminho para tomar um banho. Enquanto a água cai pelo meu corpo, penso em Bárbara. Graças a mim, a família dela está tendo alguma proteção contra o PH. Acho que se ela não tivesse feito esse contrato comigo, todos estariam mortos, inclusive ela. E de repente, sinto um incômodo no peito ao pensar nessa possibilidade.

Com isso na cabeça, me deixando intrigado sobre o motivo do incômodo, termino de ensaboar o cabelo. Esfrego meu corpo com um sabonete líquido perfumado que mandei deixar no meu banheiro. Minha cabeça agora leva Babi para outros lugares. O incômodo de pensar no seu mal-estar deu brecha para questionamentos sobre os motivos pelos quais ela está na minha cabeça que como as coisas que dizem respeito a ela me afetam.

Leves arrepios percorrem meu corpo quando me lembro do toque quente e vibrante na sua pele, no dia anterior, naquele provador da loja. A imagem do seu corpo bem modelo no tecido vermelho desfilando bem na minha frente, quando ela resolveu ir ao banheiro na festa, também me inquietam. Desejos sussurrantes provocam arrepios em mim, talvez essa seja a primeira fagulha ardente por Babi que surgiu em mim desde que a conheci. Sinto-me excitado.

Balanço minha cabeça. Tenho algumas coisas para resolver hoje e não posso perder tempo. Tiro todo o sabão do meu corpo embaixo do chuveiro e logo me enxugo. Dar atenção a esse pequeno desejo agora me atrasaria.

Saio do banheiro e troco de roupa. Porém, uma batida na porta me faz parar o que estou fazendo. Olho pelo olho mágico e noto que é ela, minha noiva por contrato e fonte de desejo segundos atrás, parada defronte a porta, segurando uma tigela de porcelana com uma sopa estranha.

Abro a porta, deixando-a entrar.

– Bom dia. Você está ocupado? – Ela pergunta, caminhando devagar.

– Não, na verdade acordei a pouco tempo.

Babi sorri e balança os ombros levemente. Percebo que ela costuma fazer isso quando concorda com algo.

– Não queria atrapalhar você, só trouxe uma sopa para curar a sua escassa. Imagino que você não acordou bem depois de tantas taças de vinho ontem.

Ela coloca a tigela na mesa redonda, colocada ali no canto do quarto justamente para refeições, e se acomoda em uma cadeira. Babi dá palmadinhas no assento ao seu lado, como um convite para que eu me sente também.
– E por que essa bondade toda comigo? – Pergunto, desconfiado.

– Não precisa de motivos para eu querer te ajudar. – Babi retira a colher do guardanapo e enfia na sopa fumegante – Quando as pessoas querem ajudar os outros, elas não procuram motivos, apenas fazem.

Babi balança os ombros e me encara de novo. Estou surpreso com essa atitude dela. Mesmo sem me conhecer direito, fez algo porque se importa com o meu bem-estar. Eu nunca tinha visto isso. Quero dizer, geralmente as pessoas que fazem parte da minha vida não demonstram absolutamente nenhuma preocupação comigo, até desconfio (ou tenho certeza) que algumas delas desejam minha morte.

Sento-me na cadeira que Babi indicou e lhe encaro por um tempo, intrigado.

– Você é muito madura para uma jovem de dezoito anos. – Comento, abrindo o guardanapo sobre meu colo.
– E você é muito rico para um jovem de vinte e três anos.
Babi ri e eu sinto uma leve sensação de espasmos subir pelo meu corpo. Sinto meu corpo se arrepiar apenas por vê-la assim, próxima a mim. Por quê?
– Se a sua máfia estiver aceitando currículos, por favor me avise, preciso arrumar um emprego. – Ela continua a falar, brincando.
– Você não iria querer trabalhar para nós...

Babi me olha como se tentasse decifrar se falei isso em tom de gozação ou de seriedade. Apesar disso, ela não me pergunta nada, o que me faz perceber que, quando o assunto é a Máfia, ela se abstém de comentários. Acho que Babi tem medo de descobrir o que fazemos de verdade e nem posso julgá-la. Tem momentos que até eu me assombro com as coisas que fazemos. Nenhuma sanidade mental é capaz de resistir a brutalidade do escárnio.

Procuro na mente algum outro assunto que possamos falar além disso. Encaro a sopa e vejo que ela é a mais diferente que já vi na minha vida. O caldo meio aguado não é tão grosso e há alguns legumes dentro que não consigo reconhecer de imediato.

– Essa sopa é de quê?
– De broto de feijão. – Babi cruza as mãos em cima da mesa – Vi em uma série coreana que essa sopa tira ressaca.
– Você assiste essas séries?
– Claro, são ótimas para passar o tempo.

Solto um risinho e coloco uma colher da sopa na boca. É horrível, mas vou continuar comendo por educação. Enquanto termino a refeição, Babi mexe no celular, e eu fico pensando sobre aonde ela conseguiu essa comida coreana. Nesse hotel, pelo menos, não tem isso no cardápio.

– Que bom que você veio. – Eu digo, atraindo a atenção de Babi para mim. Ela fica confusa e inquieta. Percebo que minha frase soou de uma forma diferente da que eu gostaria, então me apressou em concluir a fala – Quer dizer, que bom que você veio, porque eu já iria mesmo ao seu quarto para te falar sobre as aulas de italiano e defesa pessoal.
– Ah sim. – Ela concorda – Eu vou ter que ir a algum lugar ou os professores virão até aqui no hotel?
– Na verdade, quem vai te ensinar sou eu.
– Como?
Babi me olha meio surpresa. Não consigo decifrar, porém, se em seus olhos há irritação.
– Não tem ninguém melhor para te ensinar defesa pessoal que eu e sou italiano, então, saberei o que te ensinar quanto ao idioma. – Digo, esquadrinhando seu rosto.
– Mas você vai ter tempo? Os assuntos da máfia não vão te deixar ocupado?
– Na verdade, ando com bastante tempo livre, e treinar você faz parte do meu trabalho, você é uma peça fundamental para eu assumir meu cargo.

Babi me olha, séria. Estranhamente parece que minha fala a deixou incomodada. E eu daria tudo para saber o que se passa na sua cabeça agora, porque a forma como ela agiu foi tão inesperada. Diferente de qualquer mulher que já conheci, Babi costuma quebrar expectativas. Jamais posso prever como ela reagirá diante das coisas que faço e falo.

– Quando vamos começar? – Ela cruza os braços.
– Hoje, se quiser. Pensei em começarmos com a defesa pessoal.
– Então tudo bem. Sendo assim, vou para o meu quarto me arrumar para a aula. Acho que o mais apropriado seria usar roupas de ginástica, certo?
Babi mal espera minha resposta, antes, se retira da mesa e sai, fechando a porta do quarto mais rápido que o normal. Olho para o caminho que ela traçou e dou de ombros. Realmente, ela é imprevisível e isso me deixa bastante curioso.

[...]



Irrruuuu! Agora o negócio vai ficar bom

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Irrruuuu! Agora o negócio vai ficar bom. 🤭

Eu só quero agradecer a vocês pelos quase 500 vizu. Amo demais vocês, são incríveis ❤

Se você tá gostando dessa fic compartilhar com seus amigos, eu ficarei muito grata.

Beijinhos e até o capítulo de amanhã! 😘 (a partir do próximo cap já teremos outros personagens narrando)

Um Mafioso para Amar | BABICTOROnde histórias criam vida. Descubra agora